Resultado do Pisa gerou “crise” em Portugal, mas não no Brasil. Por que será?

07 janeiro 2024 às 00h01

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Aveiro, Portugal — O mês de dezembro que se encerrou — e com ele o ano de 2023 — deixou notícias ruins para a sociedade brasileira correta e cumpridora de seus deveres. Em dois setores de importância básica para a sociedade — Educação e Segurança — números divulgados por organismos internacionais mais uma vez nos envergonham. E a nomeação da espanhola Nadia Calviño para a presidência um organismo internacional na Europa, o Banco Europeu de Investimento (BEI), fatalmente nos chama a uma — desvantajosa para nós — comparação.
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Educação e o Pisa
Não há hoje instrumento mais acreditado na avaliação do aprendizado jovem do que o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Programme for International Student Assesment, no original). O Pisa, desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aplicado a cada três anos desde o ano 2000, avalia o aprendizado de jovens até o nono ano de ensino (teoricamente até os 15 anos de idade) ao redor do mundo. Leitura, Matemática e Ciências são os temas de aprendizado abordados, e o número de países participantes está hoje em torno de 80.
O Brasil está sempre nos últimos lugares entre os países avaliados, o que significa que os rumos de nossa educação básica, de 2000 para cá pelo menos, pedem mudança profunda.

Os resultados do último Pisa, aplicados em 2022 e publicados em dezembro passado, mostram que continuamos nas últimas posições. E o Programa chama nossa atenção para um detalhe: ao longo do ano letivo, metade dos jovens brasileiros não lê mais que 10 páginas. E menos que 10% deles lê mais de 100 páginas.
Mesmo a destroçada Argentina de hoje está melhor que o Brasil: apenas um quarto dos jovens do país lê anualmente menos que 10 páginas e igual porcentagem lê mais de 100.
No Chile apenas 11% dos jovens estudantes lê menos que 10 páginas e 64% lê mais de 100.
Mal comparando, o jovem argentino está duas vezes melhor que o estudante brasileiro, em leitura, e o chileno cinco vezes melhor.
Se compararmos o Brasil com os países de educação mais aprimorada, como Canadá ou Finlândia, as coisas se complicam para nosso lado: ali, apenas 10% dos jovens lê menos de 10 páginas por ano e cerca de 70% deles lê mais de 100 páginas.
Escrevo de Portugal, onde as autoridades de ensino estão indignadas com a queda dos resultados dos exames do último Pisa para o presente.
As notas portuguesas médias foram 472 em Matemática (em 2018 era 492), 477 em Leitura (em 2018 era 492) e 458 em Ciências (era também 492 em 2018). Efeito do malfadado lockdown, medida apressada e errada aplicada durante a pandemia.
Mas, com tudo isso, ficamos em 2022 bem abaixo dos portugueses: 379 em Matemática, 410 em Leitura e 403 em Ciências. Simplesmente lamentável, e sem sombra de providências a serem tomadas por quem de direito. Descaso ou conveniência? A quem interessa uma sociedade incapaz de bem se informar e de fazer bem suas escolhas, políticas principalmente?
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Segurança pública e drogas
Outra má notícia, referente à Segurança Pública, vem da ONU, mais precisamente da United Nations Office on Drugs and Crime (Unodoc), ou Gabinete da ONU para Drogas e Crime, criado em 1997, primordialmente para acompanhamento do tráfico de drogas e crimes correlatos.
O relatório da Unodoc quanto a assassinatos em 2022 mostra que nas Américas estão os países mais violentos do mundo. Bahamas, Honduras e Jamaica ostentam uma taxa de assassinatos anuais por 100 mil habitantes acima de 30; Belize, Brasil, Colômbia, Equador e México, entre 20 e 30 assassinatos por 100 mil habitantes/ano.

Todos esses países têm forte presença do tráfico, e qualquer autoridade policial brasileira sabe que, sem o tráfico, a criminalidade cairia substancialmente.
A Unodoc mostra alguns dados que devem ser anotados: no Brasil, a taxa de assassinatos em 2017 era de 31. Caiu para 21 em 2021, na época em que mais liberada era a comercialização de armas para a população ordeira, o que contrariou a gritaria “progressista” que prega o desarmamento legal, mas descura do armamento do tráfico.
A lição mais expressiva vem de El Salvador. O país tinha de longe a maior criminalidade das Américas em 2016, com mais de 80 assassinatos por 100 mil habitantes ano. Essa taxa, em 2022 havia caído mais de 90%, para 7,83. Segredo? Não. Resultado da tolerância zero, de polícia dura, severidade nas penas e encarceramento, aplicadas pelo atual presidente Nayib Bukele, cuja política de Segurança adota medidas exatamente opostas às que os governos brasileiros de esquerda vêm adotando.
Não podemos desprezar o fato geográfico de estarmos cercados pelos grandes produtores de drogas, nem o fato logístico de sermos território de passagem dessa droga para os grandes centros consumidores da Europa, da Central e da Norte-América. E ainda termos que lidar com a leniência quando não proximidade dos poderes constituídos com o tráfico. A insegurança, em cidades como Rio e São Paulo, já passou do tolerável.
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Nadia Calviño e Dilma Rousseff
A terceira notícia, a da nomeação da economista espanhola Nadia Calviño para a presidência do Banco Europeu de Investimentos, não é propriamente uma má notícia. Aliás, soou muito bem na Comunidade Europeia.
Nadia Calviño, hoje com 55 anos, formou-se em Economia aos 23 anos, e logo após em Direito. É uma técnica de renome, tendo ocupado por mais de uma década cargos importantes no Ministério da Economia da Espanha e se transferido depois para a Comissão Europeia, onde dirigiu organismos financeiros importantes como os escritórios europeus de Concorrência e de Orçamento. É, além disso, professora da Universidad Complutense de Madrid.
A economista ocupava, no momento do convite para presidir o Banco, o cargo de vice-presidente do governo espanhol. Invejável currículo.
O que nos deixa tristes é a comparação com a indicação feita pelo presidente Lula da Silva para a presidência do NBD ou Banco dos BRICS. Nossa ex-presidente Dilma Rousseff formou-se em Economia, é verdade, mas só o conseguiu, como estudante profissional que foi, envolvida mais com política do que com estudos, aos 40 anos.
Dilma Rousseff nunca se destacou na profissão, nunca escreveu um artigo técnico, nunca demonstrou competência profissional. Faliu quando se meteu a empresária, nunca se destacou na carreira pública e foi apeada da Presidência à qual chegou por influência lulista justamente pelo desastre econômico que provocou.
Famosa pela dificuldade de raciocínio, como Dilma Rousseff estará se comportando em uma alta função, muito mais alta que suas capacidades? A comparação das duas indicações, a de Nádia Calviño para o BEI e a de Dilma Rousseff para o NBD é, sim, uma tristeza para os brasileiros.
E com tudo isso, não é que Dilma Rousseff, de maneira inqualificável, mas ofensiva a todas as economistas brasileiras inteligentes, foi escolhida “mulher economista de 2023” pelo agora hilário Conselho Federal de Economia?