Há uma distância enorme entre o que o candidato disse que faria e o que o gestor tem feito

Na campanha, Iris Rezende prometeu resolver os problemas rapidamente | Foto: Kelly Nascimento

Não seria fácil, e todo mun­do sabia disso, mas ninguém imaginava que este início de mandato de Iris Rezende na Prefeitura de Goiânia seria tão problemático. A rigor, pouca coisa tem funcionado. O sistema de saúde permanece exatamente como antes, sem conseguir nem ao menos atender aos diabéticos que necessitam de insulina. A educação infantil não consegue oferecer vagas para todas as crianças. Nem o serviço de recolhimento de lixo foi normalizado. É claro que se deve levar em conta o fato de que Iris iniciou seu governo há pouco menos de dois meses. O que pesa, porém, é que a população goianiense enfrenta demandas acumuladas há anos.

O discurso de Iris também está mudando muito rapidamente. Na campanha eleitoral, ainda quente na memória do eleitor, ele prometia resolver todos os problemas imediatamente e, não apenas, mas também botar as máquinas para funcionar. É óbvio que esse exagero deve ser creditado à disputa eleitoral. Ninguém ganha eleição “vendendo” imagem negativa, de dificuldades e falta de soluções. Mas a promessa de chegar na Pre­feitura com uma varinha de condão ficou im­pregnada. Seria facilmente esquecida se a população percebesse ações mais vigorosas na correção dos equivocados rumos administrativos que levaram à essa situação complicada. Como a impressão é de cansaço, a cobrança é maior e imediata.

Além desse fato, a imagem da Prefeitura e particularmente do administrador Iris Rezende entrou em rota muito perigosa. Sem reação, sem ação e sem correção, fatalmente essa imagem negativa acabará se cristalizando, e aí o dano será permanente. Uma coisa é enfrentar fa­ses de mau humor do eleitorado diante de problemas conjunturais. Outra, bem diferente e mais grave, é frustrar geral es­tru­turalmente. E é exatamente esse segundo cenário que está surgindo e se consolidando aos poucos.

Há alguma lógica em tamanho descontentamento com o governo Iris? Alguma lógica é inegável que há, mas talvez a dimensão esteja um tom acima do normal. É difícil sa­ber por que isso está acontecendo, mas há ligação estreita e direta com a equipe de governo e com a manutenção de uma máquina administrativa mastodôntica. Para se ter uma ideia, contando com as empresas e agências, a Pre­fei­tura de Goiânia tem uma estrutura com 24 cargos de comando, exatamente o mesmo número da cidade de São Paulo.

O pique inicial da administração foi bom durante 15 dias. Pou­co a pouco, começou a cair. O tombo tem a ver com a falta de dinheiro. Iris, que passou a cam­panha dizendo — em outras pa­lavras, claro — que tinha o dom de resolver problemas instantaneamente, fez então um primeiro balanço dizendo que precisaria de dois meses para tomar pé da situação e consertar a casa. No final da semana passada, esticou esse prazo para quatro meses. Ainda assim, será bastante difícil que ele cumpra o prometido.

A solução imediata que ele adotou foi um calote temporário no valor de 570 milhões de reais. Uma semana depois, a empresa que mantém os temporizadores nos semáforos desligou a aparelhagem reclamando que a Prefeitura tem dívidas de 1 milhão de reais por serviços já prestados. O resultado foi um caos no trânsito, com a falta de sincronia nos semáforos.

É possível para Iris Rezende recuperar o governo ao longo do tempo, mas a curto prazo é impraticável. O problema que a Pre­feitura de Goiânia enfrenta é idêntico, obedecidas as proporções, ao de milhares de outras cidades: a falta de dinheiro e o acúmulo de dívidas. Iris terá que promover alguma reforma administrativa profunda, que corte parte da estrutura que não seja absolutamente indispensável, além de substituir secretários e dirigentes que não apresentam resultados criativos. Chorar o leite estragado não vai mudar nada. Pior do que não resolver, abre espaço para a consolidação da tal imagem negativa da administração. Esse tipo de coisa aconteceu com Paulo Garcia no início do segundo mandato. Ele jamais se recuperou totalmente. Esse é o risco que Iris Rezende está correndo neste instante. l