A cúpula dos Aliados na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) reuniu-se três vezes: uma em Teerã (Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt, Ióssif Stálin), em novembro de 1943; outra em Yalta, na Criméia (Churchill, Stálin, Roosevelt), em fevereiro de 1945, e a terceira em Potsdam (Churchill, depois Clement Attlee, Stálin, Harry Truman) em julho de 1945.

Na primeira, a guerra estava a pleno vapor, embora já tivesse a ofensiva passado para os Aliados. Na segunda, a Alemanha, embora exaurida e já virtualmente derrotada, ainda lutava. Na terceira, ela já havia se rendido. Roosevelt havia falecido, sendo Harry Truman o presidente dos EUA, e Churchill, derrotado nas urnas, teve que ceder, em meio à conferência, o cargo de primeiro-ministro da Inglaterra ao trabalhista Clement Attlee.

Dessas conferências, veio novo desenho do mundo, que perdurou por 50 anos, a maioria dos quais sob a tensão da Guerra Fria. Delas dependeu o destino de milhões de pessoas, que consumiram toda sua existência privadas de liberdade, atrás da Cortina de Ferro.

Debitem-se esses fatos à ambição desmesurada de Stálin, e à sua crueldade natural. Mas também, não se pode negar, devem-se à fraqueza de Roosevelt, à sua falta de capacidade de se opor aos caprichos do “Czar Vermelho”, além da falta de coragem para cobrar dele promessas não cumpridas. Coisa, aliás, já sabida e comentada enquanto a guerra caminhava para seu final. Essa debilidade espiritual, essa fraqueza de vontade de Roosevelt perante a determinação de Stálin não aparece em sua hagiografia, escrita por Roy Jenkins.

Pode-se dizer, sem medo de erro, que o Leste Europeu foi entregue na bandeja aos comunistas, ao arrepio de sua população, que viria a experimentar todos os tipos de sofrimento sob o regime marxista. Tratava-se, em muitos casos, de nações altamente desenvolvidas, muito acima, cultural e tecnologicamente, da Rússia soviética, que passaria a mandá-las, com toda a dureza e ignorância do regime. Não admira a derrocada do mundo comunista com a queda do Muro de Berlim, em 1989.

Teerã: Operação Salto a Distância

Um dos acontecimentos mais obscuros da Segunda Guerra, sobre o qual até hoje poucas luzes se lançaram, diz respeito à primeira dessas três reuniões de cúpula: a de Teerã. Uma operação, sobre a qual, provavelmente nunca se saberá muito, dado o tempo passado: a operação que os alemães batizaram como Unternehmem Weisprung, ou Operação Salto a Distância. Apesar do gigantesco envolvimento dos serviços de espionagem de todos os grandes países em guerra, e do consequente deslocamento de comandos especiais da Alemanha, da Inglaterra, dos EUA e da União Soviética para Teerã, é um episódio pouco divulgado.

Um ex-espião e jornalista francês, de ascendência húngara, Laslo Havas, escreveu um livro a respeito (“Assassinat au Sommet”), que foi traduzido para o português como “Atentado a Alto Nível”. Editado em 1969 pela Editora Ibis, de Portugal, ainda é encontrado nos sebos.

Os serviços secretos alemães vinham interceptando mensagens indicando que os três maiorais aliados planejavam um encontro pessoal. Foi o célebre espião alemão em Ankara, codinome Cícero (o nome real era Elyeza Bazna), mordomo do embaixador britânico na Turquia, quem arrematou as informações: havia descoberto o local (Teerã) e a data (fins de novembro de 1943). Cícero só não informou, pois ninguém sabia, que Roosevelt engolira local e data impostos por Stálin, e haveria ainda de se hospedar na embaixada soviética, cedendo mais uma vez ao ditador.

Desnecessário dizer que microfones estavam ocultos em todos os cantos possíveis, e cada conversa entre o presidente americano e seus auxiliares era imediatamente gravada, traduzida e entregue ao ditador georgiano. Os aliados pouco confiavam uns nos outros. A descoberta da reunião despertou nos nazistas o desejo de um atentado a bomba, que liquidasse os três chefes e mudasse (acreditavam eles) o rumo da guerra, já desfavorável ao Eixo. Teerã já era um centro de espionagem, dado a importância estratégica do Golfo Pérsico. As nações em guerra dispunham de suas redes, que se contentavam dos trabalhos de rotina. Evidentemente, prisões de espiões mais incompetentes e execuções dos mais perigosos ocorriam com frequência. Afinal, era a guerra.

A notícia da reunião movimentou todo o alto escalão da espionagem nazista: Himmler, Canaris, Kaltenbrunner, Schellenberg.

O nazista Otto Skorzeny entra na parada

Otto Skorzeny e Adolf Hitler: homem de confiança do ditador | Foto: Reprodução

Os planos previam a entrega da operação ao mais famoso chefe dos comandos nazistas, o austríaco Otto Skorzeny. Afinal, ele já desempenhara algumas “missões impossíveis”. Libertara Mussolini, deposto e preso na Itália, e sequestrara o filho do regente húngaro Horthy, para obrigá-lo a permanecer ao lado dos alemães no final da guerra. Parênteses: Skorzeny conseguiu sobreviver à guerra, esteve na Argentina, onde prestou serviços a Perón — falam num suposto romance seu com Evita — e viveu na Espanha até a morte.

Paraquedistas alemães e russos, estes fornecidos pelo general cossaco Vlassov, que se passara para os nazistas, foram lançados nas proximidades de Teerã, para preparação da chegada de Skorzeny.

Entretanto, os serviços secretos aliados não estavam de braços cruzados, e agiram com presteza. Mas foram os russos que fizeram abortar a operação: Nikolai Kuznetsov era um espião russo que trafegava entre os alemães de Teerã com facilidade: adotara a identidade de um oficial alemão morto na Ucrânia, Wilhelm Siebert. Suas informações foram levadas ao coronel Andrei Vertinski, o residente soviético (Vertinski na realidade seria o célebre coronel Gevork Vertanian, herói da URSS, recentemente falecido), que prendeu os paraquedistas e os que não eram paraquedistas mas pareciam ser, e ainda os que ele por segurança levou como margem.

Muitos foram executados e outros mandados para Moscou. Apenas seis comandos não foram capturados e Skorzeny pretendia tentar a missão com eles. Desistiu quando eles informaram Berlim de que estavam sendo seguidos.