‘Caso Guaxupé’: como Goiás conteve o Novo Cangaço

08 abril 2025 às 12h37

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O Brasil amanheceu com mais uma edição do “Novo Cangaço” nesta terça-feira, 8. Na cidade de Guaxupé, Minas Gerais, um grupo fortemente armado disparou contra um quartel da Polícia Militar, uma base da Guarda Municipal e explodiu uma agência da Caixa durante a madrugada. Ainda não há informações sobre valores roubados e números de vítimas. O governo do estado, por meio da 18ª Região de Polícia Militar, comunicou à imprensa que o Comando de Missões Especiais e o Comando de Aviação do Estado buscam os responsáveis.
A modalidade de ataque “Novo Cangaço”, em que criminosos tomam toda uma cidade para roubar grandes valores, está em alta já há pelo menos dez anos. Um estudo do Banco Central publicado em maio de 2023 analisou 1.396 explosões de bancos em 775 municípios de 15 Estados brasileiros entre 2018 e 2021. Uma das consequências da violência foi a ampliação do uso do pix pelos brasileiros e o fechamento de 4.903 agências bancárias entre 2016 e 2021, uma redução de 22% do total.
Levantamentos do UOL mostram que de 2015 a 2020, foram R$ 500 milhões roubados pelo novo cangaço. O ano com maior alta nesse estilo de crime foi 2021: apenas um bando, no Nordeste, levou R$ 800 mil de duas agências bancárias em ações planejadas ao longo de 30 dias (R$ 600 mil foram recuperados posteriormente pela polícia). A partir de então, o neocangaço começa a diminuir no país; em Goiás, a diminuição já tinha se iniciado três anos antes.
Uma reportagem do Correio Braziliense de 2023 mostrou como grupos que tentam avançar por regiões goianas esbarraram nas forças de segurança. “O governo de Goiás contabilizou, de 2016 a 2018, 22 crimes do novo cangaço no Estado. A partir de 2019, o delito desapareceu do mapa goiano. Naquele mesmo ano, as forças de segurança desencadearam 13 operações para desarticular quadrilhas especializadas nas cidades de Anápolis, Bela Vista, Carmo do Rio Verde, Itaberaí, Goiânia, Goianira, Luziânia, Minaçu, Pires do Rio, Vianópolis e até Uberlândia, no interior de Minas Gerais.”
O segredo: inteligência. Em 2023, o capitão Gabriel Moreira, supervisor operacional do Comando de Operações de Divisas da Polícia Militar do Estado de Goiás (COD/PMGO) explicou ao Correio como atuava o COD, grupo dedicado a combater ações criminosas de maior potencial ofensivo. Monitoramento da malha viária, acompanhamento de ocorrências fora de Goiás, investigações para rastrear material apreendido.
Em nível nacional, desarticular grupos que planejam longamente ações cinematográficas depende da mesma receita. O modelo que derrubou 75% dos crimes contra o patrimônio de 2018 a 2021 (redução quatro vezes maior que a média nacional) se inicia com o compartilhamento de informações entre as forças. O que se tem visto, entretanto, vai na contramão deste princípio: no dia 27 de fevereiro, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) cancelou todos os acordos de cooperação técnica com os Ministérios Públicos estaduais e com a Polícia Federal (PF).
O governo federal apresenta poucas e questionáveis propostas para a segurança pública. O próprio discurso do presidente Lula da Silva (PT) parece em descompasso com o tamanho do problema no Brasil. “Não vamos permitir a República de ladrão de celular”, disse o presidente durante cerimônia de inauguração do Hospital Universitário do Ceará, em 19 de março.
A segurança é a maior demanda do brasileiro, que sente que o roubo do celular é a menor das pedras em seu sapato. Em muitas capitais, boa parte da população vive em área dominada pelo crime organizado. Nas cidades menores, o novo cangaço domina a polícia com armamento superior. Esse é o motivo da sensação de insegurança. A solução já é conhecida.