A disputa no campo oposicionista neste período de pré-campanha tem alternado bons momentos de um e de outro candidato

Ronaldo Caiado | Foto: Divulgação

O que era para ser uma corrida de obstáculos para afunilar a oposição representada por MDB e DEM em um único candidato se tornou uma disputa para avançar sobre alianças e se credenciar melhor para um possível segundo turno. Alguns opositores ligados ao senador democrata ainda falam oficialmente em união, mas no MDB, ou o que restou dele, nem Daniel e nem Caiado vão abrir mão de suas pretensões ao governo do Estado.

É um jogo de perde e ganha, com os dois protagonistas dividindo bons e maus períodos. A semana que passou foi francamente favorável ao democrata, assim como o balanço em semanas anteriores havia registrado bons momentos para o emedebista. A julgar por tudo o que tem acontecido até aqui, é provável que esse clima – e esses altos e baixos -, vai continuar indefinidamente, eletrizando ainda mais a temporada eleitoral na oposição estadual.

Daniel Vilela passou a semana lambendo as feridas políticas. Ele, ou o seu partido, o que dá na mesma, perdeu o líder da bancada na Assembleia Legislativa, deputado estadual José Nelto, e viu se consolidar a dissidência dos prefeitos líderes do terceiro grupo interno, do trio Adib Elias, de Catalão, Paulo do Vale, de Rio Verde, e Ernesto Roller, de Formosa. Esse apoio foi antes da semana passada, mas os efeitos podem ter se refletido com maior intensidade nos últimos dias. Além disso, Daniel também viu o senador Wilder Morais fechar de vez com o DEM, partido ao qual se filiou depois de perceber que o PP que ele dirigia não o acompanharia no apoio/aliança com o senador Ronaldo Caiado. Daniel fazia as contas e julgava estar perto de compor a chapa majoritária com ele para o governo, Wilder e Vilmar Rocha, presidente regional do PSD, nas duas vagas para o Senado.

Já sem Wilder, que foi sozinho para o DEM, levou na bagagem meia dúzia de eleitores e um caixa pessoal bem elevado – fruto de seu trabalho como empresário de sucesso no ramo da engenharia -, Daniel ainda não sabe se apostar em Vilmar é ou não viável. O presidente do PSD tem batido na tecla de que o projeto da base aliada se exauriu, mas sem explicar quando isso aconteceu, o que dá a impressão, falsa ou não, de que talvez tenha acabado no momento em que o seu desejo pessoal de ser candidato ao Senado mais uma vez – ele foi derrotado por Ronaldo Caiado em 2014 – ruiu diante de um quadro amplamente mais favorável para a recandidatura da senadora Lúcia Vânia. A segunda vaga está reservada à candidatura do agora ex-governador Marconi Perillo.

Ao contrário de Wilder, que não possuía qualquer histórico político até herdar a vaga de senador após a cassação do titular Demóstenes Torres, Vilmar tem uma longa carreira. Já foi secretário de Estado algumas vezes, deputado estadual e federal por vários mandatos. Mas exatamente como no caso de Wilder, Vilmar ainda não convenceu o PSD a bancar seus projetos dentro de um destino na oposição. Vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais do partido devem continuar na base aliada, onde estão em zona de conforto tanto político quanto eleitoral.

A onda de incertezas que rondou as hostes de Daniel Vilela redobrou os ânimos do senador Ronaldo Caiado, que se movimentou com bem mais desenvoltura, exibindo seus “troféus”, que incluem além dos emedebistas, deputados estaduais da própria base aliada. Além disso, Daniel terá que ficar atento ao fogo inimigo/dissidente interno. É fácil perceber que vários emedebistas criticam abertamente sua candidatura, ao mesmo tempo em que derramam rios de elogios a Ronaldo Caiado. Parte desse contingente, por sinal, está abrigado na própria Prefeitura de Goiânia, apesar de o prefeito Iris Rezende afirmar que o emedebista terá seu apoio pessoal na campanha.

Essa postura de Iris, por sinal, em nada lembra a decisão que ele assumiu quando em 2012 o MDB goianiense se rebelou para lançar candidato próprio à prefeitura contra a aliança com o PT de Paulo Garcia. Iris usou o extintor naquela oportunidade. Apagou o fogo dissidente e as fichas de filiação dos rebeldes. Desta vez, os palacianos dele não estão sendo molestados. Os maguitistas de Daniel perceberam esse apoio claudicante de Iris, mas consideram que pode ser efeito colateral das muitas dificuldades que o prefeito enfrenta na administração. Ou por outra motivação qualquer, que ainda não foi diagnosticada.

A postura de Daniel Vilela, e de seu principal orientador, o ex-governador Maguito Vilela, é de absoluta tranquilidade. Ele sabe, ou aprendeu com o pai, que uma corrida como essa é de obstáculos, e a persistência conta bastante a favor. Só não pode ficar tranquilo demais para não permitir que Caiado comece a avançar nas alianças dentro da oposição por força do vento favorável. É hora de pensar em alguma estratégia, mesmo que seja em conformidade com a sua linha de atuação, bem mais discreta do que a de Caiado. É esperar para ver como será a reação.