Tenho notado que a chamada “grande imprensa”, ou seja, os jornais de maior tiragem e as principais emissoras televisivas têm sido muito seletivas no noticiar acontecimentos que em outros países tiveram grande destaque, e muitas vezes são escamoteados aqui. Por outro lado, exagerado destaque é dado a notícias de pouco ou nenhum relevo ou interesse nacional ou internacional.

Assuntos também, que se dissessem respeito à oposição renderiam manchetes escandalosas, são tratados como coisa corriqueira quando ocorrem nos quintais do governo petista ou de seus aliados.  E não por coincidência, em todos os casos, o beneficiado é um só: ele mesmo, o governo petista (e, é claro seus arredores nos outros poderes). Citemos alguns exemplos:

1

Numa América Latina sacudida pela violência, que ostenta as maiores taxas de homicídio em todo o globo, e onde o narcotráfico deitou raízes profundas, a única experiência que obteve êxito total no combate à criminalidade foi a da pequena El Salvador, entre os 20 países da região.

Enquanto o caribenho Haiti, ali próximo, está dominado pelas gangues do tráfico, mais poderosas que a polícia, El Salvador conseguiu êxito total, pois a criminalidade caiu 90% com a atuação do jovem presidente Nayib Bukele. Candidato, há poucos dias, Bukele foi reeleito com 87% dos votos. Elegeu 90% dos deputados à Assembleia Nacional e 90% dos prefeitos.

O leitor viu alguma manchete mostrando essa vitória extraordinária, verdadeiramente incomum? Como aquelas manchetes que anunciam a escola de samba vencedora do Carnaval? Eu também não vi. Afinal, Bukele é “de direita”, isto é, adota métodos de combate ao crime totalmente inversos aos que são defendidos pelos petistas e assemelhados e não pode merecer destaque, por muito que esteja certo.

2

O Pisa, avaliação internacional que mede, a cada três anos o aproveitamento dos jovens que cursaram o ensino básico e o ensino médio, publicou os resultados da última avaliação há pouco mais de um mês. A avaliação abrange Leitura, Matemática e Ciências.

O aproveitamento dos jovens brasileiros não foi ruim; também não foi péssimo; pior que isso, foi catastrófico — um dos piores entre os 80 e poucos países avaliados. Algo para ter sido berrado na imprensa, pedindo providências urgentes das autoridades. Algo para ter rendido as mais revoltadas manchetes. Mas qual o quê — isso não poderia acontecer. Afinal quem quer censurar o governo petista e seus métodos de ensino “revolucionários”?

3

No dia 25 do mês passado, na Avenida Paulista, na maior cidade do País, a oposição promoveu uma enorme concentração popular, uma das maiores da história brasileira. O número de participantes era, por si só, de molde a produzir manchetes retumbantes. Apenas produziu notinhas de canto de página nos principais jornais ou comentários de passagem nas maiores televisões.

Não é de se estranhar: a movimentação foi de crítica a Lula, seu governo e seus “companheiros” do Legislativo e do Judiciário. Embora apenas produzisse pirotecnia e em nada afetasse o monolítico conluio PT-Judiciário-Imprensa, o encontro teria que ser minimizado. Afinal, era coisa da “direita”.

4

Um jornalista português, Sergio Tavares, que veio a São Paulo cobrir o evento do dia 25 passado, foi detido por horas na Polícia Federal, interrogado, e teve seu passaporte apreendido. Algo inusitado no País e completamente fora dos padrões de atuação da Polícia Federal, que sempre teve o respeito da sociedade brasileira justamente por guardar postura isenta e apolítica. Algo para gerar protestos em alta voz dos colegas jornalistas tupiniquins. Ninguém viu esses protestos.

Ao que parece, os colegas daqui gostaram até do constrangimento por que passou o jornalista português. Quem mandou vir ao Brasil para noticiar depois lá em Portugal críticas ao caráter ilibado de Lula e apoio popular ao “genocida” Bolsonaro? 

5

No Senado, o monolítico bloco constituído por governo federal — STF e TSE —, grande imprensa, conta com o apoio incondicional dos senadores marxistas e de alguns conservadores, estes últimos não por razões filosóficas, patrióticas ou ideológicas, mas por motivos bem terrenos, mesmo.

Destaque para o presidente, Rodrigo Pacheco, e para o ex-presidente Davi Alcolumbre. São incapazes, na atual conjuntura de domínio petista, de mover uma palha, se isso causar o menor desconforto no governo. Alcolumbre articula sua volta ao comando do Senado — e logo do Congresso — com enorme desenvoltura, sob o olhar calmo, e até aprovador da “grande imprensa”. 

Imagine por um momento, leitor, que um oposicionista firme, como Magno Malta ou Eduardo Girão seja candidato à presidência do Senado e que tenha feito o que Alcolumbre fez num passado recente. Como reagiria a imprensa? Mas o que fez Alcolumbre? Perguntará o leitor, e eu respeito muito sua desinformação.

O que Alcolumbre fez, embora escandaloso, foi uma não-notícia. Ninguém na “grande imprensa” fez o devido barulho; as notas que saíram quase foram notas de rodapé. Mas se o leitor buscar a revista “Veja” de outubro de 2021, em que o repórter Hugo Marques fez uma matéria a respeito, poderá saber de tudo e fatalmente vai perguntar: por que isso não explodiu e não explode agora na imprensa?  E vai lamentar, como eu, que a revista não tenha mais a penetração de outrora.

Alcolumbre usou senhoras pobres, da periferia de Brasília, para uma tenebrosa operação: pagou a elas pequenas quantias para que emprestassem suas contas e seus nomes. As contratou falsamente, com verba do Senado, com bons salários, e embolsou essas verbas, movimentando as contas dessas pobres pessoas, das quais uma pequena parte usava para pagá-las. Uma delas, por exemplo, Marina Ramos Brito, contratada por 14.000 reais de salário, recebia menos que 10% disso. Uma ação muito baixa, sórdida mesmo.

Alcolumbre agora preside a importante Comissão de Constituição e Justiça e quer voltar à presidência do Senado. A “grande imprensa”? Calada ou aplaudindo. Imagine se fosse o oposicionista Girão, o tamanho das manchetes denunciando as “rachadonas”.

6

Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco | Foto: Reprodução

A retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, no Recife, é tida como coisa normal, em nossa imprensa, embora a refinaria seja um dos mais visíveis distintivos da corrupção e da incompetência petista. Mais que isso, os ganhadores de uma concorrência que visa a continuidade das obras, concorrência cujos detalhes a imprensa sequer tentou saber, são, para o que deveria escandalizar céus e terras, Odebrecht e Andrade Gutierrez, emblemas brilhantes das empresas envolvidas na corrupção posta a descoberto pela Lava-Jato. Empresas que pagaram multas, no exterior inclusive, fizeram delações e devolveram dinheiro fraudado. Isso não escandaliza nossa imprensa. São empresas “companheiras”.

7

Roberto Campos Neto, presidente do BC | Foto: José Cruz/Agência Brasil

O Banco Central do Brasil, presidido por Roberto Campos Neto, foi, mais uma vez, apontado neste ano como o melhor Banco Central do mundo, e recebeu a distinção do Central Banking Awards, da revista londrina Central Banking.

O que deveria ser motivo de júbilo, para nossa imprensa é motivo de silêncio. Afinal, Roberto Campos Neto é “de direita” e o presidente Lula da Silva não gosta dele.

A lista poderia ir longe. Mas já temos uma ideia do que se passa no campo da informação (ou desinformação) por estas nossas terras.