O ritual do decano peemedebista segue inalterado: ele nega candidatura durante algum tempo para depois confirmar. Mas desta vez o processo pode se atrasar demasiadamente

Iris Rezende: um histórico de adiar o anúncio de candidatura | Fernando Leite
Iris Rezende: um histórico de adiar o anúncio de candidatura | Fernando Leite

Se for buscar na história político-eleitoral de Iris Rezende um só momento em que ele desde sempre se lançou candidato a algum cargo público, provavelmente vai se deparar com apenas uma situação: 1982. E também vai se observar que apenas naquela eleição havia um outro candidato a governador, e inclusive em melhor posição do que ele, Henrique Santillo. Em todas as demais eleições que disputou em sua longa e vitoriosa carreira, Iris Rezende sempre adiou ao máximo o anúncio oficial de candidatura. Este ano, em Goiânia, tem se a nítida impressão de que essa história se repete.

A tática de Iris, que foi vitoriosa na maior parte das vezes, pode não funcionar tão bem este ano. Não que ele necessite de um longo período para montar a candidatura. Ele aparece na frente em todas as pesquisas pré-eleitorais que se faça sendo ou não oficialmente candidato a prefeito de Goiânia. De qualquer forma, o problema está na montagem das chapas proporcionais, que geralmente são complicadas. Iris tem condições de oferecer uma real perspectiva de poder, e isso facilita as coisas, mas a eleição deste ano é um tanto atípica.
Em primeiro lugar, há o barulho nacional provocado pela gravíssima crise em Brasília, que ainda tem muita lenha pra queimar e muito bumbo para bater. Isso desvia bastante a atenção do eleitor local. Ou seja, o debate se torna muito mais abrangente e dominador das atenções quando se refere a Brasília. Em tese, isso deveria favorecer Iris Rezende, que é disparadamente um dos políticos mais conhecidos de Goiás, se rivalizando nesse aspecto inclusive com o campeoníssimo Marconi Perillo. O problema é que ainda assim, e as campanhas no passado mostram isso de maneira inquestionável, Iris se consolida a partir do momento em que protagoniza. Isso pode não acontecer este ano.

Iris também sempre contou com o reconhecimento e apoio incondicional do comando nacional do PMDB. Isso mudou completamente desde o processo pré-eleitoral de 2014, quando ele atropelou a candidatura do empresário Júnior Friboi ao governo do Estado, que era o preferido da cúpula. Iris ganhou aquela disputa, mas o efeito colateral daquela vitória ainda se faz sentir. Recentemente, ele perdeu o comando do diretório regional do PMDB. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde meados da década de 1980.

Por outro lado, a base aliada estadual tem se preparado muito mais, e provavelmente melhor, do que nas eleições anteriores. Caso se confirmem todas as candidaturas até aqui colocadas sob avaliação do mercado político goianiense, a base terá um leque de opções como jamais teve. Luiz Bittencourt, PTB, e Giuseppe Vecci, PSDB, devem monopolizar a atenção do eleitorado que cobra costumeiramente um discurso de linhagem mais embasada. Vanderlan Cardoso, do PSB, deve caminhar paralelamente à essa linha, acrescentando também uma imagem tipo “paizão”. Já o deputado Delegado Waldir Soares é pura emoção na linha popular-popularesca. Ou seja, para onde Iris apontar, encontrará um adversário de peso.

A soma desses valores individuais, quando avaliados enquanto conjunto, provoca previamente na campanha deste ano o surgimento de fatores não exatamente dimensionáveis. Isso porque há um aspecto que Iris terá que enfrentar especialmente: o seu apoio incondicional ao prefeito Paulo Garcia desde 2008. A imagem do governo de Paulo, como se sabe, é péssima, e sem possibilidades de recuperação nesta reta final de mandato. Além disso, e mesmo que se concretize um acordo de bastidores entre Iris e Paulo, é óbvio que o PT, que terá a boa candidatura da deputada estadual Adriana Accorsi, não pretende pagar os pecados administrativos sozinho. Pelo menos uma parte dessa conta será entregue na candidatura de Iris.

E é exatamente aí que mora um enorme perigo para Iris. Sabe-se que além do discurso tecnicamente bem elaborado, Luiz Bittencourt tem vocação natural para a polêmica. E será dele, portanto, e não de Vecci, que não tem essa característica, quem representará um enorme perigo na operação político-eleitoral que procurará desconstruir qualquer discurso que Iris Rezende utilizar na campanha deste ano. Mais uma vez, e também nesse campo, percebe-se uma soma de valores dentro das candidaturas da base aliada estadual, o que é uma novidade jamais enfrentada por Iris Rezende.

Nove em cada dez peemedebistas apostam que Iris será mesmo candidato mais uma vez a prefeito de Goiânia. Essa certeza, porém, já não tem a mesma intensidade de alguns meses atrás. Que Iris quer ser candidato, e isso ele sempre quer, parece não haver qualquer dúvida, mas daí a garantir que é apenas uma questão de tempo para o anúncio formal, não. Alguns poucos peemedebistas admitem que o velho líder está um pouco menos empolgado que de outras vezes. Pode até ser verdade, mas em se tratando de Iris Rezende não é possível ter certeza de nada. Iris é um dos grandes mestres políticos de Goiás, e ele só permite que se saiba aquilo que ele quer que se saiba.

É claro que a barulheira de Brasília vai continuar chamando muito mais a atenção de todo o eleitorado do que os problemas do dia a dia das cidades, e as propostas que apontem para a solução. Mas até isso vai ser superado nos próximos meses. A vida nos bairros é sempre muito mais importante para as pessoas do que os grandes e luxuosos salões da República.
Mas qualquer que seja a análise que se faça, uma pergunta paira: Iris poderá mesmo desistir da candidatura a prefeito de Goiânia? Não se sabe. Talvez nem ele próprio saiba, se é que ele tem alguma dúvida. Essa resposta só o tempo dará. Tempo relativamente curto: dois meses. O jeito é esperar.