Essa chapa deu liga?
COMPARTILHAR
Eles sempre foram adversários, mas agora resolveram selar seus interesses eleitorais numa mesma chapa. Essa química funcionou ou não?
Se alguém dissesse ao mundo político de Goiás há um ano, ou há dez, que Iris Rezende (PMDB) e Ronaldo Caiado (DEM) disputariam lado a lado a eleição de 2014 como se fossem velhos aliados seria olhado com desconfiança total. Somente a um desmiolado ocorreria uma ideia tão maluca quanto essa. Pois não é que é exatamente isso o que está acontecendo agora. Iris e Caiado não apenas estão de braços dados neste início de campanha eleitoral como atuam feito dupla sertaneja, enquanto um afina a viola, o outro dita o ritmo.
E se para muita gente, senão para todos, essa união seria marcada pelo constrangimento total pelo menos no início, os traumas, se existentes, foram muito pequenos. Caiado, por exemplo, chegou tão chegando que se viu no direito de dar “bronca” geral e convocar para a campanha, inclusive cutucando o principal prefeito do PMDB, Maguito Vilela, de Aparecida de Goiânia, segundo maior colégio eleitoral do Estado, ao citá-lo pessoalmente ao dizer que não bastava apoiar da boca pra fora. “Tem que trabalhar 24 horas por dia”, cobrou.
É uma mudança e tanto para ambos. Caiado assumiu o comando do DEM/PFL em 1991 exatamente para evitar que o partido se acoplasse ao PMDB de Iris Rezende. Em 1994, candidato ao governo do Estado, foi o mais duro adversário do peemedebista Maguito Vilela, então vice-governador ungido pelo próprio Iris. Em 96, ajudou a compor o núcleo inicial da base aliada que conquistou a Prefeitura de Goiânia com a candidatura de Nion Albernaz, PSDB, e dois anos depois, tendo à frente Marconi Perillo, destronou Iris Rezende e o PMDB do governo do Estado.
Só por esse breve currículo já da pra se ter ideia do tamanho da curva política representada pela união atual. Mas o começo disso tudo remonta o início do século passado, ainda nos anos dominados pelo senador Totó Caiado e Pedro Ludovico de Almeida. Ronaldo é neto de Totó, e Iris representou durante muitos anos o ludoviquismo. Essa eterna disputa entre os Caiado e esse ramo ludoviquista, pelo jeito, finalmente acabou.
Olhando para tudo isso, é possível imaginar que o acordo eleitoral entre Iris Rezende e Ronaldo Caiado foi um parto sofrido, a fórceps. A imagem faz algum sentido, mas não exatamente pelos motivos aparentes. Na realidade, essa união foi a solução perfeita para os inúmeros problemas atuais tanto de um quanto do outro.
Iris Rezende viu seu hegemônico e inquestionável poder interno no PMDB evaporar-se quase instantaneamente por um estreante, Júnior Friboi. Empresário milionário, cismou com a ideia de governar o Estado e, após breve e avassaladora passagem pelo PSB, desembarcou no PMDB via direção nacional. Dominado o topo, Friboi desceu às bases e em menos de um ano se tornou amplamente majoritário no PMDB. No final, entregou os pontos e foi-se embora, quitando assim a dívida de ser estreante.
Reacomodado na liderança do PMDB, Iris continuou isolado. E quando tudo para ele parecia totalmente perdido, inclusive o PT, de Paulo Garcia, eis que surge Ronaldo Caiado, que de quebra atraiu naturalmente outro dissidente da base aliada estadual, o deputado federal Armando Vergílio, do recém criado Solidariedade.
Para Caiado, Iris também foi a salvação imediata de sua pretensão política atual, que é a de se transferir no ano que vem da Câmara dos Deputados, onde está há 20 anos, cinco mandatos consecutivos, para o Senado da República. Após sete anos e meio distanciado da base aliada estadual comandada pelo governador Marconi Perillo, ele articulou-se com Vanderlan Cardoso, ex-herdeiro do poder palaciano de Alcides Rodrigues, em 2010. Quando tudo parecia certo, eis que Marina Silva, candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, vetou completamente o palanque do partido articulado aqui em Goiás. Sem espaço ali, Caiado ensaiou alguns passos num possível retorno à base aliada, mas os anos de distanciamento acabaram pesando muito. Foi só então que ele descobriu e foi descoberto por Iris Rezende.
Então, a chapa Iris/Caiado deu liga, sim. Um foi a tábua de salvação do outro no meio do mar revolto da política, e vice versa. Casamento perfeito. Se essa química e sintonia se estendem para as hostes partidárias de cada um, é outra história. Uma boa parcela do DEM preferiu continuar junto com a base aliada estadual. No PMDB, sabe-se que o núcleo irista agora é Caiado desde os tempos do senador Totó, mas o partido não é mais aquele monólito de antigamente. Quanto ao resultado eleitoral desse casamento, resposta só em outubro.