A história não só atende à nossa curiosidade, mas sobretudo nos dá elementos para o entendimento do enredo que vivemos. Ela joga luz sobre os nossos desafios. Edmund Burke foi muito feliz ao sintetizar a importância do conhecimento da história, pois, como disse ele: “Quem não a conhece está fadado a repeti-la”. Uma destas que não queremos ver repetida é a Guerra de Secessão dos Estados Unidos da América (1861-1865).

Durante a década de 1850, os Estados Unidos possuíam uma clara divisão entre os Estados do Sul e do Norte com relação às suas características distintas, assim como interesses econômicos e políticos divergentes. É importante considerar que havia ainda similaridades entre os dois lados, mas, naquele momento, as diferenças existentes pesavam mais do que as semelhanças.

O Norte dos Estados Unidos era caracterizado pelo seu desenvolvimento manufatureiro, com a existência de pequenas propriedades agrícolas, nas quais havia predominância do trabalho livre assalariado — uma cultura capitalista. O Sul, por outro lado, caracterizava-se pelo sistema de plantation, ou seja, a grande propriedade com a monocultura baseada no trabalho escravo africano — uma cultura socialista.

A divergência existente entre os dois lados, nesse momento, envolvia a questão da expansão do trabalho escravo para regiões que estavam sendo conquistadas pelos Estados Unidos. O Norte defendia que nos novos territórios deveria ser decretada a proibição do uso da escravidão, enquanto o Sul defendia a extensão da escravidão para os novos territórios.

Guerra Civil Americana: 600 mil mortos (e Abraham Lincoln foi assassinado) | Foto: Reprodução

Entre as identidades entre as regiões estava o uso de uma mesma língua, a colonização predominantemente europeia, a religião cristã e o culto da liberdade individual. Essas condições, porém, não foram suficientes para sufocar as ameaças de uma transição política. A eleição de Abraham Lincoln, um republicano do Norte, foi vista como uma ameaça aos interesses do sul. O país foi dividido: no Norte uma mentalidade capitalista e ao Sul, escravagista. Os resultados dessa eleição criaram grande descontentamento no Sul, que se rebelou.

Liderados pela Carolina do Norte, sete Estados sulistas, declararam a secessão da União, o que levou a uma guerra civil. O resultado foram 600 mil mortos e quatrocentos mil feridos até a rendição final das tropas dos Confederados. A guerra terminou com a rendição do general Robert Lee, na famosa batalha de Gettysburg.

Este capítulo trágico, da história dos Estados Unidos da América, deve ser rememorado em momento semelhante ao que vivenciamos no Brasil. Em que, como lá, saímos de uma eleição com o país dividido, radicalmente, entre o Norte/Nordeste e o Sul/ Sudeste. Como lá temos semelhanças a nos identificar. Também fomos colônia europeia, falamos uma única língua, somos um país cristão e temos a nossa história. Mas também temos o choque de uma cultura capitalista, no Sul/Sudeste, e com uma socialista no Norte/Nordeste e uma eleição que dividiu as famílias, amigos e a sociedade.

O clima estaria perfeito para um movimento separatista Norte e Sul, a exemplo dos EUA. Só não deverá acontecer devido à unidade das Forças Armadas — que não era o caso dos EUA. A unidade das nossas FFAA e a unanimidade do respeito que merecem da opinião pública são os fatores tranquilizadores. A nossa FFAA são a única autoridade respeitada de Norte a Sul.

É dessa autoridade que dependemos para preservar pacificamente a unidade da pátria. Enquanto as FFAA estiverem coesas e submissas à Constituição, e não tivermos como na Venezuela e Cuba um poder paralelo — as Guardas Nacionais —, não corremos o risco de uma guerra civil. Enquanto as FFAA não forem corrompidas e/ou enfraquecidas como nos países socialistas, as nossas divergências serão resolvidas pelas eleições e não pelas armas.