No campo econômico, muitas avaliações se fizeram sobre os efeitos perversos do lockdown, refletidos na baixa oferta de matérias primas, logística prejudicada, quebra da cadeia produtiva, baixa produção industrial, fechamento de pequenas empresas, prejuízos nas grandes, desemprego, tudo redundando em recessão e inflação ao redor do globo. 

No que respeita à Educação, alguns estudos procuraram também avaliar os estragos sofridos e recomendar ações de recuperação do aprendizado perdido. Os mais confiáveis foram os que organismos internacionais mais bem aparelhados levaram a cabo, como o Banco Mundial, o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas (Unicef), ou empresas renomadas e centenárias como as americanas Universidade Harvard, Brookings Institution e a consultora McKinsey. Estima-se em 1,6 bilhão o número de estudantes que tiveram seu ensino prejudicado, pelo mundo todo. Recentemente, surgiu, na publicação madrilenha Aceprensa, um artigo do professor e jornalista espanhol Fernando Rodriguez-Borlado, sobre esses levantamentos, com foco nos mais importantes aspectos. O artigo foi traduzido para o português pela jornalista Bruna Frascolla, da paranaense “Gazeta do Povo”. Examinemos alguns desses aspectos.

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O período mais agressivo da pandemia, que correu de fevereiro de 2020, quando começou o lockdown escolar até janeiro de 2022, quando o mundo reingressou numa relativa normalidade, foi de 102 semanas. A média mundial de manutenção das aulas, nesse período, foi de 45 semanas na Europa, Ásia Central (Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão etc.) e África; foi de 40 semanas na Ásia Oriental (China, Coreias, Japão etc.) e Estados Unidos; e de apenas cinco semanas na Ásia Meridional (Índia, Paquistão, Bangladesh etc.) e América Latina. Embora deva ser a levada em conta a presença de meios tecnológicos de ensino à distância, é indubitável que entre os mais prejudicados encontramo-nos nós, da América Latina, onde foi maior a paralização das aulas presenciais, por conta de imposição governamental, exigências sindicais ou simplesmente falta de discernimento das autoridades locais. Nas outras regiões, 60% das aulas que deveriam ser presenciais foram perdidas, o que já é ruim. Mas aqui, na América Latina, não foram dadas 95% das aulas que deveriam ter sido ministradas por um professor em sala de aula. Uma catástrofe.

Coronavírus | Foto: Getty Images

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Um dos efeitos mais negativos do lockdown nas escolas se fez sentir na evasão escolar.

O nível de evasão, de uma maneira geral é hoje maior do que antes da pandemia, e pior nos países mais pobres. Mesmo nos EUA, isso acontece. No estado da Califórnia, por exemplo, a evasão é duas vezes maior do que antes da pandemia. Em Uganda, estima-se que no presente, a evasão esteja em um terço. No Brasil, não temos estatísticas confiáveis, mas no primeiro ano da pandemia, a evasão cresceu 170% sobre o ano anterior, afirma a ONG Todos pela Educação.

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Cresceu a chamada “pobreza educacional” em todo o mundo, a incapacidade, assim batizada pelo Banco Mundial, de leitura e interpretação de um texto simples, por parte de alunos de dez anos de idade. Ela chegou, no pós-pandemia a até 80% na América Latina, e a 90% na África.

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No Brasil, houve perda, na pandemia, no aprendizado do português, mas foi pior na capacidade matemática dos alunos, como, de resto, aconteceu em todas as regiões, o que já se esperava, pois o desenvolvimento do aluno nesse campo está muito ligado ao ensino presencial, e pede mais atenção pessoal do professor. O Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb)do governo brasileiro observou que na média nacional, a nota em português caiu de 223 (em 2019) para 194 (em 2021), ou seja, 13%. Já em matemática, essa queda foi de 243 para 196, ou 19%.

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Também por exigir mais presença do professor, os cursos primários, principalmente os dos primeiros anos, foram mais afetados. Também foi notado que as meninas sofreram mais que os meninos, nos países de renda média e pobre, onde se cuida menos da educação feminina.

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Mas não foi apenas no aprendizado que se sentiram as consequências negativas do lockdown escolar. Como as escolas em geral fornecem refeições saudáveis aos alunos, notou-se aumento de obesidade nas escolas das localidades mais ricas, no fim da pandemia. E o contrário naquelas mais pobres: sinais de desnutrição. Aumento também nos níveis de violência contra crianças.

A pandemia deixa muitas lições, mas uma é fundamental: o mundo não estava preparado para lidar com um problema dessa magnitude. Não que não houvesse uma instituição para enfrentá-lo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi criada justamente para esse tipo de emergência. Ocorre que se mostrou totalmente incompetente e até irresponsável no abordar o problema. Embora tenha técnicos qualificados e muito bem pagos em seu quadro funcional, esses técnicos não se moveram de sua confortável sede em Genebra, na Suíça. Não correram à China, onde surgiu o vírus, na busca de conhecer suas origens e como combatê-lo.

O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, não comandou esses técnicos, não convocou autoridades sanitárias dos países mais desenvolvidos na busca de estudos que levassem a medicamentos e vacinas, não convocou um gabinete de crise, com várias cabeças pensantes para fazer frente à pandemia. Apoiou, sem a menor análise, o lockdown. E ainda foi reeleito recentemente para o cargo, pois a política interna da ONU se sobrepôs ao interesse na saúde dos povos.

Mas, além da OMS, os governos, mesmo os dos países mais ricos, mostraram seu despreparo, desde os primeiros momentos da pandemia. Ficaram aturdidos, e prova disso foi a aceitação, sem qualquer avaliação prévia, do lockdown, verdadeira fraude, vendida como ciência, e adotada em quase todo o globo, cujos resultados estamos sentindo agora. No Brasil, infelizmente, a pandemia foi politizada, estabeleceu-se uma ditadura de governadores e prefeitos que também não souberam enfrentar o problema, a não ser com truculência sobre os mais pobres, que não podiam se sujeitar ao “fique em casa”, pois tinham que ganhar o sustento diário. Sem falar na grossa corrupção – como na compra dos respiradores – que acabou ignorada, pelo desinteresse, e em alguns casos até cumplicidade, de Legislativo e Judiciário. Afinal, foi o empresariado, na Alemanha, no Reino Unido, na China e nos EUA quem socorreu a humanidade com as vacinas.

A OMS deveria ser substituída por um conselho de cientistas da área da saúde, escolhidos entre os mais competentes nos países de maior desenvolvimento, que seriam convocados e entrariam em reunião permanente, em casos semelhantes ao ocorrido com a pandemia do Covid. Um conselho específico, capacitado a apontar caminhos para enfrentar essas ameaças, com várias cabeças pensantes. O que não existiu na pandemia da Covid-19.