Todas as tentativas de redução das desigualdades, induzidas por políticas governamentais, só criaram miséria e tirania

Correndo o risco da imodéstia, escrevo este esboço sobre a desigualdade. Mini-esboço, na verdade, tendo em conta a consciência do tamanho do desafio. Nada anda mais politizada do que a discussão sobre a desigualdade socioeconômica entre os homens. Seria uma temeridade pretender ir além de uma tentativa da análise de uma tese que mereceu a atenção de grandes nomes do mundo intelectual. Os quais, com seus estudos, não deram respostas plenas para atender ao desejo dos insatisfeitos. As propostas de Marx, Rousseau, Adam Smith, a respeito das desigualdades, não foram aceitas como verdades absolutas. Tanto que o assunto continua em pauta.

Continua a prevalecer nos dias correntes, justificadamente entre as pessoas socialmente sensíveis, a preocupação com as desigualdades socioeconômicas. Mexe com qualquer ser humano ver, de um lado, pessoas esbanjando em consumos conspícuos e, de outro, muitos sem o mínimo para a sobrevivência. Mais lamentável, ainda, é saber que uma grande parte dos brasileiros “vende” pelo pão de cada dia alguns nacos da sua dignidade.

Nada contra aqueles que ganham honestamente gastarem o seu dinheiro da maneira que melhor os satisfaçam. Se o resultado foi fruto de trabalho, competência e poupança, eles são merecedores de crédito pela contribuição à sociedade. E têm todo o direito de usar o que lhes pertence. Entretanto não podemos ignorar aqueles que não tiveram oportunidades por deficiências naturais ou por falha do modelo socioeconômico vigente.

A discussão sobre a desigualdade, se olhada pelo viés religioso, no que se refere às almas, completa-se com a afirmação de que somos todos igualmente filhos de Deus. Sob este aspecto, o Sol nasce para todos, sem distinção. É uma questão de direito divino. Na realidade terrena, porém, a coisa é diferente. Na verdade, somos absolutamente desiguais. Somos diferentes na aparência física, sexo, desiguais condições socioeconômicas, faixa etária…  Uma lista infindável.

Por uma questão de fato, os filhos de Deus seriam os privilegiados. Os “desprivilegiados” teriam outra paternidade — a de Zebedeu, por exemplo. Se esta hipótese absurda, diga-se de passagem, pudesse tornar-se uma realidade, os filhos de Deus seriam uma minoria.  Com esta escolha estariam eliminando de uma só vez duas crenças: a divina promessa de uma igualdade de todos perante Deus e a terrena isonomia de sermos todos iguais perante as leis, fazendo jus ao dito de que “alguns são mais iguais que os outros”.

 A realidade, pura e crua, é que somos absolutamente desiguais. Só há uma única condição em que nos igualamos, uma exceção: somos todos consumidores. Desde a fecundação até o final da vida, direta ou indiretamente, somos consumidores compulsivos. Assim sendo, uma sociedade igualitária começaria a ter os consumidores como prioridade. Em todas as situações e circunstâncias, eles deveriam estar em primeiro lugar. O que não é bom para os consumidores, não deveria ser considerado bom para a sociedade.

No entanto, como os consumidores estão dispersos e desunidos, numa injusta inversão de valores, são privilegiados os fornecedores de serviços públicos e privados. Os governos vêm em primeiro lugar, e as empresas os secundam, na direta relação da sua força política. Em uma sociedade, que respeitasse os consumidores, não haveria tomadas elétricas exóticas, ruas esburacadas, serviços públicos de má qualidade, cartórios, excesso de leis e regulamentos.

Só o mercado livre e competitivo transfere o poder do fornecedor para os consumidores. Todas as tentativas de redução das desigualdades, induzidas por políticas governamentais, só criaram miséria e tirania. As únicas medidas que reduziram as desigualdades foram aquelas que elegeram o consumidor com o rei do processo. Não são as empresas, nem menos ainda o governo que devem ser o foco principal das nossas atenções. O respeito à igualdade começa e acaba no respeito à absoluta da maioria – a sua majestade, o consumidor.

O que não atende ao interesse dos consumidores, não faz parte do reino de Deus, mas do de Belzebu!