Você vai à loja e compra o que considera uma deliciosa sobremesa para a família. Momentos depois, você e seus parentes começam a passar mal e o resultado, ao fim de poucas horas, é uma tragédia. O caso é tristemente real e ocorreu no último fim de semana, em Goiânia.

Obviamente, há uma alta suspeita de que a novidade do cardápio seja a chave para o desfecho mórbido. O que teria, de fato, acontecido é uma apuração que cabe à polícia civil e científica. Enquanto isso, porém, boatos e suposições causam insegurança para consumidores e um dano enorme na marca, uma grife de renome na capital goiana.

Mas a notícia faz mais do que isso: traz uma espécie de “insight” às pessoas. Elas “percebem” que o que se come nem sempre é seguro. A guloseima na padaria, o churrasco no restaurante, o marmitex do almoço ou o jantar na adega chique da cidade. Dependendo do grau de paranoia, a sensação de insegurança toma conta e o pânico vira algo iminente. O jeito, então, é não comer mais nada que não se veja como está sendo feito?

Em situações atípicas assim, descobre-se o básico que está aí, mas ninguém quer se atentar: a vida é frágil demais e nada está sob controle, por mais que se ache o contrário.

Se parece ser assim quando se compra um doce, também é assim quando se pega uma estrada para viajar ou um avião para as férias no outro continente. Ou mesmo o banal elevador para acessar o andar da firma.

E aqui nem se fala nas falhas de caráter material, mas nas falhas do caráter humano. Será que todos os motoristas do caminho serão tão prudentes quanto eu? Será que o piloto está em boas condições emocionais? Será que o homem que fez a manutenção do elevador verificou tudo “de verdade”?

No fim, em todos os passos, existe um contrato que assinamos em cada uma dessas situações e do qual o único avalista é a própria fé dos que o encaram.

A boa notícia é que, durante toda a vida, há uma esmagadora maioria de gente honrando esse acordo não escrito, algo que beira os 100%. Seja um motorista, um piloto, um técnico de segurança, um médico, um cientista, um cozinheiro. Todos, quase sempre, estão dispostos a fazer seu melhor.

Por isso, quando vier a paranoia sobre comer ou não comer, viajar ou não viajar, passar pela cirurgia ou evitá-la, é preciso ir um pouco mais além e entender: a vida tem esses riscos, sempre os teve, e chegamos até aqui. Como chegamos? Pela “fé” no cumprimento desse contrato por parte de todos.

O contrário disso deveria ser ainda mais aterrorizante: é optar por não viver.