Sem conseguir debelar a forte crise de caixa recebida em janeiro, e em meio a falhas gerais no funcionamento da máquina administrativa, imagem negativa vai se cristalizando

Prefeito Iris Rezende (PMDB): luz vermelha começa a surgir sobre ele como sinal inequívoco de desilusão
O caos só não é total por dois fatores: o salário dos servidores, embora tenha escapado do mês trabalhado para cair no quinto dia útil período seguinte, continua em dia e o serviço de reparação da rede pavimentada conseguiu mudar substancialmente o cenário de “guerra” que se tinha até dezembro. Fora esses aspectos, o restante da máquina administrativa de Goiânia não apresentou até aqui qualquer sinal de melhora.
Não se trata aqui de cobrança por melhor desempenho, mas somente o reconhecimento do global administrativo. Até porque, tecnicamente, qualquer governante em início de mandato precisa de um tempo para tomar pé da situação que lhe cabe administrar. Normalmente, aceita-se até seis meses de, digamos, uma trégua entre a população e o novo governante. Porém, mesmo nesse período, não é uma trégua incondicional como se imagina. As pessoas até aceitam que as coisas não entrem imediatamente nos eixos, mas não perdoam a falta de transparência sobre a real situação encontrada. Mais do que isso, igualmente não suporta conviver com as mesmas dificuldades no dia a dia e observar o funcionamento político-administrativo com práticas no mínimo problemáticas. Esses dois fatores estão presentes atualmente, e causam uma área de atrito na relação entre a Prefeitura e o cidadão. Provavelmente, essas são as duas causas para a trégua de seis meses não ter sido “respeitada” pela opinião pública.
A população sabe muito bem quando a crise bate forte no caixa da Prefeitura. Ela percebe imediatamente as consequências por causa da forte e necessária presença da administração municipal em seu cotidiano. Não há, grosso modo, qualquer forma de escamotear essas dificuldades financeiras. Faltou dinheiro, sobrou lixo nas portas das casas. Sem recursos não há médicos e atendentes em número mínimo suficiente nos postos de atendimento.
Nesse caso, a melhor arma que um novo governo pode usar é a clareza, a transparência sobre a herança recebida. Quando a sucessão ocorre dentro do mesmo grupamento político isso não é algo fácil. Mas, apesar da parceria entre Iris e Paulo Garcia ter sido montada nas eleições de 2008, ela foi formalmente quebrada logo no início de 2016, quando o PMDB fez as suas malas e rumou para a oposição. Ou seja, não houve sucessão dentro do mesmo grupo. Politicamente, portanto, a população sabe que a realidade encontrada por Iris Rezende pode ser mostrada. Como não mostra, a imagem é prejudicada.
Esse é o primeiro ponto que vem atazanando essa imagem, tornando-a negativa. Mas não é o único. Além de não revelar o monstro falido que encontrou, a atual gestão da cidade tem cometido alguns sacrilégios que talvez até passassem desapercebidos num quadro geral de bonança, mas nunca no meio de tantas crises e dificuldades. Três exemplos ilustram bem esse conjunto negativo, dois deles de vida próxima. O primeiro é a demissão em massa dos estagiários. Numa canetada só, todos eles foram demitidos. No momento seguinte, a imprensa revelou a contratação de quase 40 candidatos derrotados nas últimas eleições. O terceiro exemplo é o surgimento das contas da velha e tão problemática Comurg, empresa que vive há anos sob desconfiança geral. Anunciou-se cortes nos gastos, e o que aconteceu foi o oposto disso, com ligeiro crescimento nas despesas.
Essa situação não é, claro, definitiva. Seria este o caso se o mandato estivesse do meio para frente. Não agora. Embora a trégua não esteja mais em vigor, ainda há aquela ponta de crença de que a situação geral vai melhorar. A população acreditava antes, na campanha eleitoral, e continua acreditando agora, embora o grau de desconfiança esteja batendo lá no alto. O drama para esta atual temporada de Iris no comando da Prefeitura, é a quarta levando-se em conta também a sua eleição, na década de 1960, é que a luz deixou de piscar verde e entrou em amarelo. Se não houver reação correta e imediatamente, o grande perigo será uma prematura cristalização negativa da imagem administrativa, com reflexos também políticos. Quanto tempo ainda resta até que a luz se torne vermelha? Não há como responder a algo dessa natureza. O curso natural dos humores da opinião pública tem vida própria. Ora se acelera numa direção, ora na outra.
É inegável que o prefeito Iris Rezende, como um ser essencialmente político que é, sabe dos riscos que estão por aí. Talvez ele não tenha encontrado ainda o mecanismo correto para iniciar um processo de reversão. E o tempo vai queimando as oportunidades. A prestação de contas sobre a herança já era. Se não fez até aqui, é melhor nem fazer porque poderá ser interpretada como desculpas para os próprios erros.
Por fim, se a luz vermelha surgir como sinal inequívoco de desilusão, ainda assim nem tudo estará irremediavelmente perdido. O maior problema não é a crise que dispara o alerta máximo, mas a consolidação dos seus efeitos. Em outras palavras, a cristalização da imagem. Nesse caso, muitas vezes é até possível manter as coisas, mas o dano é permanente. O que aconteceu com a administração de Paulo Garcia foi exatamente isso: a imagem negativa entrou no alerta vermelho e ficou – por uma série de fatores, nem todos por culpa direta do administrador. A pecha de “pior prefeito” jamais foi completamente superada, e ainda hoje saúda o governo anterior a este. Neste momento, Iris corre esse mesmo risco. É necessário reagir. E rapidamente.
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