Pré-candidato do PTB à Prefeitura de Goiânia, Luiz Bittencourt é o ponto fora da curva dentro da base aliada estadual

Vanderlan Cardoso, Giuseppe Vecci e Luiz Bittencourt: os nomes mais preparados para o discurso técnico
Vanderlan Cardoso, Giuseppe Vecci e Luiz Bittencourt: os nomes mais preparados para o discurso técnico

O grande tabuleiro eleitoral da sucessão goianiense não está montado. Já se avançou muito, mas não ao ponto de definição dos candidatos. O principal nome, por exemplo, Iris Rezende, adiou o anúncio de sua candidatura para o final deste mês. E ninguém sabe se o prazo será mesmo cumprido. No PT, a deputada estadual Adriana Accorsi está livre para voar principalmente após o rompimento formal da aliança com o PMDB. No PSDB, a decisão de lançar nome próprio na capital depois de mais de uma década consolida o nome do deputado federal Giuseppe Vecci. Daí em diante não há tantas certezas.

O deputado federal Waldir Soares desembarcou no PR com a garantia de legenda para disputar o cargo de prefeito. Não há qualquer dúvida quanto ao seu desejo pessoal e sua determinação em cair para dentro da guerra eleitoral. Mas há sempre o problema das coligações. O PR sozinho pode ser muito pouco numa disputa como essa que se apresenta, a não ser que a tendência de inúmeras candidaturas se confirme e crie um jogo “japonês” no campo partidário. Se ninguém conseguir montar uma grande coligação, todos os candidatos isolados tornam-se tão fortes e viáveis quanto os demais.

No PSB, a bola sempre esteve nos pés de Vanderlan Cardoso. O problema é que ele está às voltas com outra briga política, em Senador Canedo, onde seu antigo apadrinhado, o prefeito Misael Oliveira, resolveu voar por conta própria. A dúvida é se essa disputa aí vai tirar o ânimo de Vanderlan de disputar em Goiânia para se dedicar inteiramente à eleição em Senador Canedo. Ainda é muito cedo para dizer o que vai acontecer.

Quem tem se apresentado como ponto fora da curva nessa pré-campanha é o ex-deputado federal Luiz Bittencourt. Ele tem total apoio do presidente regional do partido, deputado federal Jovair Arantes, e de toda a cúpula petebista. E tem correspondido. Há sempre uma velha questão sobre a manutenção de candidatura do PTB até o fim. Isso se deve às inúmeras vezes que o partido se posicionou nas eleições estaduais e recompôs dentro da base aliada no último momento. Mas, em Goiâ­nia, ao contrário, o PTB jamais deixou de lançar nomes próprios. E é exatamente isso que Jovair Arantes tem afirmado o tempo todo: Bittencourt vai mesmo disputar a eleição de prefeito.

Até aqui, o nome do PTB tem se revelado como o candidato goianiense com maior tendência a polemizar contra Iris Rezende. Aliás, ele é o único que fez isso. Waldir Soares, Vanderlan, Adriana e Vecci deixaram os desencontros entre o atual prefeito, Paulo Gar­cia, e o ex-prefeito Iris Rezende acontecerem. Assistiram de camarote o circo pegar fogo. Bit­tencourt foi pra guerra contra Iris. Não em defesa de Paulo, mas como adversário de Iris.

Ao se apresentar com sua vocação polemista, e com conteúdo, Bittencourt se credencia na disputa dentro da base aliada estadual. Ele, Vecci e Vanderlan são os nomes colocados até agora que mais conseguem estabelecer discurso técnico, enquanto Iris e Waldir nadam de braçada larga nas temáticas populares e também populistas. O que Bittencourt tem apresentado diferente é essa veia polêmica, de enfrentamento.

Isso atende aos interesses político-eleitorais da base aliada estadual como um todo? Claro que sim. O adversário a ser batido nas eleições deste ano é mesmo Iris Rezende, caso ele confirme sua candidatura, como se espera. Não há como superar eleitoralmente o líder peemedebista sem polemizar com ele. Foi assim que o então jovem deputado federal Marconi Perillo conseguiu derrotá-lo em 1998 na disputa pelo governo do Estado. Mas não existe aquela velha e surrada história de que “quem bate, perde”? A história realmente existe, mas não é real. Na verdade, quem bate, também apanha, e pode não sobreviver à troca de sopapos verbais.

Recentemente, nas eleições presidenciais de 2014, Marina Silva surgiu como um meteoro ao substituir o falecido cabeça de chapa, Eduardo Campos. Seu crescimento nas pesquisas foi inusitado e ela chegou à liderar a corrida no primeiro turno com folga sobre os outros concorrentes diretos, Dilma Roussef e Aécio Neves. Imedia­ta­mente, o QG eleitoral petista abriu o saco de maldades contra Marina. O resultado dessa ação agressiva foi uma queda vertiginosa de Marina, que nem sequer chegou ao segundo turno.

O maior problema da agressividade numa campanha é a dosagem. Quando se exagera, a tendência é não receber qualquer benefício com isso. Quando se exagera muito, aí vira um desastre, com a perda da credibilidade. É o pior dos mundos para um candidato de vocação polemista. Bittencourt até aqui tem se comportado como manda o figurino. Ele bate com certa categoria e respeito, mas não deixa de bater. O que vale nesses casos é a analogia do prego. Se a pancada for excessiva, o prego entorta. Se for na dose certa, ele afunda na madeira.

Há como enfrentar Iris com alguma condição de disputa sem polemizar com ele? Não. Iris é sempre um grande favorito em qualquer eleição. Em Goiânia, particularmente, ele é fora de série. E como político, é sempre um candidato de extraordinária capacidade de reação. Em 2004, em um debate na TV, Iris sofreu um bombardeio duríssimo de seus adversários. Nas cordas, quando todos imaginavam que o nocaute era inevitável, ele não apenas deu a volta por cima como criou dois motes que marcaram aquela campanha daí em diante e moldaram o resultado final das urnas: a solução dos problemas do transporte coletivo em seis meses e o asfaltamento de todas as ruas de terra. Não eram propostas de sua campanha. Era uma resposta do instinto. Isso é Iris.

A combinação dos estilos pessoais dos principais nomes da base aliada estadual apresenta uma característica que pode, sim, colocar em risco eventual favoritismo de Iris nas eleições de outubro. De um lado, ele não tem como se colocar à altura do debate técnico, área amplamente dominada por Vecci, Vanderlan e Bittencourt. Do outro, Waldir pode rivalizar com ele na seara po­pu­lar/populista. Por fim, um bom acirramento pode completar o ciclo.