Pesquisas atuais fazem muito barulho, mas têm pouco sentido

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Sempre que algum veículo de comunicação publica o resultado de pesquisas eleitorais o assunto fervilha. A interpretação comum, no entanto, tende a misturar um pouco de razão com enorme dosagem de emoção. Assim, parcelas da população não somente acreditam nas pesquisas que apontam seus preferidos na liderança ou muito bem colocados, como tendem a projetar tais resultados como se fossem uma prévia do resultado da própria urna. Já os simpatizantes de candidatos que surgem com pouca densidade nas pesquisas defendem teses conspiratórias e até mercantilistas. Afinal de contas, existe um lado certo nesse pseudoconflito? Nem certo e nem errado. Ambos os lados se comportam mais emocionalmente e menos racionalmente.
Mas antes de entrar mais detalhadamente na real importância das pesquisas eleitorais, vale a pena relembrar como elas surgiram e se desenvolveram. É necessário aqui um corte no tempo e uma curta viagem aos Estados Unidos, berço notável das atuais pesquisas.
Entre as décadas de 1910 e 1930, jornais e revistas americanas, principalmente a “The Literary Digest”, mas também o jornalão referência “New York Times”, publicavam cupons-resposta perguntando em quem seus leitores estavam pensando em votar nas eleições presidenciais. Aconteceram muitos acertos nesses levantamentos que não tem grande diferença, a não ser pelo universo abordado, das enquetes. Não há nada científico.
Na eleição presidencial de 1936, a imprensa com seus cupons-resposta apontaram uma tranquila vitória de Alf Landon sobre Franklin Roosevelt. A principal enquete-pesquisa era da “Digest”, que contabilizou cerca de 2 milhões e 500 mil respostas de seus leitores e também de americanos cadastrados nas listas telefônicas. Um até então desconhecido estatístico, George Gallup, ousou discordar. Baseado numa pesquisa com caráter científico, ele assegurou que o eleito seria Roosevelt, e com folga. A imprensa quis saber quantos cupons-resposta Gallup tinha para falar tamanho disparate. Ele explicou que não tinha nenhum cupom. Seu método era montado a partir de amostras estratificadas da população. Ele admitiu ter realizado “apenas” 3 mil entrevistas em todo o território americano. Claro que Gallup foi desacreditado pela imprensa. Abertas as urnas, Roosevelt foi o vitorioso, e com grande folga.
De volta ao contemporâneo, o método criado e desenvolvido por George Gallup é utilizado até hoje por praticamente todos os institutos de pesquisa de opinião pública no mundo todo. Serpes, Grupom e Verita, os maiores institutos sediados em Goiás, seguem esse método – com alguma variação conforme exigem os tempos atuais. Uma dessas mudanças é a abordagem do entrevistado. Gallup realizava esse trabalho nas residências. Hoje, com as cidades verticalizadas e a insegurança geral, as entrevistas são realizadas geralmente em locais público de grande fluxo. E são abordagens mais rápidas também, como exige a vida nas grandes cidades.
Essas mudanças mexeram levemente na época ideal para a realização das pesquisas, embora não interfiram no resultado final do trabalho. Quanto mais distante da eleição, maior poderá ser a variação de resultados. É por essa razão que na maioria das vezes o resultado das urnas difere das primeiras pesquisas eleitorais realizadas. Isso não é uma regra, mas uma probalidade. Por outro lado, quanto mais próximo estiver a eleição, maior a possibilidade de os números apresentarem consistência. É por essa razão que as pesquisas que mais se aproximam do resultado oficial das urnas é a chamada boca de urna.
Isso não quer dizer que as pesquisas atuais não contêm nenhuma informação relevante. Tem, sim, mas não como fator de previsão de resultado da eleição. Elas revelam várias facetas que, bem interpretadas racionalmente, entregam uma carga informativa bastante interessante, ainda que fortemente influenciada pelo grau de conhecimento público em torno de determinados candidatos. Esse fator, a diferença de popularidade entre os candidatos, é quase completamente eliminado durante a campanha eleitoral propriamente dita, que tem envolvimento total – para o bem ou para o mal – da população. É somente nessa época que as pesquisas começam a refletir tendências reais, e aumentar assim a carga informativa que há em cada relatório da amostragem.