Opção cultural

- Que tal aproveitar a viagem a São Paulo –– essa que o leitor vai fazer para ver Zaz, Tulipa e Céu no Circuito Cultural –– e dar um mergulho no universo de Marina Abramović?
- A exposição “Terra Comunal + MAI”, que promete ser uma das maiores retrospectivas da artista sérvia já realizada na América do Sul, fica em cartaz de 11 de março a 10 de maio.
- A performer vem ao Brasil para oito encontros –– que prometem ser inesquecíveis –– com o público. Não perca!

Não é de ver que já faz 100 anos? Nasceu em um verão de 1915 e já se foi, deixando literatura imaginada como herança. Jus às boas palavras de José J. Veiga, o Sesc Goiás e a UFG homenageiam o mais cosmopolita dos goianos com seminários nos dias 18 e 19 de março. A Companhia das Letras deixará, sobre a mesa: “Os cavalinhos de Platiplanto” e “A hora dos ruminantes” –– as duas primeiras obras de Veiga. Fique atento que as inscrições terminam no dia 13. Tudo acontecerá no Sesc Centro.

[caption id="attachment_30540" align="alignnone" width="620"] Foto: Reprodução[/caption]
Pode botar uma roupa toda francesa na mala, enfeitar-se com flores do jardim e conchas do mar. Por quê? Ora, é que Zaz, Tulipa Ruiz e Céu vão embalar os palcos do Ibirapuera, em São Paulo. E, ó, temos que comprar logo as passagens, pois o show já é neste dia 22 de março.
As canções de “ZAZ”, primeiro álbum da cantora francesa, “Recto Verso” e do recente “Paris”, junto às malemolências de “Caravana Sereia Bloom” e “Vagarosa”, da Céu, e ao aroma de “Tudo Tanto” e “Efêmera”, de Tulipa, celebram a música além de todas as fronteiras e prometem uma super abertura da segunda edição do Circuito São Paulo de Cultura.
E pode ficar tranquilo porque a entrada é totalmente free! Te vejo lá.

Ó, pode se animar porque tem um lugar novinho em folha, em Goiânia, totalmente dedicado às artes. É o Culturama! Fica bem ali, no Setor Bueno, e na direção estão Ruskaya Maia e Ceres Lêda F.F. Rúbio, ambas da psicanálise. O interessante é que tem uma galera reconhecida pelo que faz na cidade cuidando do espaço. São eles: o cineasta Pedro Novaes; o filósofo e professor da UFG Daniel Christino; a artista plástica Sophia Pinheiro; a jornalista e escritora Larissa Mundim. E o que tem lá? Vai vendo: tem cibercultura, audiovisual, artes visuais (desenho e fotografia) e literatura como eixos de atuação. Na tarde desta sexta-feira, 13, o designer Polli di Castro ministra a oficina Cartaz de Cinema. E neste março que se inicia ainda tem: oficina de desenho e lambidaço; curso sobre site responsivo e cibercultura; além de um bate papo sobre o case “Nega Lilu”. Vai perder? Para saber mais informações sobre o local é só clicar www.espacoculturama.com.br.

