Além do bolsonarismo, quem mais ganhou (e também quem perdeu) no 1º turno

09 outubro 2022 às 00h00

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Terminado o primeiro turno, é inevitável fazer o balanço das urnas: quem ganhou e quem perdeu, quem, entre tantos “mortos” e “feridos”, se deu bem ou, pelo menos, se salvou relativamente ileso? A coluna Conexão se presta ao papel de, de acordo com seu viés, jogar certa luz na tela.
Quem negar estará apenas sendo torcedor: Jair Bolsonaro (PL) e o bolsonarismo foram os maiores vencedores da abertura das urnas do primeiro turno destas eleições gerais. A verdade é que ninguém esperava que, depois do desempenhou sofrível nas eleições municipais de 2020, quando pouco influenciou na votação de prefeitos Brasil afora, o presidente tivesse tanto respaldo, principalmente nas eleições ao Congresso. Vejamos então, quem ganhou e quem perdeu.
Jair Bolsonaro (↑)
Se as eleições tivessem terminado no domingo passado, o mínimo que poderia ser dito era de que Bolsonaro teria “caído atirando”, para dizer uma metáfora muito pertinente ao personagem. Para começo de conversa, conseguiu fazer senadores quatro de seus ex-ministros: Damares Silva (Republicanos), no Distrito Federal; Tereza Cristina (UB), em Mato Grosso do Sul; Rogério Marinho (PL), no Rio Grande do Norte; e Marcos Pontes (PL), em São Paulo. Mais do que isso, os nomes que tiveram seu apoio direto ou indireto ao Senado venceram a maioria das batalhas. A Câmara Alta do Congresso vai ficar bem mais bolsonarista, não importa quem esteja no governo. De bônus: a força de Bolsonaro colocou outro ex-ministro, Tarcísio de Freitas (Republicanos) no segundo turno ao governo de São Paulo com vantagem sobre o favorito das pesquisas até então, Fernando Haddad (PT). Isso, sem falar do próprio desempenho na corrida à Presidência, em que, além de conseguir empurrar a disputa para o segundo turno, reduziu bastante a distância para Lula apontada pela maioria das pesquisas.
PL (↑)
A estratégia de Valdemar Costa Neto de dar guarida a Jair Bolsonaro em seu partido para a disputa da Presidência foi um risco calculado: trazer para o partido um personagem que nunca respeitou hierarquia alguma – nem no Exército – e que já havia passado por uma dúzia de siglas, além de fracassar na criação da própria. Até o momento, deu muito certo. O PL obteve 95 cadeiras de deputado federal e se tornou o maior partido da Câmara.
Direita moderada (↓)
Bolsonaro provou que, no Brasil de hoje, ser de direita sem ser bolsonarista é um teste de sobrevivência política. Entre os que haviam se elegido em 2018 na “onda conservadora” puxada pelo presidente e que depois saíram do grupo – por desavenças internas ou discordâncias com os métodos –, poucos tiveram sucesso nas urnas. Joice Hasselmann (PSDB) viu sua votação cair de mais de 1 milhão de votos para vexaminosos 13 mil. O ator Alexandre Frota, também tucano, foi outro que não se deu bem, mesmo tentando vaga para deputado estadual. Outro exemplo foi o Delegado Waldir (UB), que ficou apenas em 3º na corrida para o Senado em Goiás.
Simone Tebet (↑)
Depois de a turma da “terceira via” passar um ano e meio procurando alguém para chamar de seu candidato – de Sergio Moro a Luciano Huck, de Luiz Henrique Mandetta a Rodrigo Pacheco, de João Doria a João Amoêdo –, a missão de conduzir a candidatura do chamando “centro democrático” (um nome mais bonito para a direita convencional), coube a uma mulher carregar: a senadora Simone Tebet (MS), que abriu mão de tentar novo mandato no Senado para ser a candidata de MDB, PSDB e Cidadania à Presidência. Ganhou proeminência nos debates por conta de sua postura assertiva e clara. E, longe de conseguir romper a iminente polarização, cresceu a ponto de ameaçar o 3º lugar de Ciro Gomes (PDT), o que se confirmaria com a abertura das urnas. A forma como conduziu o anúncio de seu apoio, no segundo turno, à candidatura de Lula, “valorizando seu passe” na medida certa, foi a de quem entende como se faz política. Tornou-se o nome mais cacifado do partido e uma das referências emedebista em um eventual governo petista, o que é ótimo para seu partido.
