Dispersão da direita que favoreceu PT em 2024 deve se repetir em 2026
20 outubro 2024 às 00h00
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Na última quarta-feira, 16, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que será ele o candidato à presidência da República em 2026. A declaração foi uma resposta ao presidente de seu partido, Valdemar Costa Neto, que havia afirmado que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o “número 1 da fila” para disputar o Palácio do Planalto em 2026 pela base bolsonarista. No entanto, apesar de contundente, a previsão de Bolsonaro, hoje, não só é improvável, como disparatada. Considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que reconheceu a prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião realizada no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros, Jair ainda conta com forte influência no voto da direita, mas não pode disputar eleições.
Nos bastidores, a bravata do ‘Eu sou o candidato’ é lida como uma tentativa do ex-presidente de desmobilizar outras lideranças da direita que emergem como alternativas fora da bolha bolsonarista para 2026. Mas o cenário que já desponta no horizonte é de uma direita “sem dono”, correndo por fora da alçada de Bolsonaro e, ao mesmo tempo, dispersa.
Ao menos seis nomes do campo direitista já são cotados para disputar a próxima eleição para a presidência da República: Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Ratinho Jr., Pablo Marçal e Ronaldo Caiado. Esse último já confirmou sua pré-candidatura (inclusive, foi o primeiro entre todos a fazê-lo). E mesmo que ainda haja indefinição sobre qual nome vai concorrer pela base bolsonarista, é certo de que ela terá representante.
Enquanto isso, as articulações dentro da esquerda se voltam para um único nome: Lula da Silva, do PT. O atual presidente já é tido como candidato à reeleição, aparecendo, inclusive, na liderança em pesquisas iniciais de intenção de voto para 2026 (à frente de Marçal, que já figura em segundo lugar numa provável disputa presidencial. Há, também, a possibilidade de o ex-coach disputar o governo de São Paulo). Corre a informação de que Lula, por sua vez, estaria avaliando lançar o deputado federal e hoje candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Psol, Guilherme Boulos, como seu escolhido na corrida ao Planalto, ou mesmo o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De uma forma ou de outra, os possíveis candidatos de esquerda (competitivos) para 2026 não chegam a completar os dedos de uma mão
As articulações que se desenrolam a pouco mais de um ano do início oficial da eleição presidencial preveem, portanto, um “déjà-vu” para o eleitorado de várias capitais brasileiras, incluindo Goiânia, que vivenciaram um contexto eleitoral com poucas (mas robustas) candidaturas de esquerda e várias de direita no pleito. Na capital goiana, por exemplo, de sete candidatos que disputaram o Paço Municipal nas eleições deste ano, ao menos três se declaravam ‘de direita’ (enquanto dois se disseram de esquerda e os outros dois foram tidos como centro ou centro-direita). Dois deles, Sandro Mabel e Fred Rodrigues, seguiram para o segundo turno, que será decidido no próximo dia 27 de outubro. Mesmo disputando o eleitorado sob perspectivas distintas – enquanto Mabel reivindica o status de ‘perfil gestor’, Fred tenta atrair votos pelo viés ideológico/bolsonarista -, ambos os políticos correm dentro do mesmo espectro político.
Mesmo tendo ficado fora do segundo turno, a delegada licenciada e deputada federal Adriana Accorsi foi, em tese, uma das maiores beneficiadas pela conjuntura presenciada ao longo da campanha do primeiro turno e na conclusão dele, em 6 de outubro. Adriana obteve, neste pleito, sua votação mais expressiva (com a deste ano, a deputada federal disputou seis eleições, incluindo para deputada estadual, federal e prefeitura): 168,1 mil votos – uma margem de diferença de menos de 25 mil votos em relação a Sandro Mabel, que foi para o segundo turno em segundo lugar.
A pulverização dos votos da direita entre três candidatos que clamavam para si o título de representante deste espectro político e a unificação das siglas de esquerda e centro-esquerda em torno de um único nome – o de Adriana – são tidas, sem sombra de dúvida, como grandes impulsionadores do crescimento da delegada licenciada. A comodidade com a situação “Eles lá e eu cá” foi tamanha que alguns aliados chegaram a atribuir à “tranquilidade” de Adriana um dos motivos de sua derrota. “Ela achou que a briga ficaria só entre a direita e baixou a guarda”, disse, em off, um aliado da petista.
Como dito, não é improvável que um quadro semelhante – com a direita dividida e a esquerda unificada – se concretize nas eleições para presidente da República, em 2026. Nesse caso, levará quem tiver a seu favor as armas da experiência e da postura propositiva, já que “Ser de direita” será carimbo padrão e batido para o eleitor.