Marcela Haun
Especial para o Jornal Opção
[caption id="attachment_30342" align="alignnone" width="620"] Reprodução[/caption]
O sol do inverno iluminava os vários tons de verde da praça. O vento gelado, que cortava os meus lábios, parecia querer retornar o meu corpo para a minha cama. Três ou quatro pessoas atravessavam as ruas, todas com direções e tempos diferentes. Sentei-me no banco de concreto. Sabia que eu estava ali mais cedo do que de costume, mas é que não existe coisa mais bonita do que apreciar o sumiço dos orvalhos ou o brilho do sol tremeluzindo através das folhas das altas árvores. Queria ter escrito sobre isso antes.
Enquanto esperava a minha carona de todos os dias, observava a casa à minha frente: portão branco e paredes verdes, recém-pintadas, com um banquinho na entrada. E, nele, uma história da qual tive o prazer de acompanhar por muito tempo. Todos os dias, um senhor de bicicleta amarela chegava às sete da manhã e tocava a campainha. Ele sentava no banco, arrumava o cabelo com as mãos e tentava sentir o próprio hálito. Depois de alguns minutos, uma mulher ruiva abria a porta e sentava-se ao lado dele, dando-lhe um beijo que ela mesma interrompia. Talvez por preferir beijos que ficam a desejar, que deixam aquele gosto interminável na boca.
Era sempre assim. Não importava se o sol nascia com gosto ou se os pingos grossos de uma chuva ameaçavam por entre nuvens carregadas. A bicicleta amarela sempre voltava a fazer as mesmas rotações. Às vezes o senhor carregava consigo uma flor recolhida no caminho ou a mulher saía da casa calçando um sapato às pressas. Eu sempre gostava de tentar adivinhar as conversas: astrologia, piadas, sacanagens e afins. Os gestos variavam: ora apontavam para cima, ora só entrelaçavam as mãos. E assim ficavam e iniciavam as manhãs de agosto com uma perfeita doçura.
Mas o tempo nunca foi muito amigo. Os minutos deles pareciam passar exageradamente depressa, até dava para sentir pena disso. Não houve livro que conseguisse me fazer chamar mais atenção do que aquela paixão gastada no banquinho da casa. Simplório e sincero, que pode ter surgido de um amor antigo de colégio, ou de algum amigo em comum ou até mesmo de um esbarrão numa padaria qualquer. Destino.
Mas é que hoje não houve beijo, não houve risada, não houve amor. O mesmo senhor, com a mesma bicicleta amarela, chegara no horário e local de sempre. Tocou a campainha com o mesmo dedo, sentou do lado direito do banco e esperou, passivamente, para ver os mesmos olhos que almejava por todos esses tempos. Dois, sete, quinze minutos. A cabeça baixa e a não insistência em fazer o som da campainha se alastrar pela casa verde diziam mais que mil palavras ou mil lágrimas. Ela não viria. E nem ele voltaria.
Marcela Haun é jornalista e cronista

Ihuul! Chegou sexta-feira e o que a gente mais quer? Ah, a gente quer tirar a gravata, o sapato apertado e quer muita música. Muita música! Seja para relaxar, quase até que para uma sonequinha, ou para animar a galera, os amigos, para badalar. Então, aí estão as músicas que mais embalaram a redação do Jornal Opção, esta semana! Chet Faker – (Lover) You Don't Treat Me No Good (Sonia Dada cover) Cícero - Barely Legal (Strokes Cover) Karol Conka feat.Tropkillaz – Tombei Kelly Clarkson - Run Run Run ft. John Legend Nonpoint - Alive and Kicking Oficina G3 – People Get Ready Tegan & Sara - Where Does The Good Go The Strokes - Last Nite