Ciro Gomes (↓)
Em uma estranha paródia canhestra da crônica de Benjamin Button, Ciro Gomes parece desaprender como se faz política quanto mais velho se torna. “Garoto-prodígio” da vida pública cearense, levado ao poder na Prefeitura de Fortaleza e depois no governo do Ceará pelas mãos do hoje senador Tasso Jereissati (PSDB), ele se tornou ministro da Fazenda aos 37 anos no governo Itamar Franco, depois que o ético e ótimo Rubens Ricupero cometeu uma inconfidência flagrada pela antena parabólica – uma espécie de transmissão de TV em desuso. Desde então, passou a vagar pelo mundo do poder sempre com o ideal de ser presidente da República. Foi candidato em 1998, 2002, depois ministro do primeiro governo Lula, depois deputado federal – a única eleição que venceu nos últimos 32 anos – e depois candidato a presidente mais duas vezes. Conseguiu terminar a eleição descapitalizado em votos, como o previsto em sua estratégia torta, mas a falta da mínima autocrítica o fez dobrar a aposta até depois de seu partido fechar apoio a Lula no segundo turno: em pronunciamento em suas redes, disse que acompanharia a decisão do partido, sem falar qual era a decisão, sem falar o nome de Lula, igualando-o a Bolsonaro, mas alfinetando somente o projeto petista. Enfim, um apoio digno do Amigo da Onça eternizado pelo cartunista Péricles.
PSDB (↓)
O outrora grandioso partido da socialdemocracia, que comandou o País por oito anos tendo Fernando Henrique Cardoso à frente, sai pequeno destas eleições. Perdeu nada menos do que São Paulo, o Estado que administrou por 20 anos, com o governador Rodrigo Garcia, candidato à reeleição, não conseguindo nem ao menos ir ao segundo turno. Outra perda importante pode ocorrer no Rio Grande do Sul, onde o ex-governador Eduardo Leite concorre à reeleição – estranha a expressão, mas ele renunciou ao mandato e depois se “arrependeu” –, mas quase ficou fora do segundo turno, em disputa acirradíssima com Edigar Pretto (PT). Onyx Lorenzoni (PL), apoiado por Bolsonaro, é favorito. Em Goiás, o ex-governador Marconi Perillo novamente fracassou na busca por uma vaga no Senado, depois de liderar as pesquisas durante toda a campanha. A bancada do partido na Câmara dos Deputados e no Senado Federal ficará bastante reduzida.
Institutos de pesquisa (↓)
Não há como negar: as pesquisas eleitorais falharam em prever a crescente do bolsonarismo nos últimos dias de campanha. Várias viradas para o Senado e também para o governo de vários Estados também não foram captadas pelos institutos de pesquisa. Se a maioria acertou o índice de votos válidos Lula, ainda que na margem de erro, todos erraram em relação a Jair Bolsonaro, que teve votação porcentual muito superior ao indicado nas intenções de voto. Com isso, Datafolha, Ipec e outros institutos passaram a ser atacados pelas redes bolsonaristas.
Urnas eletrônicas (↑)
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ser parabenizado pela organização do pleito. Claro que houve ocorrências, como se previa – uma urna quebrada por um eleitor em Goiânia, outra com teclas grudadas com cola instantânea, entre outras –, mas, tendo em vista o clima de tensão que estava (e está) envolvido, tudo se deu de forma relativamente tranquila. Em tempo: a contestação às urnas saiu da narrativa temporariamente, mas nada diz que um resultado negativo para o bolsonarismo no segundo turno não vá fazer a chapa esquentar…