Iris exige o impossível para ser candidato
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Com a saída definitiva de Júnior Friboi do processo de afunilamento do PMDB, o grande líder agora diz que só será candidato com união total do partido
Vai entender como são as coisas no PMDB. Iris Rezende nunca deixou de ser candidato ao governo do Estado, mesmo quando dizia que nem pensava sobre isso. Depois, resolveu escancarar de vez e anunciou sua disposição de encarar mais uma vez as urnas. Surpreendido por uma maioria pró-Friboi, renunciou com uma carta nas mãos e retornou ao jogo de bastidores. Com a saída definitiva de Friboi do processo, Iris é o único nome que o PMDB tem à mão para não se transformar em caudatário nestas eleições. Ou seja, o líder peemedebista finalmente estaria com a faca, o queijo e a vontade de comer.
Só que agora é ele, Iris, que diz que não quer. Ou melhor, quer, mas sob uma condição: que o PMDB fique completamente unido em torno da candidatura dele. É lógico que isso faz sentido. O PMDB é uma força extraordinária, mas fica fraco se dividido. Iris é atualmente o nome com melhor penetração no eleitorado, mas sem todo o PMDB brigando por ele é quase um suicídio enfrentar Marconi Perillo como candidato à reeleição. Se com a união já não será fácil, com desunião total como se vê hoje é muito pior.
Quem criou a divisão interna
Iris, portanto, não exige nada que não seja extremamente lógico e prático, além de fundamental. O problema é que ele próprio liderou a divisão interna do PMDB. A maioria do partido já estava abraçada à candidatura de Friboi, e foi a resistência dos iristas que acirrou os ânimos internos, e que terminou por exaurir o preferido dos peemedebistas. O que Iris quer é que não façam com ele o que os seguidores dele fizeram com Friboi.
Não vai ser fácil colar os cacos do PMDB. O jogo foi muito duro, com caneladas e pernadas para todos os lados. Pra piorar, Friboi se retirou apesar de deter o apoio amplo da maioria, o que significa que Iris o derrotou politicamente, mas não pela conquista de mais posições.
Pelo menos do lado de fora dos corredores peemedebistas, e por tudo o que se ouve nas imediações, embora seja hoje um gigante nas pesquisas externas, Iris é um anão internamente quando comparado a Friboi no que se refere a seguidores. Pior: nesse tempo todo, e mesmo após o concorrente abandonar de vez a disputa, Iris estaria encontrando inúmeras dificuldades para agregar apoio não apenas entre os integrantes da tropa de choque montada por Friboi como também na militância rasa favorável ao empresário. Ou seja, com ou sem Friboi, Iris, internamente, continuou do mesmo tamanho.
Ainda não se sabe se realmente a ameaça de Iris de não se candidatar sem união no PMDB é pra valer ou não. Aparentemente, ele busca reforço fora do PMDB para criar perspectiva de poder, e assim dobrar fortes as resistências internas. Quem tem sofrido bastante com isso é a candidatura de Vanderlan Cardoso, do PSB. Os iristas insistem que o líder peemedebista está articulando uma chapa considerada peso-pesadíssimo, com ele próprio para o governo do Estado, Vanderlan na vice e Ronaldo Caiado, do DEM, como candidato ao Senado. Ele joga inteligentemente com a possibilidade de apoiar a candidatura à Presidência de Eduardo Campos, tornando o PMDB goiano dissidente em relação à candidatura de Dilma Roussef, do PT.
Mas essa operação toda não é tão simples. Iris não tem o comando da maioria no diretório estadual do PMDB, hoje pró-Friboi e contra ele. Assim, o líder peemedebista correria o sério risco de propor apoio a Eduardo Campos e ter sua proposta rejeitada, o que salientaria ainda mais a extensão das divisões internas do PMDB.
Uma composição com o PT, de Antônio Gomide, seria mais simples e direta. Iris contava com isso desde o início, mas os petistas, após se ofertarem tanto tempo, cansaram de esperar e se estabeleceram no mercado sucessório. Gomide, pessoalmente, foi quem mais apostou na candidatura própria do PT ao abandonar três anos de mandato como prefeito da segunda mais importante cidade do Estado politicamente, Anápolis. Recuar da candidatura sem nem lutar até o último momento possível poderia ser muito mal interpretado pelos anapolinos, que reelegeram Gomide um ano antes com votação acachapante.
Iris, portanto, vive o dilema de talvez não conseguir corrigir o que ele próprio ajudou a estragar, a unidade interna do PMDB. Isso poderá provocar duas situações limites: o partido abandonar candidatura própria ao governo e passar a apoiar outro candidato ou entrar na eleição não somente dividido, mas também completamente isolado em relação às outras forças partidárias oposicionistas. A situação é tão complicada que não é possível sequer identificar uma possibilidade ou outra. A decisão, qualquer que seja ela, sairá em no máximo 20 dias. Até lá, resta a Iris Rezende continuar tentando alguma mágica política. Mago de primeira ele sempre foi, mas não se sabe se ainda sobrou coelho dentro da cartola dele.