Yago Rodrigues Alvim
Sabe aqueles textos que te inquietam, agoniam sem sequer uma palavra estar escrita? E nem precisa ser texto. Sabe aquela coisa que te bota medo, antes mesmo que exista uma ínfima possibilidade que aconteça? Que te estremece mesmo, que te deixa perdido, sem qualquer indicação de caminho? Foi bem assim ter que elencar alguns poemas e intitulá-los como “os melhores poemas”.
Por isso, alguns jornalistas, escritores, artistas ajudaram a preencher as próximas linhas de mais puro amor. Para esclarecer, não seguem uma hierarquização de “qual é o melhor”, até porque, às vezes, o melhor poema de amor pode ser um olhar, um sorriso, um abraço. Pode ser qualquer coisa que te diga, te faça sentir que “te amo”.
Antes, bem vale dizer que só seria uma lista definitiva se todas as poesias fossem conhecidas e se fosse possível todas lê-las e, ainda, se todas escritas já tivessem sido. Como não, é efêmera a lista, breve, tal qual um susto de amor. E, ainda há o alerta: é quase impossível não repetir Drummond, não repetir Vinícius, assim como é quase impossível viver sem amar ou não ser ridículo, caro Pessoa, ao falar de amor.
[caption id="attachment_29916" align="alignnone" width="620"] "O Beijo" de Gustav Klimt[/caption]
As sem razões do amor - Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Quero - Carlos Drummond de Andrade
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Um poema de amor - Charles Bukowski (Tradução: Jorge Wanderley)
todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.
suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.
principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.
há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.
sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.
mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.
sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.
algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.
essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.
Eu Te Amo - Chico Buarque
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
Poeminha Amoroso - Cora Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
Todas as cartas de amor… - Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Amar - Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Amor que morre - Florbela Espanca
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
Elegia: Indo para o leito - John Donne (Tradução de Augusto Campos)
Vem, Dama, que eu desafio a paz,
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu aos homens.
Tu, meu Anjo, é como o Céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu Império!
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo)
Sem vestes. As jóias que mulher ostenta
São como bolas de ouro de Atlanta:
Os olhos do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a qual tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-Te:
Atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante
Bilhete - Mário Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Poema XLIV - Pablo Neruda
Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem a sua metade de frio.
Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.
Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.
O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.
Os espaços do sono - Robert Desnos (Tradução de Eclair Antônio Almeida Filho)
À noite há naturalmente as sete maravilhas do mundo e a grandeza e o trágico e o encanto.
Nela as florestas se chocam confusamente com criaturas de lenda escondidas nos bosques.
Há você.
Na noite há o passo do caminhante e o do assassino e o do agente de polícia e a luz do revérbero e a da lanterna do trapeiro.
Há você.
Na noite passam os trens e os barcos e a miragem dos países onde é dia.
Os derradeiros sopros do crepúsculo e os primeiros arrepios da aurora.
Há você.
Uma ária de piano, um brilho de voz.
Uma porta range. Um relógio.
E não somente os seres e as coisas e os ruídos materiais.
Mas ainda eu que me persigo ou sem cessar me ultrapasso.
Há você a imolada, você que eu espero.
Por vezes estranhas figuras nascem no instante do sono e desaparecem.
Quando cerro os olhos, florações fosforescentes aparecem e murcham e renascem como carnosos fogos de artifício.
Países desconhecidos que percorro em companhia de criaturas.
E há você sem dúvida, ó bela e discreta espiã.
E a alma palpável do espaço.
E os perfumes do céu e das estrelas e o canto do galo de há 2 000 anos e o choro do pavão em parques em chama e beijos.
Mãos que se apertam sinistramente numa luz baça e eixos que rangem sobre estradas medusantes.
Há você sem dúvida que não conheço, que conheço ao contrário.
Mas que, presente em meus sonhos, te obstinas a neles se deixar adivinhar sem aparecer.
Você que permanece inapreensível na realidade e no sonho.
Você que pertence a mim por minha vontade de possuí-la em ilusão, mas que não aproxima seu rosto do meu como meus olhos fechados tanto ao sonho como à realidade.
Você que a despeito de uma retórica fácil em que a onda morre nas praias, em que a gralha voa em usinas em ruínas, em que a madeira apodrece rachando-se sob um sol de chumbo.
Você que está na base de meus sonhos e que excita meu espírito pleno de metamorfoses e que me deixa sua luva quando beijo sua mão.
À noite há as estrelas e o movimento tenebroso do mar, dos rios, das florestas, das idades, das relvas, dos pulmões de milhões e milhões de seres.
À noite há as maravilhas do mundo.
À noite não há anjos da guarda, mas há o sono.
À noite há você.
No dia também.
Monólogo de Orfeu - Vinicius de Moraes
Mulher mais adorada!
Agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços
Te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
É mais por que te amar
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada.
E sabes de uma coisa?
Cada vez que o sofrimento vem,
essa vontade de estar perto, se longe
ou estar mais perto se perto
Que é que eu sei?
Este sentir-se fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, Orfeu;
Tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.
Nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, esse corpo
E me dizes essas coisas
que me dão essa força, esse orgulho de rei.
Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música.
Nunca fujas de mim.
Sem ti, sou nada.
Sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
Orfeu menos Eurídice: coisa incompreensível!
A existência sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo,
minha amiga mais querida!
Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura!
Quem poderia pensar que Orfeu,
Orfeu cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres -
que ele, Orfeu,
Ficasse assim rendido aos teus encantos?
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo.
Namorados no Mirante - Vinicius de Moraes
Eles eram mais antigos que o silêncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas súbitas estátuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
Remontavam às origens - a realidade
Neles se fez, de substância, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espécie - tudo mais tinha morrido.
Caíam lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas no magma incandescente
Que milênios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galáxias da vida no infinito.
Eles eram mais antigos que o silêncio...
Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Do diretor e bailarino da Quasar, o mineiro João Paulo Gross, “O Crivo” reflete os vazios das relações e essência humanas

