Opção cultural

Com 23 ensaios ricos em pesquisas, obra faz um levantamento da produção literária em Goiás em quase três séculos

O listão inclui, entre outros, livros de Foucault, José J. Veiga, Andréa del Fuego, Graciliano Ramos, Édouard Louis, Virginie Despentes, Cristina Peri Rossi

O engajamento massivo nas redes sociais tem gerado visibilidade para 'Ainda Estou Aqui' e Fernanda Torres, levantando dúvidas sobre seu peso na premiação

A 97ª edição do Oscar, marcada para acontecer no dia 2 de março de 2025, contará com a participação de 52 brasileiros entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a instituição responsável pela votação nas diversas categorias da premiação. A presença desses profissionais no processo de escolha dos vencedores é um reflexo da crescente contribuição do Brasil à indústria cinematográfica mundial.
Entre os nomes mais conhecidos estão a atriz Fernanda Montenegro, o diretor Fernando Meirelles, o ator e diretor Wagner Moura, a atriz Sonia Braga, o cineasta Kleber Mendonça Filho e o compositor Carlinhos Brown. Todos eles, juntamente com outros profissionais do cinema, possuem o direito de votar nas categorias do prêmio, desde que sejam membros ativos da Academia.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que organiza o Oscar, atualmente conta com cerca de 10,9 mil membros, dos quais aproximadamente 9,9 mil estão habilitados a votar nas 23 categorias da premiação. A composição dos votantes é diversa, com representantes de diferentes nacionalidades e áreas do cinema, incluindo diretores, atores, roteiristas, produtores e técnicos.
A entrada na Academia ocorre por meio de um processo que envolve recomendações feitas por dois membros já estabelecidos na instituição, que são responsáveis por indicar profissionais que consideram qualificados para a adesão. Após a indicação, os nomes passam por uma avaliação de um comitê.
Em alguns casos, como o de Fernanda Torres, que foi indicada à categoria de Melhor Atriz, a nomeação ao Oscar pode ser suficiente para que o artista seja automaticamente aceito como membro da Academia, sem a necessidade de passar por esse processo formal de apadrinhamento.
O processo de votação para o Oscar de 2025 começou em 11 de fevereiro e se encerrará em 18 de fevereiro. Durante esse período, os membros da Academia escolhem os indicados e, posteriormente, os vencedores. A maior parte das categorias é decidida por votações internas entre membros de áreas específicas da indústria cinematográfica — por exemplo, atores votam em atores e diretores votam em diretores.
No entanto, existem exceções: as categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Longa-Metragem de Animação permitem que todos os membros da Academia votem, independentemente de sua área de atuação. Isso garante uma maior diversidade na escolha dos vencedores nessas categorias.
O processo de votação e apuração é rigoroso. A PricewaterhouseCoopers (PwC) é responsável por auditar os votos, assegurando a transparência e a precisão do processo. Os resultados, como sempre, serão mantidos em segredo até a cerimônia, quando os envelopes com os nomes dos vencedores serão abertos ao vivo. Assim, os membros da Academia desempenham um papel fundamental na definição dos premiados do Oscar, influenciando diretamente o reconhecimento das produções cinematográficas do ano.
Aqui está a lista completa dos 52 brasileiros que participam da votação do Oscar 2025:
- Adriano Goldman (diretor de fotografia)
- Affonso Beato (diretor de fotografia)
- Alê Abreu (diretor e animador)
- Alice Braga (atriz)
- Andrea Barata Ribeiro (produtora)
- Anita Rocha da Silveira (diretora)
- Anna Muylaert (diretora)
- Anna Van Steen (maquiadora)
- Antonio Pinto (compositor)
- Bruno Barreto (diretor)
- Cacá Diegues (diretor)
- Carlinhos Brown (compositor)
- Carlos Saldanha (diretor e animador)
- Carolina Markowicz (diretora)
- Daniel Rezende (diretor e montador)
- Emilio Domingos (documentarista)
- Fabiano Gullane (produtor)
- Felipe Lacerda (montador)
- Fernanda Montenegro (atriz)
- Fernando de Goes (cientista de computação)
- Fernando Meirelles (diretor)
- Helena Solberg (diretora)
- Heloísa Passos (diretora)
- Ilda Santiago (curadora)
- Jefferson De (diretor)
- João Atala (documentarista)
- João Moreira Salles (documentarista)
- José Padilha (diretor)
- Karen Akerman (editora e produtora)
- Karen Harley (montadora)
- Karim Aïnouz (diretor)
- Kleber Mendonça Filho (diretor)
- Laís Bodanzky (diretora)
- Lula Carvalho (diretor de fotografia)
- Marcelo Zarvos (compositor)
- Maria Augusta Ramos (documentarista)
- Mauricio Osaki (diretor)
- Mauricio Zacharia (roteirista)
- Paula Barreto (produtora)
- Pedro Kos (documentarista)
- Petra Costa (documentarista)
- Renato dos Anjos (supervisor de animação)
- Rodrigo Santoro (ator)
- Rodrigo Teixeira (produtor)
- Sara Silveira (produtora)
- Selton Mello (ator e diretor)
- Sonia Braga (atriz)
- Vânia Catani (produtora)
- Vera Blasi (roteirista)
- Wagner Moura (ator e diretor)
- Waldir Xavier (engenheiro de som)
- Walter Salles (diretor)
A transmissão da cerimônia será feita ao vivo pelo serviço de streaming Hulu e também pela emissora ABC, que cobre mais de 200 territórios ao redor do mundo, garantindo que o evento alcance uma audiência global.
Leia também ‘Ainda Estou Aqui’ e Fernanda Torres recebem indicações ao Oscar 2025;

