A caminho da extinção?

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No mundo todo, os jornalistas estão perdendo vagas aos montes. Isso significa que a profissão será extinta como tantas outras no passado?

É quase impossível dizer ao certo quando, onde e quem começou, mas uma onda permanente de demissões tem varrido e aterrorizado jornalistas no mundo todo. Ao ponto de muita gente começar a perguntar, e se perguntar, se a profissão está fadada a desaparecer aos poucos, assim como aconteceu e está acontecendo com tantas outras, como datilógrafo, sapateiro, alfaiate, entregadores de leite (leiteiros), telefonistas, cobradores de ônibus urbanos (em Goiânia, por exemplo), fotógrafo lambe-lambe, empacotadores de supermercados… Será que é esse também o futuro do jornalismo?
Não creio. Haverá, e está havendo, na verdade, uma remodelagem geral, e a redução dramática no número de empregos nessa área, muito acentuadamente nas redações dos jornais impressos. Esse aspecto, sim, os jornais impressos, sonho primeiro da maioria esmagadora dos jornalistas antigamente, estão caminhando para a extinção, e com eles vão as vagas de jornalistas. O sinal mais eloquente dessa mudança é a extinção de algumas funções, como revisores de texto e redatores. Hoje, o jornalista exerce o papel de repórter, redator de texto final, revisor e, quando é o caso, diagramador.
Mas o que dizer da TV e do rádio, o jornalismo vai desaparecer também nesses veículos? Dificilmente, mas igualmente nessas redações as vagas estão diminuindo bastante. Antes, uma equipe de reportagem de TV era composta por, no mínimo, quatro profissionais: motorista, cinegrafista, auxiliar de cinegrafia e, ufa, repórter. Nas grandes emissoras, há ainda o produtor, que garante o desempenho do repórter. O motorista e o auxiliar rodaram no mercado. Não são mais necessários. As câmaras utilizadas hoje são muito mais leves, carregam luz artificial quando necessário (geralmente, em ambientes externos, não se usa luz por causa do extraordinário aumento da sensibilidade do equipamento, que consegue “produzir” brilho automaticamente para compensar o ambiente menos ou mais claro). Já o motorista ainda é utilizado em muitas emissoras, mas boa parte delas usa somente o cinegrafista, que passou a receber adicional para dirigir os carros.
No rádio, o processo foi mais ou menos como esse, com o agravante do surgimento das redes nacionais — em Goiânia e em todas as grandes cidades brasileiras, as redes enchem o dial. Isso significa menos locutores, menos profissionais de produção, repórteres e editores. E menos motoristas também. Não é mais necessário carro com equipamentos especiais (unidade volante que no jargão do meio ficou conhecida como motorola). O celular resolveu tudo de maneira mais simples e rápida.
Nas emissoras de TV, os editores de imagem também perderam muito espaço (e vagas de emprego) com a utilização dos computadores. Se antes eram necessários cinco bons editores para montar as reportagens de um programa, hoje bastam dois, e computadores. E os arquivistas de videotape também desapareceram. Tudo está guardado virtualmente e basta um clique para “buscar” uma reportagem ou algum trecho que será usado novamente.
Sim, sim, está certo quem concluiu que os computadores são uma das principais causas da extinção de vagas de profissionais nos veículos de comunicação do mundo todo. Mas são eles também que estão abrindo as portas para um número infindável de vagas para jornalistas: a internet. É para aonde aponta o futuro, que já se faz presente.
Estou nos quadros do Jornal Opção desde o retorno deste veículo, entre idas e (sempre) vindas. Conheci uma redação pequena, que cresceu à medida que o jornal expandiu. E agora que ele é zilhões de vezes maior, a redação está bem menor. Eu mesmo passava dezenas de horas diariamente na redação. Há anos só vou lá para bater papo com os amigos/colegas/companheiros.
E o perfil do nosso leitor é a prova definitiva para os incrédulos. Antes, as tiragens do jornal eram cada vez maiores. Hoje, mesmo que fossem impressos dez vezes mais exemplares do que naqueles tempos, seria apenas uma pequena gota num oceano fantásticos de leitores virtuais, que acompanham o Jornal Opção pelos celulares, tablets, notebook e computadores de mesa. Sem falar no alcance geográfico do Jornal. Estávamos restritos a Goiânia e Aparecida, Anápolis, Brasília e posteriormente o Estado do Tocantins, notadamente em Palmas e nas grandes cidades. Hoje, o alcance do jornal é o planeta inteiro, e eu, velho jornalista dos tempos em que as manchetes eram feitas numa maquininha chamada mancheteira e que manchavam as mãos de tinta, me impressiono com os milhares de leitores nos Estados Unidos, França, Portugal, Inglaterra e onde mais existam brasileiros, e especialmente goianos.
A profissão de jornalista pode acabar por força da internet e redes sociais, onde todos os usuários passaram a ser um pouco repórteres/fotógrafos/cinegrafistas? Não. Nem agora nem nunca. Não acredito de forma alguma. Por uma única razão: jornalista não é apenas aquele que se transforma num divulgador de informações, mas aquele que nasce jornalista. O que mudou foi o “monopólio” da divulgação. Hoje, todos podem ser divulgadores, mas um jornalista jamais será apenas isso. Ele terá sempre, e naturalmente, que estar um passo adiante, na frente. Se ele não tem essa característica, então, sim, ele se iguala a todos os “divulgadores”, e não nasceu jornalista. E, por isso, não será nunca um jornalista. Não nesta vida.
Podem diminuir, como estão diminuindo, as vagas nas redações, mas sempre haverá espaço e necessidade de se poder ler, ouvir, ver/ouvir um jornalista. A comunicação é essencial à condição humana, e o jornalismo é a essência da nossa capacidade de comunicar. Portanto, a não ser que os humanos algum dia deixem de se comunicarem, o jornalismo/jornalista permanecerá tão eterno quanto a raça humana. Palavra de um velho repórter que vive isso ao longo de 39 anos de redações.