Entenda por que Dilma Rousseff não pode ser vista como faxineira da corrupção
03 maio 2014 às 11h37
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PT é bom em propaganda, mas não tem a mesma destreza na ética e no manejar a coisa pública
O governo e o PT sabem esgrimir como ninguém um discurso de campanha, uma aparição na TV, uma peça de mídia, um programa de obras, uma meta para uma empresa estatal, ou, sempre que ocorre um fracasso, a inculpação de um inimigo imaginário (como as “elites” ou os “americanos e europeus”). São mestres na propaganda. Antes tivessem a mesma destreza para as mais comezinhas tarefas da administração ou para um comportamento minimamente ético no manejar a coisa pública.
Os vários “PACs”, Programas de Aceleração do Crescimento, objeto de retumbantes lançamentos desde 2007, prometiam um futuro de desenvolvimento nunca visto, com obras a toque de caixa do Rio Grande do Sul ao Amazonas. Na televisão, eram impressionantes. Na realidade, eram só um ajuntamento de ações, várias delas da iniciativa privada, sem articulação entre si, sem planejamento nenhum, que não podiam chegar a bom termo, como não chegaram. Sete anos após o anúncio eleitoreiro do primeiro PAC, apenas 12% de suas metas foram cumpridas.
A despeito disso, a presidente, batizada ainda no governo Lula como “mãe do PAC”, se prepara para lançar a terceira fase do programa, mirando nas eleições que estão ali, logo depois da Copa.
A megalomania de Lula, aliada ao cinismo eleitoreiro e à ignorância, fez com que fosse trombeteada em 2006 uma autossuficiência na produção de combustíveis. Era apenas uma euforia enganosa, mentirosa, que a realidade, duramente, se encarrega de desmentir, a cada importação de gasolina (subsidiada pela Petrobrás). Contudo, fez efeito quando anunciada.
A transposição do Rio São Francisco, proclamada como a redenção de várias áreas secas do Nordeste, impactou de esperança a região. Mas se tornou apenas um sumidouro de dinheiro público e um abandonado canteiro de obras onde equipamentos apodrecem ao sol, e à (pouca) chuva.
O trem-bala Rio-São Paulo, de que se falava em 2009 como se estivesse quase a rodar, já que prometido para 2014, mostrou-se inviável, ao primeiro estudo tardio, que haviam esquecido de fazer previamente, e hoje é apenas manchete em jornais empoeirados. E o pré-sal, redenção de todos os problemas nacionais (a educação inclusive) a acreditar no governo, o tonitruante pré-sal de Lula, onde andará, caladinho que está?
E os parques eólicos do Nordeste, um reforço para a produção de energia elétrica, de que o País necessita urgentemente? Trinta e seis deles estão prontos, no Ceará, no Rio Grande do Norte, na Bahia, mas não geram. E por que não geram, justo neste ano de seca, quando as caras e poluentes usinas térmicas estão em pleno rodar? Porque faltou planejar, e as linhas de transmissão não chegaram, embora as turbinas estejam prontinhas para fornecer energia. Como algumas turbinas das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, também esperando as linhas de transmissão, “esquecidas” por quem deveria planejar o sistema brasileiro de energia elétrica.
Um rompante de Lula, proclamado aos quatro ventos como um enorme benefício nacional, trouxe para o Brasil a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A jactância presidencial importava uma enorme bomba (ou melhor, duas). Sorvedouros de dinheiro público, sacos sem fundo de preços superfaturados, com cronogramas mal administrados, a sabor do improviso e da vontade malandra de empreiteiras, as obras da Copa já se mostraram como realmente são: devoradoras de recursos de áreas verdadeiramente importantes, como a saúde, e apenas geradoras de futuros elefantes brancos, obras sem serventia. Na área da saúde, por exemplo, a construção de UPAs não chega à metade do que foi prometido. Eram 500 unidades até 2014. Para atingir a meta, ainda falta entregar 356 unidades.
E o governo não foi capaz do mínimo de coordenação para que não nos envergonhássemos com os sucessivos puxões de orelha da Fifa pelos atrasos e cancelamentos de providências.
A presidente, eleita pelo prestígio lulista, veio com a fama de faxineira zelosa e gerente competente. Mas só nas campanhas de marketing, pois jamais havia demonstrado essas duas qualidades. Também não as demonstra agora. Era tudo uma trovoada anunciando uma chuva que não viria. Era a palavra sempre fácil e inconsequente de Lula — e só. Uma lambança como a da refinaria de Pasadena demole de uma só vez os dois pilares da fama presidencial.
Com todas as características de uma grande corrupção, foi aprovada a desastrada compra pela presidente (então chefiando o Conselho de Administração da Petrobrás). Dilma não examinou devidamente o relatório malicioso que recomendou o negócio, como ela mesma confessa. Relatório malicioso no dizer dela própria, que tardiamente o classificou de “técnica e juridicamente falho”. A competente gerente então se deixou levar por uma enganação grosseira, que deveria ter percebido? Sendo assim, competente não é. A faxineira, tendo descoberto pouco depois o engano, não defenestrou Cerveró, autor do relatório, mantido até agora num dos mais altos cargos da nação, mais disputado mesmo que ministérios? Então, faxineira Dilma tampouco é, pois tolerou, no núcleo de seu governo, uma das piores imundícies morais — a corrupção.
“A presidente deveria assumir sua responsabilidade no caso de Pasadena”, bradou não um deputado ou senador da oposição, mas o petista, companheiro de Lula e Dilma, ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, recusando-se a assumir sozinho a culpa pelo lamaçal. Bastam esses, embora outros exemplos existam, de que esse pessoal do governo é mesmo bom de propaganda e ruim de serviço; bom de garganta, mas incompetente; barulhento, mas preguiçoso. Sabe falar, mas não administra coisa alguma.