Brasil é um dos países que melhor recuperam seus infectados. A mortalidade é de 2,5% dos contagiados, número melhor que os da Itália e Espanha. Mas, em termos de número de mortes por Covid por 100.000 habitantes, o Brasil fica atrás só Bélgica e da Espanha
De Aveiro, Portugal — Por certo, o leitor já terá conhecido uma ou outra notícia afirmando que há casos em que uma morte atribuída ao coronavírus foi contestada, seja por um familiar do falecido, seja por alguém de uma equipe médica, um jornalista ou um simples curioso. Existirá algo de sólido, de palpável, nessas afirmações? Há um “superfaturamento” nas estatísticas de mortes causadas pelo Covid-19? Vamos fazer alguns raciocínios, em benefício da compreensão do leitor e de sua capacidade de responder à questão proposta.
Há, principalmente nos países mais novos como o Brasil, um crescimento populacional mais ou menos linear, que permite prever hoje — conhecida uma série histórica com o número de habitantes existente ano a ano — qual será nossa população nos anos vindouros. Um matemático (ou estatístico) dirá facilmente, e com muito razoável precisão, a população do Brasil no ano 2030, se conhecer, por exemplo, como evoluiu essa população entre 2000 e 2020. O mesmo raciocínio vale para o número de mortes. O obituário segue o número de habitantes, é uma fração da população, segue uma distribuição mais ou menos linear ao longo dos anos, o que torna bastante fácil e preciso calcular, por exemplo, quantas mortes teremos no Brasil em 2030, se soubermos quantos faleceram, ano a ano, nos anos passados. Os demógrafos fazem esses cálculos com bastante facilidade, dispondo mesmo de regras matemáticas simples para tanto. Esses cálculos são bastante válidos, evidentemente, desde que não existam fatos extraordinários, como guerras ou epidemias. Dito isso, vamos tentar responder à pergunta feita no início deste artigo: as estatísticas de mortes pela pandemia do coronavírus no Brasil são reais?

Coronavírus | Foto: Reprodução
Vamos tomar um mês do presente ano, 2020, quando a pandemia já estava instalada no Brasil, como base de nosso raciocínio. O mês de maio, por exemplo. O Brasil não é um país rico em estatísticas, mas o chamado Portal da Transparência nos fornece números relativamente confiáveis dos óbitos nacionais, pois são colhidos nos cartórios de Registro Civil.
Segundo esses dados, tivemos:
Em maio de 2.015 — 76.193 óbitos no Brasil
Em maio de 2.016 — 86.284
Em maio de 2.017 — 94.211
Em maio de 2.018 — 103.869
Em maio de 2.019 — 111.554
Se imaginássemos não existir a Covid-19, seria fácil calcular o número de mortes em maio de 2.020, simplesmente prolongando a curva de falecimentos e chegaríamos ao número de 120.914 mortes. Mas é de se esperar que, pela doença, esse número seja maior. De fato é: o Portal da Transparência dá o número de óbitos no Brasil para maio de 2020: 131.169.
Logo:
Óbitos esperados em maio de 2.020, na normalidade: 120.914
Óbitos totais verificados, com a presença do Covid: 131.169
Diferença (que poderíamos atribuir à pandemia): 10.255
Ocorre que o mesmo Portal da Transparência dá para maio de 2020, como mortes por Covid, um total de 28.116 óbitos.
Ou seja, quase três vezes mais do que seria, logicamente, de se esperar. Como a experiência tomando apenas um mês pode induzir a erro, repitamos a mesma para os meses de junho, julho, agosto e setembro (meses do auge da pandemia em nossas terras).
Os resultados são:
Óbitos esperados em junho de 2.020, na normalidade: 113.712
Óbitos verificados, com a presença do Covid: 133.572
Óbitos que seriam naturalmente atribuídos ao Covid: 19.860
Óbidos registrados como Covid: 26.581
Óbitos esperados em julho de 2.020, na normalidade: 129.027
Óbitos verificados, com a presença do Covid: 138.107
Óbitos que seriam naturalmente atribuídos ao Covid: 9.080
Óbidos registrados como Covid: 29.044
Óbitos esperados em agosto de 2.020, na normalidade: 120.736
Óbitos verificados, com a presença do Covid: 129.344
Óbitos que seriam naturalmente atribuídos ao Covid: 8.608
Óbidos registrados como Covid: 25.925
Óbitos esperados em set/2020, na normalidade: 110.221
Óbitos verificados, com a presença do Covid: 121.775
Óbitos que seriam naturalmente atribuídos ao Covid: 11.554
Óbidos registrados como Covid: 18.507
Em resumo: de maio a setembro deste ano, uma lógica elementar indicaria que tivemos um total de 59.357 mortes causadas diretamente pela Covid-19 (o que, obviamente, não é pouco). Mas surge nos registros cartorários um número muito superior: 128.533 de mortes pelo vírus. Mais que o dobro, na realidade. É mais que evidente a soberania do leitor para fazer seu juízo, à luz destes cálculos bastante simples e referentes a um problema bastante complexo.
No meu pensar, houve exageros no atribuir à Covid tantas mortes. Acredito que muitos doentes morreram com Covid e não por Covid, mas em seus atestados de óbito consta o vírus como causa.
Em outros casos, e muitas notícias vimos nessa direção, a mera suspeita da presença do vírus num caso de morte era suficiente para classificá-la como decorrência do coronavírus, fosse por displicência, temor e até por desonestidade ou cobiça. Os números, sem que nos empenhemos em nenhum juízo de valor, apontam nessa direção.
Pelos dados da Johns Hopkins University, o Brasil é um dos países que melhor recuperam seus infectados. A mortalidade aqui é de 2,5% dos contagiados, número melhor que aqueles de Itália, Inglaterra e Espanha, países de primeiro mundo. Já se examinarmos o número de mortes por Covid por 100.000 habitantes, o Brasil fica atrás apenas da Bélgica e da Espanha, o que significa que pode estar havendo exagero no atribuir as mortes ao vírus, reforçando as suspeitas de “superfaturamento”.
Sua conta.estaria certa. Se a resposta a pandemia tivesse muito mais agilidade e envolvimento. Tivesse uma quarentena bem feita. Com certeza a diferença .
Más está muito longe dessa conta.
Realmente esses números apresentados demonstram um possível equívoco. Em se confirmando, traz- nos um certo alento.