A Câmara dos Deputados aprovou, na terça-feira, 28, o retorno da gratuidade no despacho de bagagem: uma mala de até 23 quilos em voos domésticos, além da possibilidade de 12 quilos de bagagem de mão em voos nacionais. O texto segue agora para o Senado.

Toda essa movimentação começou depois que a Latam decidiu, e a Gol já vinha no mesmo caminho, cobrar pela mala de bordo de 10 quilos, contrariando a Resolução nº 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), em vigor desde 2016, que garante ao passageiro o direito de levar gratuitamente uma bagagem de mão com os tais 10 quilos. 

Foi a gota d’água. A reação veio rápido: o Congresso, de repente, pareceu descobrir o peso do problema.

E não é que os deputados resolveram dançar conforme a mala? 

O Congresso brasileiro, sempre tão ocupado com emendas, PECs e redutos eleitorais, resolveu discutir… bagagem. Inacreditável. 

Mas é verdade.

Em 2022, os parlamentares já haviam aprovado uma proposta semelhante — que garantia a gratuidade de 23 quilos, mas o texto foi vetado pelo presidente da República da época.

Agora, o projeto volta à pauta, embalado por uma indignação que, curiosamente, uniu governo e oposição. Afinal, o brasileiro está cansado de pagar por tudo: comida a bordo, assento marcado, bagagem despachada… 

E ainda há quem jure que, em breve, viajaremos em pé, como num ônibus de aeroporto. Pois bem: a piada virou pauta de lei.

No baile das malas, cada passageiro dança conforme a tarifa: o Basic sem direito a nada, o Plus com uma mala, o Top com duas. Tudo medido, pesado, tarifado. Desta vez, porém, o baile mudou de salão do aeroporto para o plenário.

E lá estão eles, de terno e gravata, debatendo com fervor o peso das malas. Talvez porque, no fundo, eles também viajam. E sabem o que é enfrentar o check-in com uma mala pesada e uma consciência leve.

Enquanto isso, as companhias aéreas calculam o prejuízo e os passageiros comemoram, ainda que com desconfiança. Se o Senado vai aprovar, ninguém sabe. Mas, por enquanto, a gratuidade das malas ganhou nova chance de embarque.

No carrossel dos aeroportos, as malas seguem girando junto com o Brasil. Entre esperança e tarifa, ironia e improviso.

E, como sempre, o passageiro continua pagando excesso de bagagem para continuar sonhando.

*Ycarim Melgaço é doutor em Ciências Humanas, pós-Doutor em Economia e Gestão de Organizações. É colaborador do Jornal Opção.