Adelto Gonçalves
Especial para o Jornal Opção
[caption id="attachment_29567" align="alignleft" width="620"] A professora Dirce Lorimier destaca o papel da mulher na história em seu novo livro, Rainhas da Antiguidade[/caption]
I
A História do Brasil, como a de tantos países, até hoje tem sido escrita sob uma ótica masculina. Neste país, quando se lê livros da época colonial, é como se as mulheres sempre tivessem vivido numa penumbra social, limitando-se a reproduzir. Até mesmo nesta função sua presença tem sido relativizada. Basta ver que os chamados bandeirantes até hoje são idealizados em gravuras e estátuas como se fossem brancos, bem vestidos, embora nos séculos XVII e XVIII a presença de mulheres brancas na América portuguesa fosse insignificante. Na imensa maioria, os bandeirantes seriam filhos de indígenas, de africanas ou de miscigenadas, pois poucas mulheres brancas enfrentaram o desafio de atravessar o Atlântico.
Foi preciso que o historiador Luciano Figueiredo, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), escrevesse dois livros basilares sobre o assunto –– O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII (Rio de Janeiro, José Olympio, 1993) e Barrocas famílias: vida familiar em Minas Gerais no século XVIII (São Paulo, Hucitec, 1997) para que se descobrisse que, no século XVIII em Minas Gerais, parte significativa das mulheres negras e mestiças atuou no comércio, contribuindo decisivamente para o crescimento da economia da capitania.
Muitas dessas mulheres eram conhecidas como as negras de tabuleiro, enquanto outras eram proprietárias de vendas, as vendeiras. Neste caso, sua importância foi inegável para o abastecimento das zonas mineradoras. Outras se envolveram com ofícios mecânicos, sozinhas ou, às vezes, lado a lado com seus maridos ou concubinos em padarias, tecelagens ou alfaiatarias. Se assim foi em Minas Gerais, com predominância de mulheres negras, em outras regiões, como em Goiás, a presença maior teria sido das indígenas e miscigenadas.
Nenhuma delas, porém, ao que se saiba, chegou a se afirmar em patamar de igualdade no jogo do poder, embora muitas tenham tido papel relevante nas questiúnculas palacianas, valendo-se provavelmente da atração física para barganhar favores junto a governadores e outras autoridades. Na Antiguidade, porém, há alguns exemplos de mulheres que se celebrizaram em épocas, espaços e sociedades distintas, exibindo em comum a força e a ousadia do enfrentamento com os homens e o poder instituído, de que a Rainha de Sabá, talvez, seja o exemplo mais clássico, até porque aparece na Bíblia (I Reis, 10:1-13). Mas há também os casos de Elisa, Cleópatra e Zenóbia, que se destacaram na História por sua sagacidade e inteligência, personagens do livro Rainhas da Antiguidade: sedução e majestade, ensaio de História do mundo antigo da professora Dirce Lorimier Fernandes, doutora em História Social pela USP, que acaba de ser lançado pela editora Letra Selvagem, de Taubaté-SP.
II
A princesa fenícia Elisa é a Dido, a imortal musa de Virgílio (70 a.C-19 a.C), aquele que foi escolhido por Dante Alighieri (1265-1321) para descer ao Inferno em A divina comédia. No livro II da Eneida, Dido acolhe Eneias em Cartago e lhe pede que conte a tragédia da derrocada de Troia. Tornam-se amantes e o idílio vai até o livro V, quando o destino obriga Eneias a seguir viagem para fundar o reino da Itália. Amargurada, a rainha africana atira-se a uma pira funerária.
A segunda personagem deste livro é a rainha egípcia Cleópatra (69 a.C-30 a.C), aquela que subjugou pela paixão os imperadores romanos César (62 a.C-14 d.C) e Marco Antônio (82 a.C-30 a.C). Era descendente de Ptolomeu (366-283 a.C), general de Alexandre, o Grande (356 a.C-323 a.C), que depois da morte do comandante macedônio, resolveu criar um império no Egito. Cleópatra não desempenhou apenas o papel de princesa romântica, lasciva e pérfida que as lendas e o cinema lhe impuseram, mas foi uma militante política, obcecada pela restauração do reinado ptolomaico.
Já Zenóbia (século III d.C), a Rainha do Deserto, três séculos adiante das duas personagens anteriores, tornou-se soberana absoluta na pequena Síria, então reino de Palmira. Apoiou o judaísmo, patrocinou poetas e pesquisadores e lançou-se a uma aventura expansionista, desafiando o poder de Roma. Proclamando-se parente de Cleópatra, conquistou o Egito, mas sucumbiu diante do exército de Aureliano (214-275).
III
A escolha dessas três mulheres incomuns pela historiadora Dirce Lorimier Fernandes para personagens de seu livro mostra, segundo Joaquim Maria Botelho, autor do texto de apresentação publicado nas “orelhas”, a admiração da autora “pelas mulheres fortes – mesmo as que pereceram, vitimadas pelas próprias fraquezas”. Para Botelho, “este livro é uma composição narrativa de verdades e mitos, descortinando informações que ultrapassam a frieza histórica”.
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Rainhas da Antiguidade: sedução e majestade (Elisa, Cleópatra e Zenóbia) / Autora: Dirce Lorimier Fernandes / Preço: R$ 25 Letra Selvagem[/caption]
Na introdução, a historiadora explica que o enfoque do trabalho é “o papel dessas mulheres na História, especialmente na vida pública, fora da oika (casa), ambiente que as mulheres do entorno da nobreza continuavam dirigindo, ao mesmo tempo em que algumas privilegiadas atuavam em vários setores do saber”. Ela lembra que foram raras as civilizações antigas, com exceção do Egito, em que a mulher alcançou postos sociais importantes.
Fora do círculo de Elisa e de Cleópatra, diz, na Grécia, a situação feminina era ainda mais degradante, pois, não tendo personalidade jurídica nem política, sempre estava à sombra da figura masculina que se encarregava de tratá-la como uma possessão em todos os sentidos. “Esta dependência gerava o analfabetismo e, em muitos casos, as mulheres deviam se conformar com a educação recebida de sua mãe”, acrescenta.
Segundo a professora, quanto ao matrimônio, a mulher era objeto de troca, não somente do possuidor senão que, geralmente, se dotava com propriedades por parte do pai ao prometido para assegurar o acordo matrimonial, mais parecido a uma transação econômica. Aliás, um comportamento que ainda valia para o século XVIII em Portugal e suas possessões ultramarinas, pois foi só com o Romantismo que o casamento passou a ganhar outro foro com a valorização do amor, da fé, do sonho, da paixão e da intuição.
IV
Dirce Lorimier Fernandes é professora universitária, licenciada e pós-graduada em Letras pela Universidade São Judas Tadeu (USJT) e doutora em História Social pela USP. Além de crítica literária e ensaísta, membro da diretoria da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), Dirce é coautora dos livros: Meu Nome é Zé (São Paulo, Ideograma Técnica e Cultura), Antologia de Contos da UBE (São Paulo, Editora Global, 2009) e Inquisição Portuguesa –– Tempo, Razão e Circunstância (Lisboa, Prefácio, 2007). É, ainda, organizadora e coautora do livro Religiões e Religiosidades –– Leituras e abordagens (Arké, 2008).
É também autora de A literatura infantil (Edições Loyola, 2003), A Inquisição na América Latina (Editora Arké, 2004) e Rainhas da Antiguidade: entre a realidade e a imagem do poder – Teodora, a imperatriz de Constantinopla, Urraca e Teresa, duas rainhas obstinadas (São Paulo, Clube dos Autores, 2012), entre outros.
Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), entre outros.

