Admira constatar que nos Estados Unidos da América, considerados o maior consumidor de cocaína do mundo, os malefícios da droga não se façam sentir sobre a sociedade como um todo, ficando restritos aos viciados.

Apesar de os EUA contarem com cerca de 4,1 milhões de viciados (1,2% da população), o cidadão comum, ali, não experimenta os efeitos colaterais que vitimam o morador da América Latina. Esses efeitos se fazem sentir praticamente sobre toda a sociedade latino-americana, sob a forma de violência e exigências de cunho social, principalmente no que diz respeito à juventude.

O Brasil, com 2,8 milhões de drogados (1,3% da população, porcentagem equivalente à dos EUA), mostra um impacto assustador das drogas sobre a sociedade como um todo.

É o caso de se perguntar: por que nos Estados Unidos não existem as organizações criminosas gigantes, como existem aqui o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV)? O que explica a ausência, em território norte-americano, dos roubos, dos assaltos e dos numerosos homicídios associados ao tráfico, que assolam a nós, brasileiros e outros latino-americanos, inclusive, e devastadoramente, até no México, ali mesmo nas portas dos EUA? O que explica a pouca existência em território ianque da maternidade infantil, presente por aqui em números deveras preocupantes?

Por que não se veem drogados nas ruas dos EUA, feminicídios após surtos ocasionados pelo uso de crack e nem filhos agredindo pais para obter dinheiro das drogas? O que nos diferencia deles, considerando que são vizinhos do México, um país que tem ampliado sua produção de haxixe e conta com uma coleção de cartéis de comercialização de drogas os mais violentos, como o cartel de Sinaloa, o do Pacífico, ou o Los Zetas?

O leitor por certo terá na família ou terá visto na família de um amigo próximo alguém envolvido com drogas e sabe os percalços que advêm disso. Terá sido vítima, ou testemunha, ou saberá de algum furto, roubo ou assalto, motivado por necessidade de consumo, traficância ou outro motivo provocado pelo narcotráfico. Conhecerá alguma família onde existirá uma mãe de pouca idade, incapaz de criar com um mínimo de esperança num futuro digno, aquele seu rebento, gerado de maneira irresponsável. Em um momento qualquer de sua vida, o leitor terá sido agredido ou perturbado pelo problema da droga. O americano médio não conhece, geralmente, esse infortúnio. É de se perguntar uma vez mais: por quê? No que são diferentes? 

A resposta, da qual podem ser extraídas muitas lições de enorme valia, se resume em uma palavra: impunidade.

Os norte-americanos levam muito a sério a polícia, a lei e a justiça, ao contrário dos brasileiros. Têm um respeito enorme pelo trabalho policial e o apoiam em todas as circunstâncias legais. Não toleram bandidos que afetem a sua sociedade, estejam eles dentro ou fora de seu território. Se dentro, marginal é perseguido sem contemplação, até ser preso. Se preso, é julgado por juízes ágeis, competentes, severos e sem ideologia, voltados apenas para a aplicação da lei.

Se condenado, e em geral o é, recebe penas também severas, que devem ser cumpridas na integralidade, com raríssimas exceções, e em estabelecimentos penais que não contemplam facilidades e exigem trabalho dos apenados. Lá não entram drogas, celulares ou armas nas penitenciárias. Visitas íntimas, só quatro Estados (são 51 unidades) admitem: Califórnia, Connecticut, Nova York e Washington. Em presídios de segurança máxima, não há contatos diretos e reservados, nem com advogados. Saídas em festas de fim de ano ou reduções generosas de pena, como aqui, nem pensar. Lá não se fala, como aqui, em desencarceramento, pois se acredita, e há razões para isso, que bandidos irrecuperáveis não devem se mesclar à sociedade trabalhadora.

Os Estados Unidos têm 2,1 milhões de presidiários (0,63% da população) e continuam prendendo quem é preciso. A punição, lá, é uma exigência irrecorrível da sociedade.

O Brasil tem cerca de 800 mil presos (0,37% da população) — a metade, proporcionalmente, dos EUA — e os partidos da extrema esquerda pedem o desencarceramento. “Prendemos demais!”, berram.

Se o bandido está fora do território dos USA, mas incomoda, por exemplo, participando de organizações que traficam para o território norte-americano, sua extradição é buscada com empenho, e prêmios vultosos são dados pelo governo para sua captura.

Nos Estados Unidos quem se droga deve fazê-lo com muita discrição, caso não queira ir para a prisão. Que o faça em casa, sem alarde; ou nos campi universitários, onde não há policiamento, ou nos bolsões de pobreza, onde se consomem drogas baratas longe da polícia.

Não há chefões da droga nos Estados Unidos

A gravidez na adolescência, nos EUA, é três vezes menor que no Brasil, graças à educação e à responsabilização paterna e materna em casos de abuso, que é levada muito a sério.

Não existem chefões da droga, em território norte-americano. Os riscos não compensam, como compensam na América Latina, onde existe em alguns países o concubinato entre altas autoridades (até presidentes) e o tráfico, onde o Ministério Público se preocupa mais com os excessos policiais do que com os dos traficantes, onde parlamentares protegem bandidos e juízes são lenientes com eles.

Ser traficante, nos EUA, é como querer prisão perpétua — e consegui-la. Não há pontos de distribuição de drogas por lá. Distribuir droga tem que ser numa discrição tal que não desperte polícia ou vizinhos, pois dá cadeia brava. Só pequenos distribuidores ou pequenas associações, como clubes de motociclismo para fazer isso sem chamar a atenção. Cracolândias? Não durariam meio-dia. Sequer adianta explicar a uma autoridade dos EUA que existem áreas ocupadas pelo tráfico no Rio de Janeiro. Ela pensará que se trata de exagero. Como não acreditará que um juiz da Suprema Corte terá proibido, por um momento sequer, operações policiais nessas áreas. Nos EUA, são condutas inadmissíveis. Em resumo: nos Estados Unidos, os poderes constituídos agem severamente para que a minoria de viciados não perturbe, de qualquer maneira, o restante sadio e largamente majoritário da sociedade. É severamente punido quem agredi-la.

No Brasil, ocorre o contrário — a minoria viciada exerce uma ditadura sobre a maioria, onde os poderes constituídos aceitam todos os abusos dessa minoria, em nome de pretensos Direitos Humanos, que essa minoria, por sua vez, despreza e viola quotidianamente. Quantas lições. Os EUA mostram como isolar um sério problema, já que não é possível erradicá-lo. O caminho existe e está aí, à vista: tolerância zero, com o tráfico, não à impunidade.  Só não creio que o sigamos, antes de amadurecermos por mais algumas décadas.

Para terminar, fatos também bastante ilustrativos e pedagógicos: alguns Estados americanos, felizmente poucos, de governos democratas, atendendo clamores da nova esquerda internacional e da nova ordem global, resolveram afrouxar essas amarras policiais, legais e jurídicas que manietam o tráfico nos EUA. O resultado tem sido desastroso.

O primeiro Estado a descriminalizar a posse de drogas e estabelecer legislação de incentivo ao tratamento, o Oregon, após dois anos de experiência, já pensa em sua reversão: o número de mortes por overdose cresceu 33% por cento em um ano, a criminalidade armada deu um salto, os homicídios bateram recorde. E apenas 0,5% dos viciados requisitou ajuda para desintoxicação e abandono do vício. Os drogados continuam cada vez mais drogados. Um recado para nossos políticos e artistas que pregam irresponsavelmente a liberação das drogas.