Inteligência artificial acrescentará 15,7 trilhões de dólares ao PIB global até 2030
28 agosto 2022 às 00h00
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Ninguém embarca em um meio de transporte, qualquer que seja o veículo, sem informar-se do seu destino. No entanto, a humanidade está embarcada na própria vida sem esforçar-se por saber para onde está indo. Em momento delicado como esse, quando estamos vivenciando uma revolução tecnológica com as suas consequências, poucos estão atentos. Só uma elite de bem-informados se dedica a tentar entender, dentro do possível, o que o futuro nos reserva.
A Inteligência Artificial (AI) será um marco na história da humanidade. Uma revolução da importância da Revolução Industrial, que mudou o mundo. Depois dela tudo estará mudado. Um pouco do que espera as próximas gerações pode ser apreendido no livro “Inteligência Artificial” (Globo Livros, 292 páginas, tradução de Marcelo Barbão). Kai-Fu Lee, o autor, com a autoridade de criador da AI, um dos principais executivos de inovação de empresas como Apple, Google e Microsoft, em narrativa agradável, historia a evolução tecnológica, fazendo futurologia bem fundamentada.
As AI são máquinas pensantes com a capacidade de realizar qualquer tarefa intelectual que um ser humano pode fazer. Terá efeitos profundos na empregabilidade. Muitas funções serão substituídas por robôs e outras tantas simplesmente deixarão de existir. Estima o autor que de 40 a 50% das tarefas hoje existentes poderão ser substituídas com vantagem por robôs. Não só as atividades corriqueiras, mas também as mais sofisticadas como, por exemplo, os médicos. Com a AI os pacientes serão atendidos por robôs, que tem uma capacidade de processar dados, quase infinita, cujos resultados serão diagnósticos e prescrições mais precisos. O acompanhamento será feito por “cuidadores compassivos”, que darão o toque humano hoje tão carente em nossos hospitais. Ganharão os pacientes, perderão os médicos.
Os Estados Unidos lideram a corrida para o domínio dessa inovação, mas em breve a China os igualará no desenvolvimento e implantação da inteligência artificial. O avanço chinês traduz-se em dados surpreendentes. Diz a Pricewaterhouse, a AI acrescentará 15,7 trilhões de dólares ao PIB global até 2030: dos quais a China ficará com 7 trilhões e os Estados Unidos com 3,7 trilhões. Dizem ironicamente os empresários chineses, quando questionados sobre o atraso da China em relação ao Vale do Silício, de ser de dezesseis horas, que é a diferença do fuso horário entre a Califórnia e Pequim.
A China está surpreendo até os bens informados. Para quem pensa na China como um lugar horrível de trabalhadores mal pagos irá se frustrar. Essas fábricas existem, mas o ecossistema manufatureiro chinês passou por uma grande atualização tecnológica. Hoje a vantagem de fabricar na China não é mais a mão de obra barata… mas a flexibilidade incomparável das redes de suprimentos e os exércitos de engenheiros industriais qualificados que podem criar protótipos de novos dispositivos e construí-los em grande escala.
As consequências dessa nova realidade, com a aplicação da AI as desigualdades entre as nações desenvolvidas e as outras serão ampliadas. As atividades de baixo valor agregado serão feitas por robôs com custo competitivo em relação à mão de obra sem qualificação. Muitos produtos fabricados em regiões de baixo custo da mão de obra poderão tornar econômico voltar a produzi-los nos Estados Unidos e Europa. A verdade é que os robôs trabalham o mesmo número de horas e com a mesma perfeição dos chineses, sem terem os ônus dos custos sociais e trabalhistas.
A quem é recomendável ler “Inteligência Artificial”?
Em se tratando de futuro, devem ler principalmente os estudantes, que estão por eleger uma profissão. Eles deveriam atualizar-se sobre a evolução da AI. Devem atentar não só às oportunidades que virão como também às suas ameaças, pois os empregos nesta área estão sendo disputados por jovens ávidos por vencer. Conta o autor que, uma noite, após uma palestra em um campo universitário chinês sobre AI, foi surpreendido ao ver os estudantes lendo sob a luz dos postes. Como a luzes dos dormitórios eram desligadas às 23 horas, eles usavam a iluminação pública para aprofundar o conhecimento sobre o tema.
Mas não só os que devem eleger uma profissão devem interessar-se pela AI. As consequências serão profundas e poderão ter sérios desdobramentos políticos, econômicos e sociais. O texto dá algumas sugestões, algumas indesejáveis, para responder a questões como: – O que fazer com a grande massa de desempregados? – Como manter a paz social em uma economia que aumenta as desigualdades entre as pessoas e os países? – Como evitar a desumanização do homem?
Uma questão que ficou sem resposta foi a levantada por Elon Musk, físico e fundador da Tesla, de “ser temeroso do desenvolvimento da AI por ser o maior risco que enfrentamos como civilização. Seria, segundo ele, o equivalente a estar convocando o demônio “. Como instrumento AI poderá ser a concretização da previsão do Big Brother orwelliano, pois dará aos governos intervencionistas o poder de eliminar a liberdade individual. Nas mãos das empresas a inteligência artificial será usada para criar produtos e serviços, nas mãos do governo poderá ser um instrumento de dominação. Se isto acontecer, estaremos realmente “convocando o demônio”.