[caption id="attachment_29764" align="alignnone" width="620"] Matheus Antunes é ilustrador[/caption]
Marcos Nunes Carreiro
Chuveiro semiaberto para afastar melhor o gostoso, mas frio, ar matutino. Com a cabeça encostada no azulejo recém-colocado no banheiro acinzentado, Laura pensa arduamente em como escrever. Queria, aliás, precisava dizer à Isis que não iria vê-la este ano. Conheceram-se há tempos e chegaram a morar juntas por uns meses. Adora a casa da amiga, pois, desde o momento em que a porta se abre já é possível ver algumas das telas de que gosta mais, embora suas favoritas fiquem expostas na galeria. Há alguns retratos de Laura lá.
Adora o lugar e a companhia, mas neste ano não dá. O livro está atrasado e ainda há muito que fazer se quiser levá-lo às lojas a tempo do feriado prolongado. Por isso a cabeça encostada no azulejo. Olhos fechados para dar melhor fluidez aos pensamentos, enquanto a água lhe cai sobre os alvos ombros, levando consigo as palavras de que não necessita e, ao mesmo tempo, fazendo movimentar as duas pintas que tem logo abaixo do braço direito.
Abre os olhos a tempo de ver todas as palavras que tinha em mente descerem pelo ralo.
Desliga o chuveiro e, com a toalha, tira o esfumaçado do espelho para poder se ver. O novo corte que seus belos cabelos louros adquiriram dias antes demandará um novo quadro de Isis. Toalha alçada ao pescoço, caminha livre e lentamente pelo corredor que leva do banheiro ao seu quarto.
Pelo corredor, livros. Livros de todos os tipos. Livros empilhados. Livros adequados a crianças e outros bastante inadequados. Livros por todos os lados. Livros grandes e pequenos, em brochura e em capa dura. Livros que discutem ou ilustram. Livros que narram. Livros na frente de outros livros e que refletem as diversas fases e interesses de Laura. Estão ali as palavras?
Toalha molhada em cima da cama. Veste-se, peça por peça, sob a morna luz do sol que entra pela janela ainda fechada. Venta lá fora. É possível perceber pelas árvores a balançar na praça em frente ao seu prédio. Levanta-se e vai olhá-las, esquecendo-se que está só de sutiã.
Abre a janela, o vento eriçando sua pele. Pensa no conto que escreveu por último. Isis está nele; estão as duas sentadas em um daqueles bancos de praça tão comuns e caros a elas. Lá embaixo, vê Heitor, seu amigo que mora a alguns quarteirões de distância, chegando ao Café que existe ao lado de seu prédio. Pega o envelope enviado por ele há dois dias, coloca o texto corrigido lá dentro e vê que está atrasada.
Volta-se, pega o computador e digita: “I’m waiting u this year”. Enviar. Sai vestindo a blusa, mas esquece a porta aberta.

