Entenda por que a Nova Zelândia pode ser um exemplo para o desenvolvimento do Brasil

12 junho 2022 às 00h00

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Segundo o Banco Mundial, a Nova Zelândia é o melhor país do mundo tanto para abrir um negócio como para fazer negócios
Falamos aqui, duas semanas atrás, sobre a Nova Zelândia. Dissemos que o país tem carga tributária equivalente à do Brasil, mas que os serviços públicos são infinitamente melhores, o que se reflete no seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Um ensaio do economista e escritor americano Lawrence D. Reed, publicado no ano passado, e traduzido no jornal paranaense “Gazeta do Povo”, faz um apanhado da história econômica da Nova Zelândia, que resumo aqui para os leitores do Jornal Opção. É algo que merece um estudo comparativo mais profundo com a nossa economia — um desafio para Salatiel Soares Correia, o historiador econômico goiano.
A Nova Zelândia é um país insular, pertencente à Oceania, e situado no sudoeste do Pacífico. Mede apenas 268 mil quilômetros quadrados (menor do que Goiás) e tem uma população próxima de 5 milhões de habitantes.
A Nova Zelândia foi abordada por europeus apenas em 1642 (pelo holandês Abel Tasman), e a colonização só teve início em 1769 (bem depois do Brasil), pelos britânicos, o explorador James Cook à frente. Em 1841 tornou-se colônia britânica, e em 1852 obteve autonomia governamental, permanecendo, contudo, na Comunidade Britânica.
Após um século de acentuado desenvolvimento, o país sofreu um retrocesso. Fora o primeiro país no mundo a adotar o voto feminino (1893) e o primeiro a reconhecer a arbitragem entre patrões e empregados (1894). Em 1950, ao fim da Segunda Guerra, era o 10° país mais rico do mundo.
Foi então que, sob influência das ideias trabalhistas inglesas, deu uma guinada para a esquerda e adotou um regime estatal forte e extenso. O chamado “bem-estar social” passou a ditar as regras de governo, com a elevação dos impostos (o Imposto de Renda passou a levar dois terços dos lucros), subsídios, avanço estatal sobre a atividade privada (passaram a ser monopólio governamental as ferrovias, os portos e a energia elétrica, entre outros) e extensa regulamentação dos negócios particulares. Uma marcha acelerada para o socialismo, enfim.
O desastre econômico não tardou. Aumento dos gastos da máquina governamental, déficits orçamentários, aumento da dívida pública, inflação, desemprego e outros males econômicos foi tudo o que a desacostumada nação obteve.
Até que, no início dos anos 1980, as lideranças locais resolveram dar outra guinada, agora no rumo conservador, na esteira do thatcherismo inglês.
Sir Roger Douglas, ministro das Finanças de 1984 a 1988, foi a principal dessas lideranças. As tarifas foram reduzidas em dois terços e o Imposto de Renda caiu para a metade. Acabaram-se os subsídios agrícolas e dezenas de empresas estatais foram privatizadas. O número de funcionários públicos caiu de quase 90 mil para pouco menos de 40 mil, e uma reforma trabalhista, com abolição da sindicalização obrigatória e dos monopólios sindicais foi adotada.
Os governos (de vários partidos) que se sucederam desde então mantiveram essas reformas, o que permitiu ao país não só obter invejável estabilidade política, como crescer de maneira permanente a taxas entre 4 e 6% ao ano, com uma das melhores distribuições de renda do mundo.
Para que o leitor tenha uma ideia, o IDH da Nova Zelândia em 2019 era 0,931 (14º lugar no mundo), e o do Brasil 0,765 (84° lugar). O índice de Gini (que mede a desigualdade de renda) do Banco Mundial, na Nova Zelândia, é 0,365; no Brasil, é de 0,488 — quanto mais próximo de 1, pior a distribuição de renda.
A Heritage Foundation, um think tank com sede em Washington, afirma que a Nova Zelândia é a terceira economia mais livre no mundo, com o que concorda a congênere canadense Frazer Institute. Esta instituição canadense publica uma relação de países classificados por sua Liberdade Humana e outra por sua Liberdade Pessoal. A Nova Zelândia aparece respectivamente em primeiro e quarto lugar.
No item Liberdade de Imprensa, o país aparece em 8º lugar no ranking da ONG Repórteres sem Fronteiras de 2021, e o Brasil no 111°.
Segundo o Banco Mundial, a Nova Zelândia é o melhor país do mundo tanto para abrir um negócio como para fazer negócios. Segundo a Transparência Internacional, é o país menos corrupto desse nosso globo terrestre (o Brasil está em 96° lugar).
Há uma exigência, cumprida à risca, de 16 anos de escolaridade, para todos. É para nos matar de inveja. Lawrence Reed lembra que este é um dos muitos casos em que o capitalismo consertou um desastre que o socialismo provocou em uma nação (o que também aconteceu em todo o Leste Europeu). E lembra que não existe na história um só caso em que tenha se dado o contrário: o socialismo jamais foi o remédio, para nenhum mal do capitalismo.
Lawrence Reed afirma ainda: “A única coisa que o socialismo faz para os pobres é proporcionar a eles mais companhia”. E cita Montesquieu: “Os países bem cultivados o são não porque são férteis, mas porque são livres”.
O Brasil, com toda sua potencialidade, mas travado por um estatismo disfarçado e perverso, implora por uma direção consciente, que eleja exemplos de sucesso no seu processo civilizatório, e procure segui-los. Eles não faltam: Noruega, Dinamarca e Finlândia são hoje admiráveis, mas países de colonização bastante diferente da nossa, herdeiros de uma cultura mais sólida, até por ser muito mais velha, exemplos não muito fáceis de seguir por uma sociedade exuberante como a brasileira.
Mas a Nova Zelândia é um exemplo que poderia ser seguido. Para tanto seria necessário, e a nacionalidade pede por isso, um amplo pacto das lideranças nacionais, algo que infelizmente não aparece e dificilmente aparecerá no horizonte próximo.
O que se vê hoje por aqui é justamente o contrário, uma nova luta de classes, politicamente estimulada, que lança negros contra brancos, esquerda contra direita, homens contra mulheres, patrões contra empregados, pobres contra ricos, camponeses contra o agronegócio etc. Para o establishment é melhor que as coisas permaneçam como estão, ou até que piorem um pouco.
Uma escolha de rumo e persegui-lo dentro de um arranjo entre nossas forças políticas exigiria de saída uma ampla reforma em nossa Educação, cujas diretrizes teriam que ser radicalmente mudadas, desde o ensino básico. Mas este é um ponto inegociável para uma boa parte de nosso sistema político, justamente o mais estatizante e o responsável pelo atualmente péssimo, para não dizer vergonhoso, ensino brasileiro, em todos os níveis. Como desatolar?