O homem no seu estado natural é identificado como um selvagem. Esta condição caracteriza-se, entre outras, pela solução dos problemas com o uso da força. Os mais fortes impõem a sua vontade sobre os menos dotados. As relações são constantemente conflituosas. Seguidas de brigas pessoais, lutas grupais e até a guerra.

O objetivo da paz entre os homens trouxe a sua civilização. Os humanos evoluíram do regime de uso da força para o do direito. Um Contrato Social foi negociado e poderes foram constituídos para assegurar o Estado de Direito. O uso da força para solução dos conflitos foi outorgado com exclusividade ao governo constituído.

Os governos ganharam legitimidade, na democracia, com o voto universal. Ao votar o cidadão reconhecia no governo o poder de decidir os direitos individuais e/ou grupais. A paz social é conseguida quando este direito é exercido com a aceitação e obediência dos potenciais conflitantes.

Toda uma estrutura formal desenvolveu-se para implantar e fazer prevalecer o estado de direito. A partir de uma Constituição, uma divisão de tarefas incumbe o Congresso de legislar, o Judiciário de decidir as contendas e a polícia de garantir o direito, com o uso da força, se for o caso.

Pintura de Wolfgang Lettl

Se o selvagem tinha na força o seu instrumento de poder, o homem civilizado o tem no direito estabelecido. Com isto houve a transição do selvagem para o homem civilizado. Civilizado, portanto, é o indivíduo ou sociedade que vive debaixo do estado de direito, não de força.

Na prática nem todos somos igualmente civilizados. Há nuances entre os indivíduos e as sociedades. Somos mais ou menos civilizados… dependendo do desenvolvimento e das conveniências. Nem todos os indivíduos o são, como nem todas as nações. Há os mais civilizados como os países da Escandinávia, os países anglo-saxônicos, os nipônicos … e os menos como países da África, do Oriente Médio, Ásia e mesmo regiões dentro das próprias nações. A grande maioria situa-se no meio-termo. É relativamente civilizada.

Para ajudar o leitor a aferir o estágio de civilidade pessoal e do Brasil desenvolvi um questionário de avaliação. Se tiver interesse, responda as questões, abaixo, para ter o nível de classificação entre uma posição que vai do selvagem ao civilizado. Dê nota de zero a cinco à frequência do seu comportamento na lista resumida, a seguir. Você ou o seu candidato:

1

Respeita os sinais de trânsito?

2

Joga lixo, bitucas de cigarros, nas ruas?

3

É pontual nos seus compromissos?

4

Reconhece os seus erros, desculpando-se?

5

Vota e respeita os resultados de todas as eleições?

6

Dá preferência de passagem por ordem de chegada?

7

Não procura tirar vantagens dos incautos?

8

Não sonega impostos?

9

Respeita os mais fracos — crianças, velhos e incapacitados?

10

Não se apossa de valores privados ou públicos?

A soma das notas indicará de zero a cinquenta o seu nível de selvageria ou civilidade. Se zero, você está vivendo na época da pedra lascada. Se cinquenta, você está no topo do marco civilizatório. Quanto mais perto do zero menos direito você tem de reclamar dos seus direitos. Os civilizados é que podem reclamar de você.

Faça o mesmo exercício para a sociedade e você terá o retrato do nível de civilidade da sua região ou país. Para conferir a veracidade do teste de civilidade, compare os resultados da somatória dos eleitores com os governos eleitos. Eles, se o teste foi fiel, os eleitos devem ter o nível de civilidade da média dos eleitores.

Não ter ilusões — o governo nunca será mais civilizado do que os seus eleitores. Nas próximas eleições escolha o candidato mais civilizado: se você pretende viver em uma sociedade civilizada, em que prevaleça o estado de direito; ou escolha um candidato sem escrúpulos e amoral, se a sua escolha é viver na selvageria, onde prevalece a trapaça, a mentira, o roubo…a lei do mais esperto.

O nosso voto é uma escolha da selva à civilização!