Friboi precisa de exército, e não mais de mercenários
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A frase acusatória de Iris Rezende em sua carta-renúncia reforça a imagem de que Júnior Friboi construiu maioria no PMDB com o bolso farto. Só isso basta na eleição?
Júnior Friboi triturou Iris Rezende no afunilamento interno do PMDB rumo à sucessão estadual como jamais alguém havia conseguido fazer. No final, sem possibilidade de reagir ao vendaval do neopolítico e neopeemedebista Friboi, Iris escreveu uma carta ao diretório do partido anunciando que desistia da sua pré-candidatura ao governo. Nela, porém, Iris escreveu uma frase acusatória duríssima, de que o PMDB foi atirado num mercado de especulações pouco republicanas. Em outras palavras, dinheiro.
A acusação de Iris não parece ser dor de cotovelo por ter sido atropelado e apeado de sua liderança até então inquestionável no PMDB. Antes, quando ainda se dizia não candidato, Iris contou que Friboi andava por aí esbanjando disposição financeira. A deputada federal dona Iris, esposa dele, cansou-se de repetir nas redes sociais a acusação de que o processo dentro do partido havia se transformado em terreno minado pelo dinheiro de Friboi.
Essas declarações, longe de representar ou não a exata dimensão da realidade, reforça a imagem que se tem de que Júnior Friboi até agora ofereceu politicamente apenas promessas daquilo que o dinheiro pode comprar. Aliás, o próprio reforçou essa impressão dizendo sempre que não precisa do apoio financeiro de ninguém para custear a sua campanha ao governo. Ao contrário, disse ele várias vezes, pretende abrir os bolsos para bancar os gastos dos candidatos a deputado federal e deputado estadual do PMDB e também dos partidos que o apoiarem.
Friboi vai cumprir o que anda prometendo? Não há nada no passado dele que indique que não. Ao contrário, desde que era presidente da JBS, a controladora das empresas Friboi, ele sempre foi um grande financiador de campanhas. Não apenas aqui, mas também em outros Estados e em nível nacional. Se abriu as burras no passado, quando não era candidato, provavelmente não deixará de pagar as suas atuais promessas.
É óbvio que dinheiro fácil em campanha tem um poder de atração quase irresistível para qualquer candidato. Os gastos nas eleições brasileiras são realmente impressionantes, maiores até do que nos Estados Unidos. Os gastos dos candidatos europeus, então, são fichinha. É provável que a soma dos gastos de todos os candidatos, em todos os partidos, em um Estado como Goiás seja maior do que as despesas de campanha de candidatos à presidência/primeiro-ministro de quase todos os países europeus individualmente. Então, as palavras de Friboi de que está disposto a bancar despesas de quem for candidato do lado dele gera um poder de atração colossal, como denunciou Iris Rezende.
Mas a partir de agora o jogo será outro. Não dá pra sair por aí atrás de eleitores usando a mesma tática empregada na conquista de candidatos e de apoios partidários. Até o poder do dinheiro tem limites numa eleição majoritária, e é nesse vasto campo da confiança popular que Júnior Friboi terá que adentrar a partir de agora.
Até aqui, levando-se em conta a disputa interna, e o que transbordou para outros partidos que anunciaram apoio ao empresário e não ao PMDB, Friboi não conseguiu montar um exército disposto a “matar ou morrer” por ele. Quando muito, suas fileiras estão majoritariamente ocupadas por mercenários, que amam o bolso de Friboi e não a ele propriamente dito. Com forças estruturadas dessa forma, financeiramente, não há qualquer registro de alguém que tenha vencido eleições para o governo do Estado na era moderna, apesar das fragilidades inegáveis das regras eleitorais brasileiras. O dinheiro é fundamental nas eleições. Por falta dele, há inúmeros casos de bons candidatos que não tiveram fôlego suficiente para chegar bem ao final das campanhas, e terminaram derrotados. Mas nem todo o dinheiro do mundo é suficiente por si só para garantir uma vitória.
Nenhuma campanha eleitoral consegue se estruturar sem mão de obra remunerada. É óbvio que não. Se fosse assim, tão puro, as campanhas não seriam caras como são. Portanto, e até certo ponto, não há nada errado com a campanha de Friboi. Pelo menos, em tese. O que acontece é que ele conta somente com esse tipo de apoio, e não de um grupamento coeso cujo centro seja ele, e não o bolso dele. E são os grupos que realmente fazem campanha ao longo do tempo, “matando e morrendo” pela causa. Os mercenários podem até “matar”, mas nunca aceitam o risco de afundar junto com o capitão apenas por amor à bandeira do barco. A paixão política comprada é exatamente isso, como jornada sexual na prostituição, sem amor.
A candidatura de Júnior Friboi, portanto, tem pela frente a árdua tarefa de erguer um exército que vá além daqueles que foram eventualmente atraídos pela promessa da fartura financeira, conforme acusou Iris Rezende e admitiu o próprio Friboi com suas promessas. Para isso, terá que fazer em um ou dois meses o que os políticos históricos levam anos para conquistar. Até aqui, o jogo político pode ser resolvido à maneira Friboi, mas daqui em diante, não. Esse é o maior desafio dele a partir de agora. Um baita desafio. Mas quem disse é fácil vencer uma eleição para governador? Se alguém disse, mentiu.