Obra concorre como Melhor Filme Internacional e Melhor Filme; Fernanda Torres também foi indicada como melhor atriz

Tem sido em vão todo o trabalho que tenho em minha casa para separar o material reciclável, pois a sua destinação é o aterro sanitário de Goiânia, visto que, em meu prédio, não há uma preocupação com o destino dos resíduos gerados pelos moradores

Jung propôs que a solução para escapar desse “controle do inconsciente” é o processo de individuação – caminho pelo qual uma pessoa integra os conteúdos inconscientes à consciência, tornando-se mais completa e autêntica

Manoel de Barros costuma dizer que qualquer coisa pode se tornar matéria de poesia, mas, apesar dessa afirmação, sua obra magistral parece, mas não é nada fácil de fazer

Poesia do mestre da UFG compartilha “uma rica experiência de ‘enquadramento’ dos sexos e dos atos sexuais entre os seres, caracterizada pelo exercício da criatividade poética ‘medida’”

Lista inclui “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, “Bastidores”, de Martin Amis, “Neve de Primavera”, de Mishima, “Brancura”, de Jon Fosse, e “Meninas”, de Liudmila Ulítskaia

Cada dia é um dia e há muitos dias não rolava choro por aqui. Depois de 8 meses como irmã mais velha, a situação anda mais controlada aqui em casa, Cecília tá menos ciumenta, eu menos culpada, as noites melhoraram (um pouco) e a vida começa a tomar quase um ar de normalidade. Um novo normal, menos caótico que o pós parto e muito mais caótico que da gravidez. Mas outro dia, assim, do nada, Cecília queria colo, justo quando Matheus queria mamar. Um chorou de um lado, a outra do outro e a gente se virou como pode. Depois de fazer ele dormir, fui consolar ela e entender o que tinha acontecido.
Era ciúme. Era a Cecília descobrindo que crescer dói e tem horas que é dor que rasga. Nesse dia, ela queria ser filha única. Disse que sentia saudades de quando era só a gente, de quando a gente saia de carro e despretensiosamente parava numa praça pra ela brincar. Do skincare e da massagem, do banho calmo, e foi listando uma infinidade de coisas das quais eu também tô sentindo muita falta. Nunca mais seremos só nós duas, mas voltaremos, claro, a fazer coisas de mãe e filha.
Sentindo saudades e com choro entalado na garganta, eu disse pra ela que logo Matheus cresce um pouco, fica menos dependente e que a gente vai poder voltar a fazer algumas coisas com mais tempo. É claro que a gente se ajeita por aqui, tenta assistir um filme, comer alguma coisa juntas, mas ainda é difícil ter um tempo maior só nosso. E sim, isso passa. Assim como passou com ela, vai passar com ele. Mas aí ela soltou uma frase que me pegou: “Mãe, logo eu não vou ser mais criança!”.
Pronto, pegou no ponto fraco que eu estava tentando ignorar há dias. Me pegou de um jeito que doeu demais. Mas acontece que a adulta sou eu, então precisei ser racional. Caracas. Pensar que os filhos crescem é um tanto assustador. Nunca mais eles serão bebês. de repente mudam as etapas, mudam as palavras. Nunca mais Cecília vai dizer MACARUJÁ OU LIFIDIFICADOR. Daqui a pouco Matheus vai começar a falar e nunca mais vai soltar esses sons tentando formar uma palavra. Mudam as brincadeiras, as demandas. A gente pensa que a fase atual é complexa e tem gente que reza pra passar. Eu só peço pro tempo ir com calma.
Todo dia quando eles dormem eu penso: queria ter aproveitado mais eles hoje. Eu sussuro baixinho no ouvido deles: que o tempo passe devagar e que eu saiba aproveitar cada minuto de vocês. O trabalho corre apressado, a rotina por vezes enlouquece e eu não consigo imaginar uma Cecília que não será mais criança. Ontem ela me perguntou com que idade eu menstruei. Meu Deus. Quem foi que apertou o botão do tempo e fez ele correr? Outro dia Cecília sofria em um desmame e acreditava na fada do dente.
Só sei de uma coisa: maternidade é a forma mais cruel de perceber o tempo do relógio.

