A corrida dos novatos: candidaturas a vice de Goiânia têm como ponto em comum a inexperiência política
11 agosto 2024 às 00h00
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No último dia 5 de agosto, o ciclo das convenções partidárias – evento que dá às legendas o direito de deliberar sobre coligações e escolher candidatas e candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador – se fechou. Em Goiânia, grandes partidos como o UB, PL e PSD deixaram para os 45 do segundo tempo, e algumas convenções realizadas na segunda-feira finalizaram quase no começo de terça. Uma das maiores expectativas em torno dos eventos era justamente para o anúncio do vice. Uma vez que os candidatos a prefeito já estavam informal e previamente definidos, restando somente a confirmação na convenção, os nomes dos candidatos a vice ainda permaneciam um enigma em muitas das chapas.
Ocorre que, apesar de um certo anseio implícito e coletivo da população para uma escolha mais criteriosa daquele que acompanhará o candidato a prefeito na corrida ao Paço Municipal, com prioridade para nomes experimentados e conhecidos na política – anseio esse impulsionado pela experiência mais recente de Goiânia envolvendo um vice que virou prefeito -, o resultado final foi justamente o oposto: apenas um dos sete candidatos a vice já teve um mandato, e boa parte é composta de marinheiros de primeira viagem quando o assunto é eleição.
À chapa de Adriana Accorsi, política já experiente – a delegada de Polícia Civil tem dois mandatos como deputada estadual e exerce, agora, o mandato como federal, já tendo sido também secretária municipal -, coube a indicação de um nome bastante conhecido no meio acadêmico, mas pouco ventilado no político. Ex-reitor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Professor Jerônimo, do PSB, como é conhecido, tem um currículo admirável, mas assim como os que serão seus adversários no pleito, pouca experiência na política: o professor já se candidatou uma vez ao cargo de deputado estadual, em 2022, mas não foi eleito. Chega, portanto, à sua segunda eleição sem vivência prática em um cargo político eletivo.
Quase na mesma linha de sua adversária, Fred Rodrigues, candidato pelo PL, fechou com Leonardo Rizzo, do Novo, na chapa. Empresário de sucesso, Rizzo se candidatou anteriormente uma única vez, ao Senado Federal, mas também não foi eleito.
Matheus Ribeiro, do PSDB, por sua vez, confirmou a expectativa de chapa pura tucana e escolheu, mas acompanhá-lo, a ex-diretora da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás (UFG), a advogada Bartira Macedo. Assim como Jerônimo, Bartira é amplamente conhecida em seu meio (acadêmico e jurídico), mas também conta com pouquíssima experiência política. Esta será a primeira vez que a jurista vai concorrer a um mandato político.
Do mesmo modo, o candidato da base governista à Prefeitura de Goiânia, Sandro Mabel, anunciou como candidata à vice a tenente-coronel Cláudia Lira. Policial militar há 30 anos, Cláudia tem o que se pode chamar de trajetória prodigiosa. É a mais antiga entre as policiais femininas de Goiás, é subcomandante do Comando de Gestão e Finanças da PMGO, atuou na implantação da rede Maria da Penha, de colégios militares, assistência social e gestão de pessoas da Polícia Militar. Além disso, é poliglota. O perfil, inclusive, parece ter sido escolhido para bater de frente com a primeira colocada nas pesquisas de candidato, Adriana Accorsi: Cláudia Lira, assim como Adriana, é mulher da área da segurança pública, e sua entrada promete balançar uma parte do eleitorado da petista.
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No entanto, assim como os colegas adversários, a militar também é novata na política – esta é, inclusive, a primeira vez que Cláudia se candidata.
O próprio prefeito Rogério Cruz vem de uma situação parecida: foi escolhido para compor com Maguito Vilela, em 2020, em um cenário em que era considerado um “ilustre desconhecido”. Vereador eleito e reeleito em Goiânia, seu nome era forte em sua bolha eleitoral, leia-se, segmento evangélico – especificamente, Igreja Universal, da qual é pastor licenciado -, mas sem peso considerável fora dela. Há quem diga que, não fosse o nome de Maguito na chapa, as chances de Rogério Cruz de se tornar prefeito seriam próximas a zero.
No entanto, mais puxado pela praticidade (eufemismo para falta de opção), Cruz acatou a indicação do partido Mobiliza e anunciou como vice o jovem advogado Jaroslaw Daroszewski Fernandes, mais conhecido como Darô Fernandes. O rapaz, sobrinho do engenheiro Boleslaw Daroszewski, que foi prefeito de Araguatins, no Tocantins, é formado pela PUC Goiás e especialista em Direito Agrário e Agronegócio. Sua trajetória profissinal não deixa nada a desejar (Darô, inclusive, apesar da pouca idade, é considerado um advogado experimentado, com atuações em grandes casos em Goiânia e Jaraguá). No entanto, Darô, que vai se candidatar pela primeira vez e, até poucos dias, integrava a chapa de candidatos a vereador do Mobiliza, parece ter sido alçado às pressas para a vice de Rogério Cruz como um último recurso – o prefeito, por sua vez, foi o último candidato de Goiânia a anunciar seu vice.
O único ponto fora da curva é justamente a candidatura que corre o risco de cair antes mesmo de chegar à urna. Trata-se de Paulo Daher, do PP, escolhido como candidato a vice de Vanderlan Cardoso. Acontece que, desde a última semana, as cúpulas do diretório municipal e estadual do PP vivem um conflito interno relacionado aos rumos da legenda. A direção estadual, na pessoa de Alexandre Baldy, acusa a municipal, representado por Daher, de ter dado um “golpe” e protocolado, no Sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma “ata fraudulenta” para fechar o apoio no partido para Vanderlan Cardoso, com a indicação do próprio Daher para sua vice.
A iniciativa, conforme o diretório estadual do PP, teria atropelado a manifestação dos candidatos a vereador de caminhar com Sandro Mabel, candidato à Prefeitura pelo UB, que, por sua vez, também registrou a legenda progressista em sua coligação. Agora, as candidatos sinalizam que vão partir para a judicialização, o que vai definir com quem, ao final, vai ficar o PP – incluindo a vice, tempo de Tv e fundo eleitoral.
De todo modo, a situação dos vices principiantes, como dito, não é exclusiva de nenhum candidato. A impressão que se tem é que todos eles, que devem ter seus nomes nas urnas goianienses neste pleito, cronometraram mal o tempo que lhes foi dado e, na ânsia de consolidar a chapa e responder aos anseios do momento, fecharam com nomes respeitados em suas áreas e com currículos sólidos, mas que, com perfil de novato na política, aparentam estar atônitos com o fato de que podem ocupar o posto de vice-prefeito de uma das capitais mais importantes do país.
Os candidatos a vice, ainda aprendendo a nadar, pularam logo em uma piscina olímpica. A eles: sorte e resiliência. Vão precisar.