Pesquisa realizada em 30 países e divulgada na terça-feira, 12, revela que os jovens são os mais propensos a colocar em dúvida a capacidade dos regimes democráticos de preencherem as necessidades fundamentais da população. Isso faz aumentar a desconfiança nos méritos da democracia como forma de governo. Entre as pessoas de 18 a 35 anos, a preferência pela democracia é de apenas 57%, contra 71% dos entrevistados com idades acima de 56 anos. No total, 42% dos mais jovens disseram apoiar regimes militares, contra apenas 20% dos mais velhos. Dentre os países analisados estão: Brasil, França, Índia, África do Sul, Estados Unidos, e outros.

Esse relatório da Open Society Foundations afirma ainda que na França e no Brasil – duas democracias que no ano passado viveram concorridas eleições presidenciais entre moderados e autoritários – a aderência à democracia como ideal aparece ao lado de um alarmante pessimismo sobre seu atual funcionamento. O dado é preocupante exatamente porque parece ser cada vez mais difícil “politizar” os jovens, já que a política clássica há muito tempo deixou de interessá-los. Por conta disso, a confiança nos elementos fundamentais da democracia acabam coexistindo com dúvidas profundas sobre suas práticas e seu impacto no mundo real. No final, a impressão que dá e de que os jovens oscilam entre a indiferença e a rejeição ao sistema.

Mas, isso é apenas impressão, porque olhando com mais cuidado o estudo mostra que a preocupação deles – e da maioria dos entrevistados – é ampla: crise climática, fome, desigualdade e segurança. Desta forma, o descompasso e desencantamento com a democracia e com a política talvez seja o simples fato de que os governos teimam em não olhar para esses assuntos.

A política atual envelheceu junto com as estampas do Che Guevara nas camisetas dos jovens da década de 80. Os jovens de hoje exaltam os ídolos do mundo da Internet e se possível usam roupas sem estampa ou com alguma frase engraçada. O fato é que a juventude sempre esteve à frente dos movimentos que abriam caminhos novos. Se no passado atuavam sob as ordens das instituições políticas, sindicais, religiosas ou militares, hoje eles vão por conta própria. São líderes de si mesmos e talvez não exista lugar para a política tradicional nesse desejo de autorrealização. Podem até nos parecer niilistas quando vistos sob a ótica do maio francês de 1968 e das primaveras revolucionárias, afinal existe a propensão natural de projetarmos a conversa para um tempo que não é nosso.

No tempo atual, a juventude está preocupada com aspectos globais. A pesquisa mostra que eles apoiam fortemente os direitos humanos. A ampla maioria dos entrevistados em todas as regiões e níveis de renda (entre 85% e 95%) concorda que os governos erram ao violarem direitos individuais com base em aparência física, religião, gênero ou orientação sexual.

Além disso, em torno de 70% das pessoas pesquisadas se preocupam que a crise climática possa afetar suas vidas no próximo ano. A crise do clima foi avaliada como o desafio mais significativo a ser enfrentado pela humanidade por 32% das pessoas na Índia e na Itália, seguidas da Alemanha (28%), Egito (27%), México (27%), França (25%) e Bangladesh (25%).

A OSF entrevistou 36.344 indivíduos com idades acima dos 18 anos em 30 países, com representação coletiva de 5,5 bilhões de pessoas. A entidade afirma que o objetivo era pesquisar em torno de mil pessoas por país, mas esses números apresentaram variações em razão de fatores locais.

Para além de qualquer suposto conflito geracional, e sabendo que a maioria ainda acredita na democracia – 58% na faixa etária analisada – parece ser chegado o momento de olhar as questões políticas de forma mais ampla a fim de conquistar essa parcela “desiludida”. É preciso que a política deixe de ser um jogo palaciano que nada diz sobre os problemas concretos das pessoas. Mas, isso são hipóteses, afinal como já dizia Oscar Wilde: “não sou jovem o suficiente para saber tudo”.