O Triângulo das Bermudas da base aliada
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Campeoníssima em eleições para o governo do Estado desde 1998, base aliada não consegue ganhar em Goiânia, Aparecida e Anápolis
Há um grande mistério numa região no mar das Bahamas, na divisa entre as Américas do Norte e Central: o Triângulo das Bermudas. A região foi palco de inúmeros desaparecimentos de embarcações e aviões ao longo do último século, e até hoje ninguém consegue provar cientificamente todas as ocorrências. Os barcos simplesmente afundam, desaparecem misteriosamente.
Pois a base aliada estadual também tem um Triângulo das Bermudas eleitoral para chamar de seu. Imbatível nas disputas eleitorais desde 1998 para o governo do Estado, os candidatos da base afundam nas disputas em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis. Não que haja um mistério nessas sucessivas derrotas, mas não deixa de ser curioso o fato de que a mais formidável máquina eleitoral do Estado simplesmente não consiga sucesso nas três maiores cidades goianas.
É óbvio que não existem derrotas eleitorais inexplicáveis ou vitórias por mero acaso. Perde-se porque se escolhe um candidato de forma equivocada, desfocada em relação ao adversário, ou por falta de estrutura de campanha, que inclui capacidade de financiamento da campanha e montagem de boa chapa tanto de candidatos a prefeito e vice como também de vereadores.
A base aliada já seguiu vários roteiros para tentar a vitória em Goiânia. No ano 2000, primeira eleição após o marco histórico de 1998, com a eleição de Marconi Perillo para o governo do Estado, a base lançou provavelmente o nome mais imponente que tinha à mão: o da ex-deputada federal e atual senadora Lúcia Vânia. O ideal naquele momento seria a candidatura do ex-prefeito Nion Albernaz, que estava concluindo o seu terceiro mandato à frente da Prefeitura de Goiânia e surfava numa ótima onda de popularidade. Mas foi exatamente naquela eleição que o professor resolveu se aposentar das disputas, e não se candidatou a nenhum outro cargo depois disso.
Observando os perfis de Nion e Lúcia sob o ponto de vista do eleitor, naquela época, havia convergência nas imagens, embora Nion fosse um dos habitantes do Olimpo e Lúcia frequentava o local como visitante ainda – bem diferente de hoje, após sucesso em duas disputas para o Senado. Olhando-se para os adversários, percebe-se que a escolha de Lúcia Vânia foi correta – Pedro Wilson, PT, e Darci Accorsi (já falecido), ex-PT e que disputou aquela eleição pelo PTB.
O que era pra ser bom, ficou ruim. A campanha de Lúcia Vânia foi levada a um caminho errático ao não se aproximar da administração de Nion Albernaz, que era exatamente o modelo que o eleitor mais queria naquele momento. A boa imagem e bom discurso de Lúcia não conseguiram fazer frente aos perfis dos professores Pedro Wilson e Darci Accorsi, que já tinha governado a capital entre 1993 e 1996, exatamente numa sucessão ao prefeito Nion Albernaz. Ela terminou em terceiro lugar, e Pedro venceu os dois turnos contra Accorsi.
Em 2004, a base optou por uma candidatura com característica popular acentuada, com o deputado federal e radialista Sandes Júnior. Foi um fiasco total. Acostumada com um discurso mais apurado e refinado, a base aliada simplesmente virou as costas para Sandes, que havia passado por um corredor polonês no processo de afunilamento, que acabou preterindo a candidatura do então deputado federal Barbosa Neto, pelo PSB, preferido dos nionistas. Populista por populista, a maioria do eleitorado ficou com Iris Rezende, com Pedro Wilson, que disputou a reeleição, em segundo lugar.
Em 2008, numa eleição que todo mundo se anunciava candidato pela base aliada, mas que na verdade ninguém queria, a bola acabou sobrando novamente para Sandes Júnior. Iris, candidato à reeleição e reforçado com uma inédita coligação com o PT, passou como um trator sobre todos, colhendo o que ainda hoje é recorde de votos na capital do Estado, praticamente 75% dos votos válidos.
Em 2012, a base aliada passou muito tempo em intermináveis tititis internos até se definir pelo deputado federal campeão de mandatos Jovair Arantes, do PTB. Sob as bençãos de Iris Rezende, que deixou a Prefeitura para disputar o governo estadual em 2010, o ex-vice e então prefeito Paulo Garcia foi candidato à reeleição. E ganhou já no 1º turno. Jovair teve menos de 15 por cento dos votos válidos.
A eleição foi decida nas campanhas, e não nas estruturas, que eram bastante semelhantes. Paulo Garcia fez uma campanha impecável, e conseguiu vencer seu principal obstáculo naquela época, que era o fato de ser pouco conhecido. Já a campanha de Jovair foi exatamente inversa. O petebista, que levou anos para construir uma aura eleitoral forte, terminou a campanha com uma imagem menor do que quando começou. Além disso, a intensa disputa interna durante o processo de definição de candidatura na base aliada, havia deixado ferimentos que não cicatrizaram durante a campanha.
Em Anápolis e Aparecida, a situação da base é curiosa. Em tese, o grupo de Aparecida, que era comandado pelo ex-prefeito e ex-deputado estadual Ademir Menezes, só foi vencido recentemente, pelo hoje prefeito Maguito Vilela. O problema é que depois, na reeleição, em 2012, serviu como desmanche do grupo, que se encontra sem articulação suficiente para 2016.
Já em Anápolis, a segunda mais efervescente cidade política do Estado, a base aliada da um banho nas urnas com Marconi Perillo desde 1998, mas afunda rapidamente nas disputas locais. A rigor, a exemplo de Goiânia, a base nunca venceu em Anápolis. E o atual prefeito João Gomes, do PT, que era vice de Antonio Gomide, que deixou a Prefeitura para disputar o governo no ano passado, é apontado desde já como grande favorito na reeleição.
Para a base aliada, portanto, antes de vencer, é necessário encontrar uma fórmula mágica para sobreviver nesse verdadeiro Triângulo das Bermudas eleitoral em 2016. Fácil não vai ser.