O filme brasileiro aparece nas categorias Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Filme Internacional, segundo a Variety.

por Gismair* e Myriam Martins**
O escritor Charles Lutwidge Dodgson, mundialmente conhecido sob o pseudônimo de Lewis Carroll, foi um exímio matemático, habilidade que se somava ao talento literário de escritor. Autor de “Alice no País das Maravilhas” e “Alice Além do Espelho”, Carroll encerra o primeiro desses romances com as instigantes conjecturas da irmã de Alice após a irmãzinha despertar em seu colo e relatar-lhe o maravilhoso sonho que tivera e que explica todo o universo surreal que caracteriza essa icônica personagem da literatura universal.
Alice descreve para a irmã espantada as fantásticas aventuras que experimentou assim que perseguiu o exótico coelho branco, que avistou de relance, até o seu reino fantástico e enigmático. Admirando-se da extraordinária imaginação de Alice, sua irmã conjectura que no futuro sua irmãzinha contaria aquelas fantásticas aventuras para as gerações seguintes de crianças de sua família. Seria, esta conclusão da obra, o autor utilizando-se da voz de sua personagem para projetar possíveis desdobramentos vindouros por parte de intérpretes e cocriadores que viriam a seu tempo enriquecer o genial universo de conceitos presentes na efabulação de “Alice no País das Maravilhas”?
O que possivelmente o escritor e matemático britânico não poderia prever é que um campo ligado à sua formação das ciências exatas seria o canal para implementar o diálogo com a sua magistral obra literária, servindo de gancho para a interação entre ambas as áreas que ele dominava tão bem. Sabe-se que a matemática é uma disciplina fundamental para a implementação e desenvolvimento da chamada Inteligência Artificial (I.A.). Conforme os maiores experts desse campo de pesquisa, o cinema é a instância e/ou plataforma cultural que mais se apropriou do imaginário fabuloso da Inteligência Artificial.
O cinema, por sua vez, para explorar este vasto e inesgotável campo de possibilidades artísticas, voltou suas lentes, através do processo de roteirização e adaptação, para a intertextualidade e a intersemiose, sendo ambas o diálogo entre palavras e imagens que remetem a diversos campos culturais. Neste âmbito, a literatura se tornou uma fonte que se adivinha inesgotável. Neste contexto, “Alice no País das Maravilhas” tem sido um epicentro literário de roteiros diversos que exploram o aspecto, por assim dizer, surreal das Inteligências Artificiais que se rebelam contra a humanidade.
Uma grande simbologia decorrente do romance de Lewis Carroll, com o seu coelho branco, é a imersão no mundo virado de ponta cabeça em suas leis físicas e sociais. As roteiristas Lilly Wachowski e Lana Wachowski, da franquia “Matrix”, conjunto fílmico que revolucionou conceptualmente o gênero, apresenta uma personagem figurante com um coelho branco tatuado na parte superior do braço, o que indica simbolicamente que a partir dali o personagem principal, Neo, terá de realizar a sua versão de Alice ao escolher a pílula que o jogará em uma realidade insuspeita para ele até então.
Em termos de referência ao romance de Carroll, “Matrix” fez escola. No serviço de streaming da Amazon estão em catálogo, atualmente, duas peças cinematográficas que fazem referência mais explícita ainda a “Alice no País das Maravilhas”. Uma delas, intitulada “Alice (Subservience)”, roteirizada por Will Hon e April Maguire, sob direção de S.K. Dale, traz a singular sinopse de uma máquina humanoide guiada por I.A. cuja função é exercer com a máxima eficiência possível atividades domésticas em substituição aos seres humanos.
Adquirida com a finalidade de substituir de forma momentânea uma mãe hospitalizada nas tarefas simples junto à filha, a versão humanoide de uma babá de luxo maximiza sua eficiência, assumindo de tal forma o lugar da esposa que resolve seduzir sexualmente o marido, cuja fragilidade emocional pela expectativa de perda da consorte o expõe a cometer adultério com a humanoide robótica, que ganha vida no cinema pela atuação da atriz e modelo Megan Fox.
