O professor, filósofo e historiador norte americano Will Durant, uma das mentes mais claras da intelectualidade dos EUA no século XX, certa vez, ao paraninfar uma turma de formandos da Universidade de Columbia, tomou como mote a resposta do poeta romano Juvenal, na sua Sátira X, à pergunta sobre o que se deve desejar na vida. Durant terminou seu discurso com o curto, mas sábio conselho: “Sede sadios e sereis felizes; sede felizes e sereis bons; e então sorvei, até a última gota, o cálice da existência”. 

Lembrei-me do episódio ao compulsar o livro recém-publicado por meu amigo Jorge Wilson Simeira Jacob, intitulado Minhas Reflexões II. É uma coletânea de ensaios (uma centena deles), a maioria dos quais ele já havia antes apresentado aos leitores de seu blog ou de sua coluna no Jornal Opção.

Quem prefacia a obra é o competente diretor-editor chefe do Jornal Opção, Euler de França Belém, com um primoroso texto, didático por excelência. Termina, aliás com uma sábia reflexão: “Não basta escrever bem, ter o domínio da língua. É preciso conectar e condensar ideias. Torná-las límpidas… É o caso dos textos de Jorge Simeira”. E porque me lembrei do “mens sana in corpore sano” do poeta Juvenal, ressuscitado por Durant naquela formatura, ao ler o livro de Jacob?

Jorge Jacob, embora não fosse um dos formandos apadrinhados pelo filósofo americano, ao que parece, seguiu aquele conselho, pois, nos seus quase noventa anos, outra coisa não faz senão sorver, com saúde e com sabedoria, o precioso néctar da vida. Foi empresário fecundo, e como tal criou e geriu empresas de projeção nacional como as Lojas Arapuã, as indústrias de alimentos Paoletti e o Banco Phenícia, entre outros empreendimentos, que empregaram milhares com salários dignos, recolheram impostos e auxiliaram a fazer girar a máquina da economia nacional.

Mas o dinheiro nunca foi a obsessão do autor, que também não perdeu de vista o trabalho social e exerceu funções importantes, onde o salário não contempla o bolso, mas a mente sã. Foi presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), que congregava os pequenos e médios bancos brasileiros no século passado, do Instituto Liberal, um Think Tank de São Paulo que mais do que defender as regras de mercado, defende as nossas liberdades, sempre ameaçadas (e na América Latina ainda mais) pelas tentações autoritárias.

É, ainda, permanente colaborador da Associação Brasileira de Dislexia (ABD). Ainda hoje impressiona. Tanto por sua energia mental, pois está sempre produzindo poesia e prosa, quanto por sua energia física, de fazer inveja a muito jovem indolente que existe por aí. Há dias, buscou-me no hotel, junto com sua extraordinária esposa Aneliz, para um jantar. Admirei sua destreza ao volante, no caótico trânsito de São Paulo. Com a mulher e os filhos, exemplifica a importância da família no equilíbrio do bem viver.

Seu livro, suas Reflexões número 2, pois já havia publicado um volume com seus pensares, chama os leitores também à reflexão. E sobre os mais importantes temas da existência, pois é dela, de seu correr, do que bebeu ao longo dela no cálice da vida, que nascem as reflexões de Jorge Jacob. De suas experiências, que celebra quando boas e que usa como lições quando nem tanto, é que ele tira suas concepções.

É o que faz, ao citar o exemplo da pujança da agricultura brasileira, criada na competitividade, enquanto a indústria patrícia apostava nos favores do governo e se atrasava; ao traçar com precisão o perfil do caudilho português Oliveira Salazar, honesto mas estático; ao arrastar pelo exemplo para que envelheçamos sem perder a juventude, no capítulo 55; ao ilustrar, com os números que não mentem, como Singapura descobriu seu próprio caminho do progresso, que nós teimamos em sequer procurar; ao mostrar a nós, que não o conhecíamos, o excelente mestre Thomas Sowell; ao redigir com o coração seu capítulo 93 e ensinar a todos nós sobre a dislexia e mostrar, sem jactância, seu trabalho de fundador e presidente da Associação Brasileira de Dislexia.

Jorge Jacob nos chama todos a uma ação pela melhora deste mundo, conclama a feitos, que pouco ou nada custam, mas que tornam melhores as vidas das pessoas – e as nossas. Deixa um ditado, que adotei, desde que o li: “A vida só faz sentido se é uma caminhada em que se lançam sementes de bondade”.

Em suma, Jorge Jacob não apenas mostra como sorve, pela sua vida afora, com sabedoria, o néctar da sua existência, de sua grande experiência, de suas alegrias e vicissitudes. Mostra bem, via de seus escritos, onde expõe não só com clareza, mas com leveza, os mais sérios assuntos. Nos dá a sorver também alguns goles da essência de sua frutífera existência. Como ele próprio diz, conclamando as consciências: “o inteligente aprende com as próprias experiências; o sábio lê, e aprende com as experiências dos outros”.