Caiado ou Daniel? Caiado e Daniel

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Enquanto o senador do DEM tem o apoio de parcela do PMDB, o deputado federal tem a segurança do comando estadual do partido
Afonso Lopes
No PMDB, maior partido de oposição em Goiás, há hoje três entendimentos distintos em relação à candidatura da legenda ao governo do Estado, no ano que vem. Para um grupo, majoritariamente irista, mas também com algumas lideranças independentes, a melhor alternativa para o partido é apoiar a candidatura do senador Ronaldo Caiado, aceitando assim que o PMDB se torne, pela primeira vez em sua história, caudatário e não protagonista na disputa pelo Palácio das Esmeraldas. Caiado é presidente do DEM goiano. Uma segunda corrente, composta basicamente por maguitistas, mas contando ainda com lideranças que não seguem as orientações de Iris Rezende, quer que o partido apresente candidatura própria. A primeira opção é o deputado federal Daniel Vilela, presidente regional do PMDB. Se ele não conseguir gerar confiança mínima enquanto viabilidade, a segunda opção seria o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Maguito Vilela, pai de Daniel. Por fim, e essa é a novidade dentro do pensamento peemedebista, há aqueles que, embora não oficializem formalmente o que pensam, dão as duas candidaturas como fato consumado. Ou seja, o PMDB iria com Daniel, ou Maguito, e Caiado tentaria formar com um grupo de pequenos partidos.
O problema é sempre o mesmo. Como afunilar entre Daniel e Caiado de modo a um abrir mão de sua pretensão para apoiar o outro? Teoricamente, ambos deveriam se sentar à mesa para uma conversa franca e respeitosa para acertarem os ponteiros da unidade oposicionista. Na prática, o buraco é muito maior, e envolve também o jogo de poder dentro do PMDB estadual, com claros reflexos em Brasília.
Do Distrito Federal, Ronaldo Caiado jamais terá o aval dos dirigentes nacionais do PMDB. Ele, que é líder da bancada do DEM no Senado, há muito pulou fora da poluída base do presidente Michel Temer. Além desse fato, por si só um baita empecilho, há ainda o tal jogo do poder interno do PMDB em Goiás. Foi exatamente em Brasília que o grupo maguitista conseguiu decisivo apoio para derrotar os iristas na queda de braço pelo comando estadual. Essa preferência dos dirigentes nacionais do PMDB por Daniel é resquício das desavenças de 2014, quando Iris implodiu a candidatura do empresário Júnior Friboi, que deixou o tranquilo PSB goiano para embarcar na promessa de candidatura pelo PMDB.
Há que se levar em conta também que o senador Caiado, que em tese não coloca em jogo seu futuro imediato porque mesmo que perca a eleição para governador tem vaga de senador garantida até 2022, realmente acredita que poderá vencer. A ausência de Marconi Perillo na cabeça de chapa abre essa possibilidade. Talvez não seja uma grande possibilidade, mas é óbvio que José Eliton, mesmo no exercício do cargo de governador durante o processo eleitoral, e contando com a união praticamente total da base aliada marconista, não tem a mesma densidade eleitoral de Marconi. Aliás, nem ele nem ninguém mais. Uma das características de Caiado é, ao fechar uma questão, dificilmente recuar depois. Ele já teria fechado sua decisão sobre disputar o governo de Goiás no ano que vem.
A tal conversa entre Daniel e Caiado não evolui enquanto alternativa para unidade porque o grupo maguitista tem a mesma impressão de que Daniel tenderia a crescer muito rapidamente durante a campanha. Graças a dois fatores, principalmente: sua aparência que reforçaria a imagem do “novo”, embora o que ele representa politicamente não tenha nada de novo, e a força peemedebista em todo o Estado, por mais dividido que o partido se apresente. Afinal, em todas as eleições, desde a redemocratização no início dos anos 80, o partido ou venceu ou disputou o segundo turno em Goiás. Há, por fim, o exemplo que vem de casa. Em 1994, contra o mesmo Ronaldo Caiado e também Lúcia Vânia, Maguito Vilela começou a campanha num distante terceiro lugar. Não apenas terminou como vencedor do primeiro turno como assegurou a vitória na etapa final da eleição.
O assunto das duas candidaturas, de Caiado e de Daniel ou Maguito, ainda terá um reforço natural de argumentação mais à frente, como sempre ocorreu: a tese de que com três grandes candidatos disputando o cargo — Eliton, Caiado e Daniel — a eleição tem enorme possibilidade de ser definida somente no segundo turno. Com um só, qualquer deslize de um lado ou de outro poderá ser fatal. Nesse caso, a melhor estruturação de campanha da base aliada favoreceria José Eliton. Na oposição, o trabalho de montagem da máquina eleitoral é sempre muito mais complicada.
Enfim, a pergunta se o candidato será Caiado ou Daniel tem como melhor resposta neste momento Caiado e Daniel. Isso ainda, obviamente, pode se alterar, mas não será fácil. Nunca é.