A força do grupo é Marconi
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O grupamento que vence eleições em Goiás desde 1998 tem no governador seu principal articulador político e formador de ideias no campo administrativo. Nem sempre foi assim
O “Tempo Novo” envelheceu? Os opositores dizem que sim. Mas falam isso desde 1999, primeiro ano de governo desse grupamento. A oposição sempre apostou muito alto na tese de que a base aliada estadual estava fadada a ter vida curtíssima. Obviamente, os opositores perderam esse bonde da previsão catastrófica que se baseava tão somente, e provavelmente, na sensação de que o “Tempo Novo” era empolgação passageira e não uma mudança na estruturação do pensamento político-administrativo da gestão do Estado. Nesse sentido, o “Tempo Novo” não envelheceu, mas acumulou experiências.
Ainda assim, e recentemente o deputado federal Thiago Peixoto, uma das pérolas que revelam a altíssima e salutar prática da renovação interna — que a velha guarda do PMDB não soube dar o devido valor à época —, chamou a atenção recentemente para o que ele entende ser uma diminuição da capacidade criativa do grupamento. Ele tem razão ao fazer esse tipo de alerta? Talvez não totalmente, mas o que ele diz faz muito sentido: a base não tem produzido mais formuladores como produzia em outros tempos. Há grande diferença que existe entre a atual base e a principal oposição, representada pelo PMDB, chama-se Marconi Perillo. Ele, sim, continua com a mesma disposição e capacidade criativa de sempre.
É natural que isso ocorra com o passar dos anos. Os antigos e principais formuladores do pensamento político-administrativo do “Tempo Novo” estão agora em novos desafios e funções. Pegue-se, apenas a título de exemplo, Giuseppe Vecci. Ele sempre foi o leal e permanentemente próximo de Marconi na área do planejamento. Desde 2014, no entanto, Vecci resolveu se aventurar no mundo dos mandatos, e a partir de 2015 passou a despachar em um dos gabinetes da Câmara dos Deputados. Quem o substituiu na função que ele exercia — função e não exatamente o cargo — foi Marconi. O próprio Thiago Peixoto trocou Goiânia por Brasília após concluir que a base aliada vive e respira graças a Marconi Perillo.
Não há dúvida que o deputado do PSD está coberto de razão ao entender que a base aliada estadual, protagonista de tantas mudanças na concepção político-administrativa do Estado, precisa oferecer mais ao comandante do que somente um voluntarismo sem fundamentação bem estruturada. Esse, no caso, é o grande drama sempre vivido pelas oposições no Estado: não há a formulação de ideias e nem o debate delas. No caso do governo, Marconi não tem mais como debater internamente por falta de interlocutores à sua altura e com a mesma disposição.
A grande evidência que comprova esse fato está na movimentação do governo. E essa movimentação se resume aos atos, gestos e disponibilidade do próprio Marconi Perillo. Observe-se as relações entre os governos de Goiás com os demais Estados do Centro-Oeste – que resultou num fórum permanente de debates e se espalhou também para Estados do Norte do país. Ou então a situação frequente de Goiás na Presidência da República e com ministros de Estado. Só dá ele, Marconi. Se antes havia secretários que peregrinavam pela Esplanada atrás de recursos federais para a concepção de obras e benefícios para a população, hoje isso é realizado pelo governador quase que exclusivamente.
A grande verdade é que a base aliada estadual, o “Tempo Novo”, deve muito a Marconi Perillo. E essa dívida atinge o grau máximo: o grupamento só existe ainda por causa dele. É ele o grande articulador político e único agitador de ideias dentro desse grupamento. A necessária renovação se da na evolução que ele próprio consegue oferecer dentro da visão de campo político-administrativo. Que se tome como base disso as mudanças que foram propostas e implantadas pelo governo diante da extraordinária crise econômica que se abateria sobre o país em 2015. Ele se antecipou aos problemas, e enfrentou caras amarradas até mesmo dentro do governo. Poucos foram aqueles que o ajudaram naquele momento absolutamente difícil, mas muito necessário. E qual é o resultado que se obteve? Esse que aí está, e que tem incomodado muito alguns setores da oposição: saldo suficiente para aplicar cerca de 3 bilhões de reais em investimentos neste e no próximo ano. Como compreender uma situação como essa em Goiás diante da duríssima realidade da grande maioria dos demais Estados brasileiros, entre os quais três dos quatro mais ricos que não conseguem nem ao menos quitar regularmente a folha de pagamento dos servidores?
Essa é a diferença protagonizada pelo governador em relação à maioria do mundo político estadual. Ele consegue suportar as horas difíceis, e nelas encontrar mecanismos para sair ainda mais fortalecido. Antes, era mais fácil para ele essa tarefa. Ele tinha gente como Edson Ferrari, um parachoque que barrava de maneira apaixonada muitas crises políticas. Tinha o próprio Vecci e Thiago Peixoto. Resta ainda um time, embora bem menor em quantidade, que bate bola com maestria, como Antônio Faleiros, organizador que sintetizou mudanças na condução da bem avaliada política de saúde estadual. Surge também uma surpreendente liderança na Assembleia Legislativa que é a cara dessa boa inquietação política que sempre marcou como principal característica do “Tempo Novo”, o presidente José Vitti. Surpreendente porque ele impactou com suas ações de maneira positiva ao se ver no cargo máximo do legislativo estadual. O espaço para esse tipo de atuação sempre esteve aberto no interior da base aliada estadual, e possivelmente outros devem surgir.
Esse é o confronto de estilos que estará nas eleições de 2018. Se não quiser perder mais uma vez, e obviamente que não quer, os grandes nomes das oposições precisam abrir mais o debate interno, renovar a prática das discussões e criar assim um celeiro de ideias que possa ser oferecido como opcional para os eleitores goianos no ano que vem. De outra forma, o eleitor vai continuar com uma só opção, que no confronto entre riscos e certezas, tem beneficiado o grupamento político liderado por Marconi Perillo. l