Opositores passaram quase quatro anos levantando bandeiras conjunturais contra governo. Todas elas caíram. E agora?

Estrada que antes estava ruim foi restaurada pelo governo estadual: oposição fica sem uma de suas bandeiras
Estrada que antes estava ruim foi restaurada pelo governo estadual: oposição fica sem uma de suas bandeiras

Foram quatro anos batendo em questões localizadas e conjunturais. As oposições não se preocuparam em cons­truir argumentos estruturais para combater o governo de Mar­co­ni Perillo e seu grupo, e agora estão com as mãos vazias. Como justificar para o eleitor necessidade de mudança de governo, com quais argumentos? A julgar por tudo o que disseram em quase quatro anos, não há nada a oferecer como mudança real dos rumos administrativos ou políticos do Estado.

Bandeiras conjunturais são aquelas que batem em temas atuais. Ou seja, nas dificuldades administrativas reais que existam. A vantagem de utilizá-las é seu efeito imediato junto ao eleitorado. A desvantagem é que os governos podem eventualmente cor­rigir tais problemas, e derrubar toda a argumentação. A bandeira estrutural é mais filosófica, enraizada, de claro conflito de orientação.

Desde 2011, a oposição apostou nas bandeiras conjunturais e não se preocupou com bandeiras estruturais contra o grupo de Marconi Pe­ri­llo. Foi um caminho bastante fácil. No primeiro ano, a paralisia quase to­tal da máquina administrativa, sufocada por uma herança financeira negativa, conforme acusou o então secretário da Fazenda, Simão Ci­ri­neu, na época, permitiu aos o­po­sitores atingir duramente a imagem administrativa do grupo governista.

A saúde pública melhorou muito com as OSs
A saúde pública melhorou muito com as OSs

Aliado ao caixa em frangalhos, o fato de as rodovias estaduais terem sido abandonadas nos dois últimos anos da administração de Alcides Rodrigues, fez da buracrolândia nas GOs um discurso de fácil consumo e imediata identificação. Em 2011, caravanas do caos percorreram milhares de quilômetros de rodovias estaduais explorando intensamente cada buraco.

A reação do governo era óbvia e es­perada. Aos poucos, quilômetro por quilômetro, essa bandeira foi ar­riada. Hoje, a antiga bandeira esburacada dos opositores se transformou em bandeira de desempenho do governo, com a duplicação de rodovias e a construção de viadutos.

Quase paralelamente à exploração das rodovias, a oposição bateu du­ramente no péssimo estado de conservação dos prédios públicos, especialmente os que abrigam as es­colas estaduais. Também nessa área houve reação administrativa do go­verno, e nem mesmo a greve sistemática dos professores estaduais con­seguiu impedir que também essa bandeira conjuntural fosse arriada. Atualmente, o governo explora po­sitivamente o fato de que índices nacionais de exames apontam que a qualidade da educação pú­bli­ca em Goiás saltou do 16º lugar pa­ra o 5º entre os Estados brasileiros.

Em seguida, a oposição ergueu outra bandeira conjuntural, a saúde, área igualmente nevrálgica nas relações entre o poder e os cidadãos no Brasil. A cada antibiótico que faltava nas unidades havia um discurso bem alinhavado contra o governo. A cada paciente no grupo de espera de vaga, novos discursos. Hoje, discute-se apenas, e por setores localizadíssimos, se a solução adotada pelo governo foi boa ou não. A adoção do sistema de gestão dos hospitais públicos através de organizações sociais, a exemplo do que sempre foi feito no Crer, uma das joias da saúde pública goiana, dinamizou as soluções e o resultado é uma crescente satisfação por parte das pessoas atendidas. O modelo goiano tem sido adotado em várias unidades da Federação.

Sem essas três bandeiras, os opositores focaram no endividamento. Diante do fato de que o governo conseguiu aprovar financiamentos federais rotineiramente, a oposição passou a questionar se a solução momentânea, de reabastecimento das finanças estaduais via empréstimos federais, não se revelaria uma bomba-relógio. Um relatório da Secretaria do Tesouro Nacional acabou de vez com qualquer argumentação sobre o tema. Goiás é o Estado que mais conseguiu reduzir o endividamento em relação às suas receitas, afirmou o Tesouro. No ano 2000, por exemplo, Goiás precisava juntar toda a sua arrecadação líquida por mais de três anos para quitar suas dívidas. Hoje, diz o Tesouro, em pouco mais de dez meses toda a dívida líquida seria quitada.

Educação pública estadual: subida no ranking nacional
Educação pública estadual: subida no ranking nacional

Sem buracos nas rodovias, com o salto na qualidade da educação e saúde, e com a dívida batendo recorde nacional de redução, a oposição se voltou para uma enorme inquietação atual: a sensação de insegurança. O problema é sério mesmo, mas não fica restrito a Goiás. A violência se tornou uma doença social pandêmica do Brasil todo. Esse fato não invalida a questão estadual, evidentemente, e vinha sendo utilizado pelos opositores como mais uma bandeira conjuntural.

Mas também essa exploração está fragilizada. Há uma semana, o secretário de controle externo da defesa nacional e da segurança pública do Tribunal de Contas da União, TCU, Paulo Henrique Nogueira, apresentou relatório apontando que Goiás tem hoje a segunda melhor gestão de segurança pública em comparação com todos os Estados brasileiros. É mais uma bandeira conjuntural, portanto, que a oposição terá dificuldade para utilizar na campanha eleitoral.

Os principais analistas políticos de Goiás, inclusive da oposição, sempre alertaram para esse fato: os opositores insistiram no problema momentâneo, conjuntural, sem jamais articular solidamente um argumento estrutural de oposição. Foi um erro crasso. A­gora, às vésperas da campanha elei­toral, não resta muita coisa pa­ra explorar contra o governo de Mar­coni, que lidera a maioria dos ce­nários das pesquisas mais recentes.

Talvez seja esse o grande problema das oposições goianas: levantar bandeiras temporárias e não permanentes. E não é problema recente, não. Desde a espetacular e surpreendente vitória de Marconi Perillo em 1998, os opositores batem e se debatem em torno de questões localizadas no tempo e no espaço, e não na estruturação política. Esperam, assim, por uma “fadiga de material”, após três mandatos de Marconi.

Pelo visto até aqui, podem ter que esperar essa “fadiga” por mais quatro anos. Até perceberem que o eleitor muda o voto quando se convence que a estruturação está errada ou que pode ser melhorada. Por enquanto, ne­nhum opositor conseguiu formular alguma coisa estruturalmente melhor e mais moderna do que faz e fez Marconi Perillo. Por enquanto, é quase impossível imaginar que algum opositor, qualquer que seja ele, inclusive a soma de todos, conseguirá finalmente apresentar uma boa e consistente bandeira estrutural. E apenas com bate-boca é muito mais difícil vencer uma eleição.