Sinval Martins mostra no livro “Ar em água” que a poesia dá prazer

19 janeiro 2025 às 00h00

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Hélverton Baiano
Especial para o Jornal Opção
Costumo dizer que a poesia é a alma do negócio, seja o real, o fantasioso, o telúrico e o etéreo. É o sentimento que me veio ao ler a poesia de “Ar em Água”, de Sinval Martins de Sousa Filho. Pois que o ar na água é uma maneira de fazer borbulha (ou borbolha, como se diz de onde venho) no sentimento, mostrando às pessoas que a poesia flutua por aí e que a gente só precisa dar um mergulho na sensibilidade para captá-la, absorvê-la e vivenciá-la.
O livro é editado pela Mondru, que há quatro anos desenvolve um trabalho de mestria editorial. A editora goiana faz do livro de seus autores uma verdadeira obra de arte, com a primazia de um conteúdo de grande qualidade. É assim com o “Ar em Água”, no qual o autor, já experiente e amadurecido no fazer poético, flutua em águas de muita profundidade e estilística. É sempre muito bom ler uma poesia madura e bem-feita, bordada com mestria no pergaminho que a gente faz questão de se assenhorar dele, para intentar outras e novas construções na vida.

O leitor vai se embrenhar na lascívia de deusas e deuses oníricos e mitológicos, para dali fazer a transmutação e vivenciar o gozo que é o mesmo que nós mortais sentimos em nossos devaneios amorosos. Ninguém passa impunemente pela poesia de Sinval Martins e é bom que isso aconteça para que saia dela melhor do que entrou, sentindo mais prazer e gozando melhor. A Mondru escolhe bem os seus construtores e caminhantes, aqueles que vão construindo, tijolo a tijolo, o alicerce e o edifício que começa a colocá-la em um patamar de sarrafo alto.
“Ar em Água” dá gás à poesia, do ponto de vista de quem adentra um universo recheado de matéria de fantasia em seu estado mais fluente e excitantemente adequado ao que propõe. Dá socos na cara da pudicícia, brinca maliciosa e docemente com as possibilidades do amor nas carnes divinas.

Faço minhas as palavras finais de Tiago Ribeiro Nunes na apresentação do livro: “No intuito de compartilhar uma rica experiência de ‘enquadramento’ dos sexos e dos atos sexuais entre os seres, caracterizada pelo exercício da criatividade poética ‘medida’, convidamos à leitura de ‘Ar em Água’”. Eu também o convido, caro leitor, porque sei que você vai sentir um gozo etéreo com essa poesia. Por isso, deixo aqui um tira-gosto: o primeiro poema do livro, que apresenta essa viagem que é pra lá de gostosa.
“1.
A flor de mutamba avisa:
é já da terra o tempo.
Homem de falo e membro
espanca o fio da poetisa.
Depois do borralho, grãos
caem vivinhos nos vãos.
Na terra, assoreamento.”
Hélverton Baiano é poeta, contista e romancista. É colaborador do Jornal Opção.