Nas últimas duas semanas, praticamente todos os maiores institutos de pesquisa divulgaram levantamentos sobre a corrida eleitoral. Em todos eles, as mesmas constatações: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estabilizou em uma faixa acima de 40% das intenções de voto – em alguns levantamentos com até 47%, como é o caso do Datafolha –, parecendo ter atingido um teto de votação; Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) não conseguem melhorar seus índices, muito pelo contrário; e Jair Bolsonaro (PL), aos poucos, vai avançando e ganhando terreno entre indecisos.

Segundo o próprio Datafolha, que também o último instituto a divulgar pesquisa para a Presidência na semana passada, cerca de 70% dos eleitores já se dizendo convictos: não pretendem mais mudar o voto. Na pesquisa do instituto, sempre a mais esperada, por ser também a mais respeitada, na coleta estimulada – quando se apresenta o cartão com as opções ao eleitor – Lula tem 47% e Bolsonaro, 32%.

Já o site Poder Data havia divulgado uma pesquisa com 44% a 37% para Lula e Bolsonaro, respectivamente. A diferença entre um instituto e outro se explica pelas metodologias: o Datafolha é feito de forma mais tradicional, presencialmente – em pontos de grande circulação –, assim como outros institutos (o Qaest e o Ipec são exemplos); o Poder Data, assim como FSB, Ideia e Ipespe, fazem seus levantamentos por telefone, sem interferência humana, com auxílio de inteligência artificial.

Lula tem se dado melhor nas pesquisas presenciais e Bolsonaro diminui a diferença quando os levantamentos são por via telefônica. De qualquer forma, fica evidente que o petista parece ter atingido seu teto de votação, até por ter uma rejeição alta. Mas por que Bolsonaro cresce, se o seu índice de rejeição é ainda maior do que o do líder das pesquisas? Aí está a vantagem de estar no poder: ele tem a “caneta” nas mãos.

Ter a “caneta” é uma gíria para quem detém o poder de liberar verbas e cargos, além de manobrar a base no Congresso para aprovar medidas favoráveis ao governo. Foi o que Bolsonaro fez com a chamada PEC das Bondades – inicialmente chamada de PEC Kamikaze pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, pelas consequências fiscais, e pelos adversários de PEC do Desespero, por visar tirar a desvantagem na corrida eleitoral. Justificando com uma emergência, o presidente conseguiu fazer com que fossem aprovadas medidas que poderiam ser contestadas no Supremo Tribunal Federal, por causa do período eleitoral. Em resumo: o governo aprovou irregularmente o derrame de benesses para os mais pobres – como os 200 reais a mais no Auxílio Brasil e o aumento no vale-gás –, caminhoneiros e taxistas. Junte-se a isso a queda no valor dos combustíveis e há um cenário que deixa, ainda que temporariamente, mais dinheiro na mão das pessoas.

Como algumas pesquisas já foram feitas após o começo do pagamento do Auxílio Brasil e a gasolina já está mais barata nos postos há algum tempo, a expectativa era de que realmente Bolsonaro subisse nos levantamentos.

Foi o que ocorreu, mas não na intensidade e velocidade com que gostariam os aliados palacianos. No início do ano, o principal nome político do Planalto, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (pP-PI), considerado o “capo” do Centrão, previu para maio o momento em que o inquilino do Palácio do Planalto ultrapassaria o ex-presidente nas intenções de voto. O movimento não aconteceu, mas isso é o menos importante: a questão é que, um político experiente como Nogueira sabe que existe um “timing” para as coisas acontecerem – e também sabe que ter determinado prazo é importante para obter determinado objetivo.

Por isso, o ânimo com a subida “constante mas em conta-gotas” de Bolsonaro nas pesquisas não é exatamente algo a ser festejado pela base governista. Falta um mês e meio para as urnas e a perspectiva de Lula ganhar no primeiro turno continua de pé, já que ambos os lados polarizados contam com a desidratação de Ciro Gomes, hoje com 7% nas pesquisas.

No agregador de pesquisas do site Poder 360, as linhas de Lula (em vermelho) e de Bolsonaro (em azul) | Foto: Reprodução

Patinando sempre abaixo de 10% desde que Lula entrou, o pedetista Ciro adotou um tipo de discurso de confronto que leva a acreditar que dificilmente vá desistir da candidatura. Mas boa parte de seus aliados e eleitores podem desistir até outubro chegar. Certamente, a maioria desses, se tiver de optar por alguém, vai para o lado do petista, ainda que a contragosto. É o mesmo fenômeno que anabolizou os índices de Bolsonaro na metade do primeiro semestre, com a desistência de Sergio Moro – hoje candidato ao Senado pelo União Brasil no Paraná. A diferença é que agora o nome não é da direita, mas de centro-esquerda.

Esta é realmente uma eleição bem diferente de todas as anteriores, o que nem Ciro Gomes nem Simone Tebet nem os adeptos da terceira via parecem ter entendido. Pela primeira vez estão disputando as eleições presidenciais duas figuras extremamente carismáticas – sem fazer juízo de valor –, extremamente conhecidas da população – e também altamente rejeitadas de parte a parte. Não sobra muito espaço para algo diferente e os 70% que já decidiram seu voto provam esse ponto.

Mas que Bolsonaro não duvide: ainda que Lula seja um nome fortíssimo e tenha um passado que abre muita contestação tanto para quem é de direita como para quem é de esquerda, esta eleição é sobre seu mandato. Em uma campanha em que um dos candidatos busca a reeleição, a população está avaliando o governo: afinal, ela quer ou não continuar com este mandatário?

Com a campanha na TV, Lula acrescenta a Bolsonaro um tempero nada agradável em uma comparação: o eleitorado tende a julgar as gestões de ambos

A aposta para o lado dos governistas é que a população avalie também se quer o PT de volta. E por isso, investem no antipetismo que sempre existiu nas eleições, desde 1989, mas que foi acirrado a partir de 2014. Então, aparece nas redes sociais um medo incutido de um comunismo que nunca passou nem perto de existir e querem fazer acreditar que Lula até mesmo fecharia igrejas. Vai colar? Difícil, porque as pessoas já conhecem bastante o petista.

O pior, para Bolsonaro, é que, além de tudo, Lula lhe acrescenta um tempero nada agradável em uma comparação, que deve ser usado na campanha de TV: o eleitorado tende a julgar as gestões de ambos e, ainda que haja muitas contemporizações, a vantagem dos números dos oito anos do petista, principalmente na economia, são flagrantes. Isso deve vir à tona no horário eleitoral.

Por isso, ninguém está em pânico, no lado petista; da mesma forma, o ânimo nas hostes bolsonaristas não tem por que ser contagiante.