Na surdina, o tráfico de drogas está se intensificando entre brasileiros e bolivianos e uma espécie de Farc está se instalando no Brasil

Por muitos anos, no século passado, nossas preocupações militares fronteiriças se referiam à Argentina, então a nação rival do Brasil na América do Sul. Houve até o início de uma corrida nuclear.

Essas preocupações se deslocaram posteriormente para a Amazônia, dado a cobiça internacional pela região, escorada em falsa pregação ambiental e na colaboração da “quinta coluna” brasileira com essa movimentação internacional.

Drogas apreendidas em Rondônia pela Polícia Federal | Foto: Reprodução

De momento nossas preocupações devem agregar novos elementos, que são o narcotráfico boliviano e nosso relacionamento fronteiriço com a Bolívia. É sabido que um dos problemas sociais mais graves do Brasil se relaciona à segurança e à alta criminalidade. Esse problema tem na sua raiz o tráfico de drogas, como sabe qualquer autoridade policial, seja um titular de uma delegacia ou um comandante de um batalhão de Polícia Militar.

O tráfico é quem responde pelas dezenas de milhares de assassinatos anuais, quando traficantes matam traficantes ou entram em confronto com a polícia. Ou quando assaltantes, desesperados pelo dinheiro das drogas, matam suas vítimas, às vezes para roubar um simples celular (em Goiânia, um usuário de crack matou o veterinário João Fidelis porque planejava roubar 200 reais para pagar uma dívida com o tráfico). Ele é quem está por trás dos assaltos a carros fortes, roubos de cargas ou explosões de bancos, na busca por capital para o lucrativo comércio dos entorpecentes. E por aí vai.

Nossa posição geográfica nos colocou como fronteiriços aos principais produtores de cocaína do mundo, antes Colômbia e Peru, e, mais recentemente, também a Bolívia. Em consequência, nosso território tornou-se rota de passagem para essa droga, que dos produtores vai para os grandes centros brasileiros, São Paulo e Rio de Janeiro, e daí para a Europa e os Estados Unidos. Não nos esqueçamos que a Bolívia não tem saída para o mar, devendo qualquer produto que ela exporte, aí incluídas as drogas, passar pelo nosso território ou pelo do Chile. Dentro desse cenário, dois motivos de preocupação, pois resultam em uma soma explosiva.

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Aumento da produção boliviana de coca
Apreensão de droga em Porto Velho | Foto: Reprodução

Tradicionalmente usada medicinalmente e em seus cultos pelos nativos da Bolívia (e até tida como sagrada), a coca hoje ali colhida, segundo as melhores estimativas, em cerca de 90%, não passa pelos mercados legais de Cochabamba e La Paz, que regulam o consumo medicinal e alimentício para os bolivianos. Vai mesmo para a fabricação de cocaína e para o tráfico ilícito.

Desde 1986, o governo boliviano buscava impedir o desvio da coca para os mercados do tráfico. Em 2002, o país assinou com os EUA um tratado de cooperação, para erradicação das plantações que não se destinassem ao uso lícito, e as combateu com vigor.

Em 2006, Evo Morales assumiu a Presidência boliviana, e tudo mudou. Em 2008 expulsou os americanos que atuavam no combate à droga. Além disso, autorizou por decreto um aumento da área legalmente plantada em coca na província de Chapare, sua origem, e mais próxima das fronteiras brasileiras (ela é cultivada tradicionalmente em Yungas, mais próxima do Chile), de 3.200 para 7.000 hectares, e em toda a Bolívia de 12.000 para 22.000 hectares, embora soubesse que tal aumento serviria apenas para a produção de cocaína para o tráfico.

Essa ação de Evo Morales foi entendida como uma proteção ao narcotráfico, pelo volume de divisas que leva à Bolívia. Quem sofreria seria o Brasil. Embora o Relatório Mundial sobre Drogas 2020 da ONU dê como produtores maiores Colômbia e Peru (ver o quadro abaixo), o impacto sobre o Brasil do incentivo de Evo Morales à produção de cocaína afetou nós, brasileiros, pois apenas uma pequena parte da droga é exportada via Chile, enquanto o grosso passa mesmo é por aqui.

