Os opositores da base aliada capitaneada pelo governador Marconi Perillo vivem o dilema da “irisdependência”, mas aliados ainda não sabem como derrotar o peemedebista

É de se esperar uma das mais eletrizantes disputas eleitorais em Goiâ­nia no ano que vem. E, como sempre, não há nada que indique um cenário absolutamente novo. De um lado vão se concentrar as forças da base aliada estadual, comandada pelo governador Marconi Perillo. Do outro, o velho Iris Rezende de guerra, do PMDB. E só. Ao contrário de outras eleições, dificilmente o PT, que sempre teve uma força eleitoral extraordinária em Goiânia, vai conseguir se inserir como protagonista real nesse confronto.

A situação do PT, por sinal, é bastante complicada. Além de todas as dificuldades de um confronto eleitoral quase épico pela dimensão das forças que estarão na disputa, neste momento os petistas batem cabeça sem saber se ao menos vão ter aliados realmente fortes, como foi o PMDB até aqui. Se ficar divorciado na parada, o PT terá que marcar presença com candidatura solo e nada mais. É provável que nem o PCdoB, velho aliado dos petistas, embarque junto.

Boa parte dos problemas que o PT deverá enfrentar nasceu dentro do partido. Composto historicamente por diversas correntes internas, a legenda viveu momentos bastante tensos para se compor nas eleições do ano passado, e as divisões se tornaram ainda mais evidentes e marcantes. Também por essa razão, é pouca a possibilidade de o PT marchar totalmente unido nas eleições de 2016. As alas principais do partido são praticamente inconciliáveis, e a união na campanha soa muito mais como propaganda do que unificação de interesses imediatos, ainda que eleitorais.

Mas não é apenas a disputa interna que prejudica a visão que se pode antecipar em relação ao PT no ano que vem em Goiânia. A administração atual não correspondeu à enorme expectativa que se criou na campanha de 2012, e os desgastes bastante graves ocorridos pelas crises administrativas desde então feriram permanentemente a popularidade do prefeito Paulo Garcia. Houve, de certa maneira, um princípio de recuperação, mas o ajuste fiscal do governo federal, que secou os cofres públicos de todos os governantes do Brasil, veio num péssimo momento para o prefeito: exatamente no momento que ele tinha para remontar-se perante a opinião pública.

O partido tem quadros expressivos, como a deputada estadual Adriana Accorsi, filha do ex-prefeito Darci Accorsi (falecido), o também deputado estadual Humberto Aidar, que teria o pecado venial de ser próximo do grupo antagonista do prefeito, liderado pelo deputado federal Rubens Otoni, além do ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edward Madureira, que não conseguiu se eleger deputado federal no ano passado. O problema aqui é muito mais, portanto, de intensidade eleitoral na eleição de 2016, e não de falta de candidatos bons.

Se sobram problemas de toda ordem no PT goianiense, a base aliada estadual também vive seus próprios e sérios dilemas. A começar pelo encaminhamento de um nome para a eleição. O mais popular, de acordo com as mais recentes pesquisas, é o deputado federal campeão de votos em 2014 Waldir Soares. Olhando apenas para os votos que ele recebeu na última eleição, não restaria qualquer dúvida de que Waldir é, sim, um virtual candidato a prefeito pronto, acabado e com muitas chances de vencer. Quando se observa o geral, aí a coisa muda bastante.

Waldir tem uma imagem fortíssima e popular, mas como delegado linha dura. Isso não parece ser uma varinha de condão para o eleger prefeito da capital. Ele terá então que migrar para discursos muito mais afins da administração da cidade do que de leis contra a bandidagem. Há, sem dúvida, uma ótima janela para essa migração de imagem, associando o duro agente da lei com o combate à corrupção e mazelas da administração. A partir daí, ele então poderá completar a mudança avançando por outros campos de debate que sempre “viralizam” a opinião pública, como o relacionamento da prefeitura e as empresas particulares do sempre complicado transporte coletivo. Neste caso, bastaria a Waldir desenvolver um discurso bastante duro em relação ao tema. Sua credibilidade garantiria uma boa possibilidade de sucesso.

É provável que seja por aí que Waldir vá trilhar. Até por não existir muitos outros caminhos eleitorais para ele. Se sair da base, cairá no espeto da oposição. Se ficar nela, e passar a ciscar para dentro e não espalhar para fora, como fez algumas vezes, poderá receber a unção da base para a disputa, tornando-se então um fortíssimo candidato a prefeito.

Caminhando mais próximo da base, mas sempre ressalvando que não faz parte dela — seria uma refilmagem da velha tese da “3ª via”? Se for, é tiro longe do alvo — Vanderlan Cardoso vive o mesmo dilema que feriu de morte todas as suas chances eleitorais nas eleições de 2010 e 2014: estrutura partidária. No sistema atual, é praticamente impossível disputar com alguma possibilidade de sucesso eleições majoritárias sem essa junção de forças. Sozinho e isolado, nem mesmo Iris Rezende e seu PMDB, que continua bastante representativo em Goiânia, conseguem navegar com alguma tranquilidade. Principalmente porque a base aliada estadual é a mais formidável e azeitada máquina eleitoral do Estado, e também de Goiânia.

Por falar em Iris, até pela necessidade que se tem nas eleições atuais, de uma boa composição partidária para agregar chances de vitória, o PMDB permanece sem outra opção a não ser seu velho comandante de guerra. Sem Iris, o partido fica muito menor, e talvez não consiga arregimentar aliados como necessitaria para a disputa. Iris candidato funciona como um imã bastante forte para os demais opositores porque oferece, além de sua liderança pessoal, uma grande perspectiva de poder.

Mas também para ele existem riscos, apesar de surgir como favorito. Seu aval em 2012 à candidatura de Paulo Garcia foi absolutamente decisivo. E a decepção com o governo que se seguiu depois tem custos, inclusive eleitorais. Para complicar mais um pouco em termos de nebulosidade, Iris não rompeu politicamente com seu sucessor, e nem se sabe se terá condições para fazer isso, e pode ter que disputar a eleição com o ônus de ser um candidato de um governo impopular.

Mesmo assim, é inegável que Iris Rezende se apresenta como favorito para mais uma vez se eleger prefeito de Goiânia. Só que desta vez ele não é tão favorito como nas outras vezes em que disputou o cargo. A grande vantagem para ele é que a base aliada não tem a menor ideia ainda agora de como enfrentá-lo com chances reais de vitória. Não há estratégia definida, e sem ela não se derrota um favorito, por menor que seja esse favoritismo.