Bittencourt unifica atitudes na base estadual
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Ao procurar e abrir conversações com demais concorrentes internos na base aliada estadual, petebista ocupou espaço e apontou rumo
É evidente que a pré-candidatura do ex-deputado federal Luiz Bittencourt pelo PTB deu uma forte chacoalhada no marasmo da sucessão goianiense, especialmente no interior da base aliada estadual, onde existem várias pretensões com o mesmo objetivo: a disputa pela Prefeitura de Goiânia na condição de protagonista. A colocação do nome do petebista na linha de montagem das candidaturas a prefeito tinha inegável potencial para tumultuar ainda mais a vida interna por aumentar o número de opções disponíveis. Mas o que se tem observado nas semanas que se seguiram ao surgimento de Bittencourt nesse incerto cenário foi exatamente o oposto.
Ao procurar e iniciar conversações diretamente com um dos nomes mais fortes dentre aqueles que orbitam a base aliada sob o comando do Palácio das Esmeraldas, o pessebista Vanderlan Cardoso, e se sentar à mesa dos principais dirigentes do PSD estadual, Vilmar Rocha e o deputado federal Tiago Peixoto, Luiz Bittencourt apresentou um portfólio ainda inédito dentro da base: a possibilidade de unificar atitudes políticas mesmo que cada grupo ou agente político tenha suas metas individuais.
Isso jamais ocorreu na aliança estadual. Desde 1996, quando o grupamento se formou sob a liderança do ex-prefeito Nion Albernaz, e 1998, quando se consolidou de vez em torno do governador Marconi Perillo, a base aliada sempre procurou a união de candidaturas em Goiânia centrada não apenas em candidatura única, mas a partir dela. O que pode estar em andamento é uma unidade que permita até a multiplicidade de candidaturas, mas todas com o mesmo objetivo: a vitória eleitoral do grupo como um todo, independentemente do nome do vencedor.
É evidente que esse é o cenário idealizado e palco do trabalho de articulação estabelecido no plano estratégico do petebista. E não é uma atitude visionária, mas aplicação na prática de problemas que igualmente extrapolam uma conceituação teórica. O veto do ex-prefeito, e referência do PSDB goianiense, Nion Albernaz a Bittencourt, herança da campanha extremamente agressiva de 1996, antes de provocar ondas imediatas de divisionismo, o que carregaria mais fortemente a impressão de esfacelamento da força político-eleitoral da base aliada em Goiânia, acabou provocando essa reatualização de valores da articulação interna. Prudentemente, Bittencourt não procurou o PSDB, fortemente influenciado por Nion, mas foi ao PSB, que tem em Vanderlan seu maior potencial no momento, e ao PSD, partido decisivamente importante na composição da cúpula da base aliada, e que tem condições de bancar nome próprio para a disputa. Esse é o ineditismo que se observa no pré-jogo da escalação do time que a base aliada vai apresentar para o eleitor goianiense no ano que vem.
Em todas as eleições anteriores, de 2000 a 2012, a base aliada jamais agiu dessa forma. Aos primeiros sintomas de desentendimentos ou radicalização de posicionamentos, os envolvidos sempre endureceram, o que acabou fazendo com que a base aliada estadual jamais tenha se apresentado nas eleições com um conjunto de atitudes unificado na capital do Estado. Assim, e dessa forma, os partidos integrantes desse eixo político fizeram campanhas não apenas antagônicas no aspecto da objetividade como também antagônicas entre si, resultando indiretamente no fortalecimento dos candidatos adversários. Ou seja, em todas essas eleições, a base aliada se combateu internamente nas campanhas muito mais do que aos adversários.
É muito difícil antever o que vai acontecer, como o novelo de interesses de ocupação de espaços será desenrolado na base aliada. Aparentemente, o Bittencourt que se vê agora tem muito pouco daquele que se viu em outras eleições, como em 1996, quando foi candidato após uma briga de foice na duríssima convenção do PMDB. Essa mudança de atitude pode ser resultado de amadurecimento político e pessoal, mas também reflexo dos últimos anos, quando ele pôde observar o panorama político de posição privilegiada e sem interferências, por se imaginar aposentado desde que desistiu de disputar a reeleição como deputado federal. Ou pode ser ainda a soma desses dois fatores, tanto o amadurecimento pessoal como a experiência como espectador privilegiado das ações políticas.
Isso significa que a base aliada estadual terá condições de convergir durante a campanha mesmo sem conseguir unificar todas as candidaturas? Como se disse antes, é dificílimo responder essa questão com alguma segurança. Não porque ainda está muito cedo para a definição de muitas coisas, mas porque o cenário político pode sofrer guinadas repentinas e inimagináveis. Essa inconstância é da natureza da política.
Neste momento, é sempre muito importante datar as questões avaliadas na política, a única coisa que se pode fazer é analisar os sinais e os efeitos que essas atitudes podem provocar. Nesse sentido, e nesta data, é inegável que Bittencourt agiu de maneira a se proteger e ao mesmo tempo oferecer proteção política a dois dos principais atores do plano de montagem da linha de atuação da base aliada estadual em Goiânia, Vanderlan e o PSD. Isso não equivale a um pacto, que na política geralmente jamais dá em nada além de discurso efêmero e pontual. Vai além disso ao se mostrar enquanto atitude. E é uma atitude nova para a base, sempre tão unida nas eleições estaduais quanto esfrangalhada nas eleições goianienses.