Solidão: o que diferencia o homem dos demais animais, como o urso e o leão
30 julho 2023 às 00h00
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Solidão é um sofrimento do qual nem sempre se é consciente. Passar quase despercebido. O sucesso das redes sociais é uma comprovação da existência do problema
No mundo animal o urso destaca-se pelos hábitos de vida solitária. Ele vaga por meses no Polo sem companhia. Praticamente faz exceção no momento do acasalamento. Ao contrário do leão, que é fundamentalmente gregário, está sempre rodeado por fêmeas. No geral, os animais vivem em manadas na vida selvagem.
Os humanos também mantêm a sua diversidade. Há os misantropos, como os ursos, que cultivam a solidão, são avessos ao convívio social, e os gregários, como os leões, que não existem sem ele, necessitam dele como do ar. Entretanto, se um animal selvagem consegue sobreviver sozinho, o mesmo não é possível entre os homens.
Ao animal selvagem o desafio é somente físico — o poder sobreviver à fome e às intempéries. A sobrevivência é quase impossível ao ser humano na absoluta solidão. O homem, além da luta pela sobrevivência, enfrenta o desafio da estabilidade emocional. A troca é um imperativo para a sobrevivência. Eu hoje coço as suas costas e você, amanhã, coça as minhas. Somos fisicamente dependentes uns dos outros.
Diferentemente dos selvagens temos um outro desafio — que é a nossa estabilidade emocional. Temos necessidade de uma vida social para a saúde mental. Por isto, temos reações que são instrumentos do nosso ser que dão sinais da nossa dependência dos outros. Ao que traz o sentimento de fazer parte da tribo, subordinando-nos às modas e aos costumes. Absorvemos os eflúvios sociais por termos necessidade de compartilhar nossos sentimentos. As dúvidas e angústias da coletividade nos contaminam. Ao mesmo tempo, necessitamos compartilhar as nossas. Deixar de fazê-lo é colocar-se sob a ameaça da depressão. Só os espíritos muito fortes têm a capacidade de manter o equilíbrio emocional na absoluta solidão.
Na coluna “Opinião” do “New York Street” de 15 de julho de 2023, cujo título é “Se solidão é uma epidemia, como tratar isso?”, um artigo afirma: “Gente solitária deve lembrar que eles não são necessariamente responsáveis por essa condição que os joga na sensação de solidão, eles podem dar passos para livrá-los do mal”.
Segundo as estatísticas, um em cada quatro americanos acima de 18 anos sente alguma forma de solidão. “Diferentemente da depressão ou ansiedade, a solidão não é uma desordem mental”, segundo “The American Psychiatric Association. A solidão dói. É um sofrimento do qual nem sempre se é consciente. Pode ficar subliminar. Passar quase despercebido. O sucesso das redes sociais é uma comprovação da existência do problema. As pessoas têm necessidade do convívio social.
“A solidão nunca será curada, mas pode ser tratada”, diz no artigo a dra. Julianne Holt-Lunstad. A Medicina tem importante papel na recuperação, e uma reforma é essencial para prevenir que futuras gerações sucumbam à solidão. Na vida diária o homem normal, o comum, constrói uma rede social como anteparo às suas quedas emocionais. Mesmo assim, não está isento do sentimento da solidão.
Os males da solidão atacam mais os temperamentos tímidos, fechados, mas indistintamente os idosos. Não são raros os casos que à morte de um cônjuge idoso segue-se a do outro. Na solidão a dor é menos suportável. O risco aumenta na idade avançada. Na medida em que vamos envelhecendo, vamos perdendo os amigos e, pelas condições da idade, temos dificuldades de fazer novos. Perde, com isto, a vida social.
A solidão é um mal que cresce com o aumento populacional. É um mal do século, como já foi dito. A multidão, em vez de dar o conforto do fazer parte, ao contrário alimenta a solidão. As relações perdem a profundidade. O ser humano se sente só na multidão. A massa não permite a relação individualizada. O ideal é o idoso não abrir mão da vida social. Sair de casa, cultivar os amigos, frequentar reuniões e dedicar-se a alguma causa filantrópica é uma boa receita para evitar os males da solidão. Também na mente, parar é morte. Há que manter-se ativo. Escrever é uma terapia ideal. Absorve a mente, faz pensar, preenche o tempo e proporciona como companhia os sujeitos do texto.
Praticar esporte é outra. É completa. A primeira fortalece a mente, o segundo, o físico.
O Dr. Alberti, citado no artigo, chama a solidão de uma “emoção cluster’”, na qual sentimentos que variam de “raiva, ressentimento e tristeza a ciúme, vergonha e autopiedade” podem tomar conta
Ao que o Dr.Caciopo, propõe que em vez de investigar uma solução farmacêutica para a solidão, o acrônimo GRACE, que significa “gratidão, reciprocidade, altruísmo, escolha e prazer ( enjoyment)”. É bastante autoexplicativo: Seja grato pelo que você tem, peça e ofereça ajuda aos outros e tenha tempo para se divertir. Mas uma carta é mais controversa do que as outras.
“É uma escolha permanecer solitário ou não solitário,” Dr. Cacioppo diz. Colocando de outra maneira: a solidão não precisa ser um estado permanente. Com o apoio certo e muita determinação, o cérebro pode aprender a se conectar novamente.