Empreendedorismo: como no céu, mais que na loteria, muitos são chamados e poucos são escolhidos
24 março 2024 às 00h02
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Está na moda o termo empreendedorismo. O empreendedorismo é um processo de identificar oportunidades de negócio, desenvolver ideias inovadoras e criar um novo empreendimento. Seu objetivo é criar valor econômico, social e ambiental, através da criação de produtos, serviços ou soluções que atendam às necessidades do mercado e gerem lucro e impacto positivo. Atribui-se ao empreendedorismo as inovações tecnológicas que ensejaram o surgimento de empresas gigantes e o endeusamento dos seus criadores, o que atiçou nos jovens o “espírito animal”.
Muitos ambicionam reproduzir os heróis do Silicon Valley. Nem todos, porém, nascem com o gérmen do comando, da iniciativa, da tomada de riscos. Muitos se adaptam melhor sob alguma liderança, são refratários às responsabilidades e à insegurança. Esta é uma maioria que, ainda que ambicionem as oportunidades, não suportarão os ônus do empreendimento e ficarão frustradas. Para cada um bem-sucedido há milhares de fracassados. A realidade é que nem todos têm as condições exigidas para enfrentar os desafios de um mercado competitivo.
Não se pode ignorar a personalidade individual. Não só o empreendedorismo exige muita estamina como também vocação. No geral as maiores decepções vêm de pessoal com nível cultural superior que não se conforma em ter resultados favoráveis como os conseguidos por elementos visivelmente culturalmente menos preparados. Acontece que as premissas fundamentais para o êxito variam de uma atividade para outra. Um filósofo não necessariamente será mais competitivo no mundo dos negócios do que um homem simples que tudo o que viu na vida foi fazer negócios. O contrário é verdadeiro, este não será exitoso dando aulas ou escrevendo livros.
Qualquer um não vê dificuldade em montar um pequeno negócio, pois nada mais simples do que o comprar e vender. Doce engano. Há todo um emaranhado de nós a desatar, desde o início até as fases mais desenvolvidas de um negócio. Prova do pouco valor que se dá ao conhecimento de um empreendedor é o fato de ninguém se acanhar de fazer uma consulta, pedir uma opinião, um conselho a um empresário. O que ninguém faria a um médico, sem pagar. Não se vê valor no conhecimento empírico.
Não só agora, mas em todos os tempos, sempre houve indivíduos com desejo de criar empresas. Muitas são as motivações: desejo de independência econômica, ser dono da própria vida e mesmo a necessidade de realização pessoal e profissional. Outros não as tentam. Eles não invejam a característica básica para se ter o seu próprio negócio que é a insegurança. Os riscos são tantos e os sacrifícios imediatos só serão compensados no longo prazo. Os que tentam são os que têm um certo comichão, um ativismo de fazer coisas, os que existe um desejo de competição para superar ou igualar-se aos bem-sucedidos. Ninguém compra um bilhete lotérico pensando em perder. Se pensa, não compra.
Evidentemente há diferentes gradações na ambição de cada um. Uns satisfazem-se com a obtenção de uma renda com liberdade de atender às suas necessidades primárias; outros, no extremo, são atraídos pelo prestígio que o poder de um império empresarial. Napoleão Bonaparte, explicando a sua decisão de dominar a Europa, dizia: “A ambição é como uma escada, cada degrau alcançado faz ver outro mais acima”.
Não basta, no entanto, à vontade de empresariar alguma atividade para o êxito estar assegurado. O conjunto de fatores necessários passa pelas condições físicas, mentais e de conhecimentos — com os seus desdobramentos. Uma empresa é um canibal, se você cochila ela o devora. É um desafio sem limites de tempo e de esforço físico e mental. Não há negócio bem-sucedido sem estar ancorado em desprendimento total.
Nem as atividades monopolistas, mesmo sem serem acossadas pela competição, podem dormir sem pesadelos. No mundo dos negócios tudo está em movimento. Algumas vezes lentos, outras vezes violentos: mudam os comportamentos e preferências do mercado, do concorrente, dos fornecedores e do governo. Nestas surgem as ameaças e as oportunidades.
No empreendedorismo, como no céu, mais que na loteria, muitos são os chamados e poucos são os escolhidos.