País                     Plantio de Coca (1.000 hectares)          % da Produção Mundial

Colômbia                                 170                                                       70%

Peru                                            50                                                        20%

Bolívia                                        24                                                        10%

 

A despeito dessa distribuição, a Polícia Federal informava que já em 2012, a cocaína que chegava em território brasileiro era predominantemente boliviana:

Bolívia  —  54%

Peru   —      38%

Colômbia — 8%

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Presença e crescimento em Rondônia da LCP

Na Colômbia, de 1964 até 2017, o casamento de duas execrações infelicitou o país de maneira sanguinolenta e cruel: uma guerrilha marxista (autodenominada Farc — Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia) e o narcotráfico. As Farc foram de início sustentadas por Cuba e pela Venezuela, mas passaram a se sustentar traficando a cocaína produzida na Colômbia, em conluio com os principais cartéis locais da droga.

Liga dos Camponeses Pobres: uma nova Farc? | Foto: Reprodução

Uma nova Farc, desta vez em território brasileiro, mais precisamente em Rondônia, já se desenha. Intitula-se Liga dos Camponeses Pobres (LCP). Por trás do nome que clama pela comiseração está o que há de mais nocivo e asqueroso, um comunismo extemporâneo e criminoso combinado com o narcotráfico boliviano.

O LCP foi criado em 1998, com o pretexto de protestar contra o que a esquerda chama de “Massacre de Corumbiara”, ocorrido em 9 de agosto de 1995. Ao cumprir ordem judicial de despejo na Fazenda Santa Elina, em Corumbiara, Rondônia, a polícia foi recebida à bala pelos invasores, tendo morrido na desocupação dois policiais e oito invasores. Fez-se um escândalo, que perdura até hoje, invertendo a posição dos policiais que cumpriam a lei com risco de vida e os marginais que haviam promovido a invasão.

Os bandidos invasores passaram a vítimas, a “massacrados”. Dos policiais mortos, jamais se falou. O LCP afirma ter surgido como protesto a esse “massacre”. Em 2008, promoveu, em Porto Velho, seu quinto congresso, embora ninguém tenha ouvido falar dos outro quatro. Mas não foi um congresso de pobres: 400 presentes, com alojamento, alimentação, transporte, dezenas de milhares de panfletos distribuídos, uso das instalações da Universidade Federal de Rondônia para as palestras que pregavam a luta armada.

Não nos esqueçamos que estávamos no governo Lula, quando cresciam as invasões criminosas. A LCP passou a ocupar terras da União e reservas florestais, de onde extrai madeira e onde, agora já com a presença de armas militares, vende proteção a madeireiros clandestinos.0

Sob a omissão dos governos petistas, passou a se tornar um movimento violento. Em 2007, tomou um posto da Polícia Ambiental, que incendiou, e fez os soldados reféns. Em 2015, fechou a BR-364, em Jaru, fazendo uma série de exigências quanto a uma reforma agrária.

No ano seguinte, um helicóptero da Polícia Militar de Rondônia foi alvejado por armas de grosso calibre quando sobrevoava uma invasão. No ano passado, em uma emboscada, matou um tenente e um sargento da PM de Rondônia que patrulhavam a região.

Várias fazendas têm sido invadidas; outras têm sido atacadas, em incursões paramilitares para aterrorizar os “latifundiários” da região. A última se deu no mês passado, quando uma força de 40 “soldados” da LCP, bem armados, tomou a Fazenda Santa Carmem, a cerca 200 km de Porto Velho, prendeu e espancou os funcionários da propriedade (devem os “combatentes” ter se esquecido que estavam torturando verdadeiros camponeses pobres), incendiou casas, galpões, tratores e veículos.

Após o vandalismo, se retirou para seu refúgio nas reservas, onde a LCP já ocupa cerca de 500.000 hectares. Nossa “grande imprensa” fez o mais completo silêncio sobre o fato.

A polícia de Rondônia, que procura se informar das movimentações e dos contatos dos guerrilheiros, dá conta da presença de armas fornecidas pelos traficantes bolivianos e farta munição na posse da LCP. Uma documentada reportagem da revista “IstoÉ” nº 2676, de 2008, já denunciava a presença de forte armamento nos acampamentos da LCP (até metralhadoras e granadas), assassinatos e uma estrada aberta por ela até a fronteira boliviana, conhecida como “transcocaineira”, passagem de drogas e armas, além de ser rota de fuga.

Que falta faz o Serviço Nacional de Informações (SNI), desmantelado pela esquerda. Preocupante. Não precisamos de uma guerrilha narcocomunista, outra Farc, em nossas fronteiras.