Enquanto a oposição tenta tematizar ataques ao governo, parte da base se mantém em silêncio e passa a imagem de falta de compromisso político

Funcionalismo estadual e empresariado goiano sofrem com a crise, que tem origem no governo federal | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Funcionalismo estadual e empresariado goiano sofrem com a crise, que tem origem no governo federal | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O governador Marconi Perillo está capitaneando talvez o maior e mais robusto potentado administrativo do país neste ano de fortíssima crise econômico-financeira que está se agravando a cada dia. O duríssimo corte de secretarias de Estado, que fez da hierarquia de Goiás provavelmente a menor de todo o Brasil, mesmo levando-se em conta não somente as estruturas estaduais, mas também das maiores cidades, é uma medida que, apesar dos óbvios sacrifícios de espaços políticos, deveria servir como argumento para a estabilização dos naturais ataques dos opositores neste ou naquele ponto isolado. Mas, ao contrário do que seria óbvio, não é isso que se tem visto em boa parcela dos integrantes da base aliada estadual. Há um silêncio absolutamente comprometedor diante de uma oposição que atira em várias direções em busca de um alvo que seduza a população.

Os temas utilizados pelos opositores não conseguiram mexer com os humores da população. E é realmente uma coisa bastante complicada tematizar um conjunto de medidas que repartiu os encargos da crise fortemente recessiva, com carga muito maior para a própria máquina administrativa.

Há sacrifícios para os empresários? Claro que sim. A antecipação do recolhimento de ICMS, do dia 10 para o dia 5, exige uma reengenharia administrativa, sem dúvida. Muito pior seria se houvesse um aumento de alíquotas de forma generalizada, como fez o governo federal com seus impostos. Há sacrifícios para os funcionários públicos? Também. Deixar de receber integralmente no último dia do mês, como sempre ocorreu nos governos comandados por Marconi Perillo desde 1999, quando a herança de salários atrasados dos governos anteriores foi vencida e adotou-se o atual modelo, de pagamento antecipado, causa bastante incômodo, e igualmente significa uma reacomodação de administração doméstica. Há sacrifícios para a população? Inegavel­mente, sim, há. O conjunto de obras que vinha sacudindo o Estado todo entrou em ritmo bastante lento, o que significa que os benefícios que se esperava para curto prazo vão demorar mais tempo para serem concretizados.

Mas a maior carga de sacrifícios foi imposta no comando central da máquina administrativa. Politicamente, nada é mais confortável do que distribuir cargos de primeiro e segundo escalões a rodo, como aliás se mantém como prática no governo federal, apesar da crise ter origem lá. Ter em mãos somente dez secretarias, algumas delas estritamente técnicas, é ver reduzir dramaticamente a capacidade de atendimento dos interesses por espaços políticos dentro de uma coalizão de governo. Também é difícil dizer não o tempo todo para as demandas de prefeitos, igualmente sufocados com os efeitos da crise recessiva.

A oposição, de uma maneira geral, não é muito afeita aos levantamentos indicados pelas pesquisas de opinião. Alguns de seus líderes acreditam mais no empirismo que julgam possuir e acabam agindo e atuando por instinto, sem focar temas que realmente sejam “tocados” pela população. O governo ao contrário, e particularmente o governador, não tira os olhos dos termômetros da opinião pública. E há indicativos de que a população entende o momento e as dificuldades, e mesmo não gostando da crise, obviamente, entende as medidas que foram adotadas.

Esse quadro geral revela que a base aliada teria argumentos suficientes para responder politicamente os ataques da oposição, inclusive com a forte possibilidade de se encontrar apoio imediato da população. Mas parte da base está a tudo vendo e ouvindo, e permanece calada, silenciosa, como se não tivesse qualquer compromisso com a coalizão que governa o Estado. Em determinados momentos, fica até mesmo a impressão de que alguns aliados torcem para que os opositores acertem algum alvo que possa gerar problemas políticos para o Palácio das Esmeraldas, como se isso pudesse valorizar apoios.

É um suicídio político assumir atitudes assim? Não chega a tanto, mas certamente não cria créditos futuros. Os efeitos vão ser sentidos nas eleições municipais do ano que vem, fundamentais para os deputados estaduais em 2018. Se a oposição avançar, certamente a disputa sucessória estadual vai se tornar bem mais complicada do que foi agora em 2014, quando a coalizão conseguiu maioria absoluta e arrasadora. O silêncio agora equivale a trocar o conforto futuro por um imediatismo inseguro e incerto.