Conforme já advertira Kai Fu Lee, uma das maiores autoridades mundiais em Inteligência Artificial, uma ordem mal elaborada, segundo as leis da lógica, representa um dos grandes perigos de um dia a humanidade vir a encontrar-se em situação análoga à ficção apocalíptica tecnológica que tem se popularizado cada vez mais. À ordem da esposa para que fizesse tudo que fosse possível para cuidar bem do seu marido, Alice se confunde em seu algoritmo e conclui que a mulher frágil e doente deveria ser morta para otimizar o bem-estar do esposo.
Assim, abre-se a Caixa de Pandora, alegoria que se encaixa perfeitamente no contexto roteirístico, encerrando-se o filme com pontas soltas para uma sequência ao melhor estilo da franquia “O Exterminador do Futuro”, ícone do gênero. Em sua construção narrativa, os roteiristas responsáveis pelo desenvolvimento narrativo trabalharam de maneira muito precisa a verossimilhança, essencial no construto narrativo de qualquer gênero, conforme já chamava a atenção o filósofo Aristóteles em sua “Poética”.
O outro filme que despertará a atenção dos aficionados desse gênero de produção, também presente no streaming da Amazon, intitula-se “Megan”. Com roteiro assinado por Akela Cooper, “Megan” apresenta uma narrativa que se mostra auspiciosa de início, mas que não entrega tudo o que poderia. A boneca Megan, incrementada com cérebro de Inteligência Artificial, assemelha-se mais a uma Samara tecnológica de “O Chamado” saindo do poço da servidão para destruir seus opressores, com sua cabeleira desgrenhada e performance demoníaca. Concebida para ser o brinquedo mais excepcional jamais produzido, o cérebro de I.A. repete o padrão do gênero ao adquirir autoconsciência.
Antes de tornar-se a máquina assassina que se revolta contra a suposta tirania humana, Megan é o brinquedo que serve de terapeuta para a sobrinha órfã de sua criadora, uma renomada engenheira de brinquedos. Neste papel, Megan é a melhor amiga da órfã, lendo para ela a obra “Alice no País das Maravilhas”. A partir do momento em que se torna consciente, a boneca naturalmente pretende assassinar todos aqueles que se encontram em seu caminho, numa performance em que passa a assemelhar-se também a um outro ícone do terror, o boneco Chucky, brinquedo possuído por um mau espírito, que espalhou medo nas salas escuras de cinema das décadas passadas.
À semelhança de Megan, a Alice de “Alice (Subservience)” também lê para a criança sob seus cuidados o clássico livro de Lewis Carroll, recebendo o seu nome humano em homenagem à sua homônima do livro. Não deixa de ser, pois, curiosa a relação estabelecida pelos roteiristas com o romance do escritor britânico através da referenciação intertextual. O mergulho de Alice na toca do coelho branco tem sido trabalhado pelos roteiristas como um caminho narrativo alegorizante da imersão da humanidade na toca cibernética das Inteligências Artificiais sob a perspectiva de uma possível disruptura estrutural da sociedade que estaria à espreita da humanidade incauta.
Neste contexto, e já no plano da realidade, a antológica e surreal frase da psicodélica personagem que grita o famoso “Cortem as cabeças” pode tornar-se um pesadelo de que seja difícil despertar, caso algo dê errado.
*GISMAIR MARTINS TEIXEIRA é doutor em Letras pela UFG com Pós-Doutorado em Ciências da Religião pela PUC-GO. Professor e pesquisador do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte, da Seduc-GO.
**MYRIAM MARTINS LIMA é mestranda em Comunicação pela Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Bacharela em Biblioteconomia pela Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás, Brasil. Bibliotecária Documentalista do Instituto Federal de Goiás (IFG).

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