Dono de circo, o empreendedor John Ringling se tornou milionário e morreu pobre
14 abril 2024 às 00h02
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Jorge Jacob
Em 1952, a Paramount Pictures produziu o filme “O Maior Espetáculo da Terra” — um show deslumbrante da vida nos bastidores com o Ringling Bros-Barnum and Bailey Circus. Que celebra o extravagante circo com três picadeiros e retrata as cenas apaixonadas de amor e ciúme. Uma película que romanceia as entranhas da vida em um circo.
O circo que serviu de referência era o Ringlinds and Barnum, o mais importante circo do mundo. Em uma época em que o cinema engatinhava, os espetáculos circenses atraíam as multidões. No seu auge o Ringlings Bros tinham 3,5 milhões de espectadores por ano. A importância do circo era tamanha que, quando se exibia nas cidades, as escolas e as empresas davam feriado para permitir que seus alunos e funcionários assistissem as sessões.
Os irmãos Ringlings, de origem modesta no middlewest, começaram como uma dupla de palhaços e construíram um império. O líder deles John foi um gigante para a época — fisicamente, 6,1 pés de altura (1,85m) e empresarialmente um dos maiores magnatas dos Estados Unidos. Nos anos 1920 a 1930, John possuía a 17ª fortuna do país. John chegou a participar de 35 empresas. A partir do circo, ele investiu em petróleo, banco, hotéis, ferrovias e imóveis. Chegou a ser proprietário da maior parte dos terrenos de Sarasota. Nos últimos anos da sua vida dedicou-se a colecionar obras de arte.
De todos os seus empreendimentos destaca-se o circo. Era um verdadeiro exército a ser deslocado de cidade a cidade. O seu quadro tinha 1.900 figurantes, centenas de animais e toda uma retaguarda logística. A trupe era precedida da equipe de montagem das tendas. Na madrugada começavam a preparar as três refeições diária a serem servidas ao pessoal. O desafio de alimentar e acomodar os humanos e os animais era sobre-humano.
O Circo Ringling tinha um trem próprio para transporte do pessoal e material para montar as tendas. A principal tinha capacidade para agasalhar 14.000 espectadores, que assistiam a três picadeiros. Havia tendas para dormitório e recreação. Era uma cidade montada em lona.
Certamente o público não se dava conta do extraordinário trabalho para selecionar os artistas, organizar as apresentações, cuidar dos equipamentos, das vestimentas e de administrar as relações humanas. Na verdade, o maior espetáculo era o da competência — a genialidade do John Ringling.
No ano de 1927, John transferiu a base do circo para Sarasota, Flórida, onde havia construído uma residência de verão em estilo veneziano — Cá d’Zan (casa de John em dialeto veneziano). Junto da casa, John e Mable, sua mulher, construíram um museu com o objetivo de perpetuar os seus nomes. O terreno à beira mar tinha 66 acres (264.000 metros quadrados).
O museu John and Mable Ringing só é menor em tamanho e importância ao Metropolitan Museu de Nova York, cujo diretor A.H. Mayor escreveu: “Provavelmente nenhuma coleção fora da Europa dá uma tão rica ideia do gosto de 1600 a 1800 ao expor tão grandes trabalhos de tão importantes artistas”.
Durante anos John dedicou-se a comprar os grandes. Rubens, Ticiano, Velásquez, Tintoretto e centenas de outros podem ser vistos no museu. De Rubens estão expostas cinco tapeçarias das sete que produziu. Uma visita superficial dura duas horas.
O maior museu do circo do mundo
Adjacente ao Museu de arte existe um museu do circo — o maior do mundo. Uma visita de uma hora dá a dimensão e imponência do empreendimento. Miniaturas das composições de trens para transporte do circo, as maquetes das enormes tendas para alojamento do pessoal e acomodação do enorme público estão na exibição. Inclusive uma réplica do vagão especial reservado ao John e Mable, que acompanhavam o circo.
Uma visita a agradável e bonita Sarasota não se completa sem conhecer o sítio dos museus e da residência de verão do casal Ringling. Entretanto é tão rica a história desse magnata visionário que se faz necessário a leitura do livro “Ringling — The Florida Years”, de David C. Weeks. Uma viagem de Miami a Sarasota dura três horas de automóvel e de Orlando 1,30 horas. Vale a pena.
Na introdução do livro, Raymond Arsenault, professor das Universidade do Sul da Flórida, define a personalidade incomum de John Ringling : “Aqui está um homem que não tinha medo de pensar e viver em grande escala, que sabia o que queria da vida e da arte”. John viveu nos seus tempos de glória como um príncipe. Exibia a sua riqueza vivendo como grande milionário que era.
Como todos os empreendedores que ousam ultrapassar os limites do possível, ele foi pego no contrapé. A crise de 1929 e a perda de interesse pelo circo, substituído pelo cinema, a morte dos irmãos e importantes funcionários foram golpes que liquidaram a prosperidade dos Ringlings.
John Ringling, o último dos irmãos a morrer, faleceu em Nova York em 1936, deixando na sua conta bancária o ridículo saldo de US$311,00. Nasceu pobre, viveu como um príncipe e morreu pobre, mas deixou como legado uma história de grandeza equiparada a dos maiores pioneiros americanos. O Museu John and Mable Ringling testemunha a grande contribuição que legou com a sua história.
O maior espetáculo da terra foi a vida vivida de John Ringling, que retrata “The Floridians Dreams”: “O prazer da vida, o prazer do lucro, e o prazer da arte”.