Produzimos caro e somos lentos para atender as solicitações dos compradores. Uma consulta a uma empresa chinesa tem resposta em horas, na brasileira em meses

As empresas caminham para a morte. Todas têm um ciclo de vida: nascem, crescem e morrem. As empresas geralmente crescem baseadas em algum tipo de inovação.  Quando as inovações são copiadas e multiplicadas, aumenta a competição, a lucratividade cai. Ou as empresas adaptam-se ou somem. Serão substituídas por novas empresas ou administradas com novas ideias, vindas das inovações.

É de Joseph Alois Schumpeter, economista austríaco, a teoria do crescimento e desenvolvimento econômico, ao considerar a figura central dos homens de negócio, da inovação e da constante destruição como pilares do capitalismo. A “destruição criativa”, como denominado por ele, é que enseja o desenvolvimento econômico. Ideias morrem… e outras nascem. Empresas que não se adaptam são substituídas. Alimentando um círculo virtuoso.

Assim como as empresas, as nações ganham ou perdem liderança no mercado mundial nas ondas inovadores. A história econômica recente registra uma série delas que alteraram as posições das nações no ranking internacional. A Revolução Industrial, por exemplo, impulsionou o desenvolvimento da Inglaterra. O Fordismo alavancou a economia americana. A Informática deu posições vantajosas aos países asiáticos. A Globalização deu vida à indústria chinesa, colocando-a como a segunda potência econômica mundial.

Joseph Alois Schumpeter: “Destruição criativa” enseja o desenvolvimento econômico

Agora, estamos vivenciando as consequências de uma nova onda de inovação. A indústria asiática, produtora de produtos de baixo valor agregado, começa a disputar os mercados de produtos sofisticados: telefonia 5G, chips, celulares e computadores, inteligência artificial… E sua vantagem competitiva não se limita ao domínio tecnológico, mas se completa com uma mão de obra qualificada, disciplinada e laboriosa. Toda a corrente de produção é produtiva e confiável. Não há sobressaltos nos acordos negociados. Os salários baixos, como razão única da competitividade, é coisa do passado e os produtos têm tecnologia avançada e preços competitivos pela economia de escala. Por isto são consumidos mundo afora.

Tudo ia bem até a “rebelião trumpiana” à ameaça chinesa, impondo barreiras e dificuldades aos importadores americanos. Foi um choque na Globalização, que se amplificou com a guerra Russa-Ucrânia e a pandemia, que desestruturaram a cadeia de suprimentos e transportes. O que tem levado os grandes produtores mundiais a questionar o risco da concentração dos fornecimentos e desejar alternativas. As nações e as empresas precisam adaptar-se à nova realidade para sobreviver.

Donald Trump, ex-presidente americano, e Xi Jinping, presidente chinês: apesar do “rugido” americano, o país asiático continua avançando | Foto: Reprodução

Estamos, pois, neste momento da história, como em todas as crises geradas por mudanças radicais, frente a oportunidades e ameaças. A pergunta objetiva, diante deste desafio, é: o Brasil beneficiar-se-á das oportunidades presentes? A resposta seria um parcial “sim”. Parcial por termos um histórico de insistirmos ao longo da história a perder oportunidades. Somos campeões mundiais de ignorar a sorte. Ainda.

É provável melhorarmos a nossa competitividade na área da agricultura. Pois podemos melhorar (e estamos fazendo) a produtividade agrícola. Poderíamos, (e não estamos fazendo) melhorias na infraestrutura de escoamento da produção e a simplificação burocrática para as exportações. Estamos muito defasados em relação aos grandes produtores agrícolas do mundo. Mas temos vantagens geográficas incomparáveis, uma fronteira agrícola expandível e um empresariado agrícola muito competente, que torna provável tirarmos benefícios do momento.

Infelizmente, não é provável uma significativa melhoria na nossa competitividade industrial. Não somos um substituto confiável na economia globalizada para fornecedores da cadeia globalizada. As nossas instituições são do arco da velha: as leis e regulamentos são complexos, burocráticos e volúveis; o nosso Judiciário está congestionado. Temos dos maiores contenciosos judiciários do mundo; a qualificação profissional deixa a desejar; estamos atrasados em relação ao marco civilizatório e dos maiores níveis de violência urbana do mundo. Pontualidade, respeito ao contratado, rigor na qualidade do trabalho e a rapidez decisória nos colocam desconfortavelmente em posição de igualdade com os latinos em geral. A consequência é termos uma cadeia produtiva de baixa produtividade. Não só produzimos caro como somos lentos para atender as solicitações dos compradores. Uma consulta a uma empresa chinesa tem resposta em horas, na brasileira em meses. E na competição, a velocidade é tão importante quanto a qualidade da decisão.

Quando Trump criou barreiras às importações chinesas, pedindo que as empresas americanas substituíssem a China como fornecedor, recebeu como resposta não existir alternativa à mão de obra disciplinada e competente chinesa. Não era questão de preço ou de querer. Portanto, a atual onda trará oportunidades, mas a indústria brasileira não está preparada para tirar proveito dela. Os Estados Unidos continuarão a depender da China. Ou irão produzir no próprio país. E nós, mais uma vez vamos correr o risco de perder o bonde da história.

Não há custo maior do que a oportunidade perdida. Por isto, de tanto perder oportunidades, temos uma parte da população na miséria.