Osman Lins pode ser colocado entre os melhores escritores brasileiros, embora poucas pessoas o conheçam. Por isso, esta publicação atende bem ao objetivo: difundir o autor.
Lisbela e o Prisioneiro
Autor : Osman Lins
Preço: R$ 37,50 -- Planeta do Brasil
Em 2007, fizeram performance sobre os 20 anos do acidente com o Césio 137. “Rua 57, nº60, Centro” virou curta. E, agora, chega às prateleiras como CD.
Rua 57, nº60
Intérprete: Vida Seca
Preço: R$ 10 -- Estúdio Volt
Tom Hiddleston é o vampiro Adam, um músico cansado com a sociedade, que reencontra Eva (Tilda Swinton). O amor dos dois é abalado pela irmã de Eva (Mia Masikowska).
Amantes Eternos
Direção: Jim Jarmusch
Preço: R$ 29,90 -- Paris Filmes
- Em todo primeiro domingo do mês, o Grande Hotel abre as portas às diversas artes. O Sarau Palco Aberto dá início a temporada 2015, com o lançamento do “Visage”, do mineiro Macoy Arai.
- Tem aula de tecido, trapézio, lira e acrobacias de solo com Esparta Arte e Cultura. As professoras circenses Lua Barreto e Tetê Caetano abriram as inscrições para duas turmas: tem aula das 15 horas às 17h30 e das 18h30 às 21 horas; sempre às terças e quintas. É ali na Rua da Asteria, no Jardim Atlântico. Para mais informações é só ligar no (62) 82530302.
A Livraria Cultura é conhecida por sua qualidade. Isso não é novidade. Agora, ela resolveu ser mais linda ainda e entrou na onda das leituras mobile, lançando o aplicativo “Kobo”. A melhor parte: ele está disponibilizando, gratuitamente, mais de 40 mil livros digitais. São livros infantis, best-sellers, clássicos... Enfim, tem literatura para todos os gostos. O app pode ser baixado nas plataformas iOS, Windows e Android. Mas não se preocupe, caso você seja muito exigente, além dos 40 mil, tem outros ebooks pagos.

[caption id="attachment_29552" align="alignleft" width="620"] Foto: Luís da Cruz[/caption]
Vem de Lisboa e traz consigo toda sua poética dançante. Vera Mantero (foto) dança tudo aquilo que necessita perceber, dança a vida e sua luta contínua contra o empobrecimento do espírito, do essencial. “Os Serrenhos do Caldeirão” ganha vida nos passos da bailarina portuguesa, que pesquisou a desumanização e desertificação das terras do Algarve. “Toda a peça é povoada de vozes que vêm de longe. Os tradicionais ‘ferrinhos’ são usados para reproduzir o som do silêncio, o som da serra”, diz ela. Embebida nas recolhas do etnomusicólogo Michel Giacometti, Vera tenta dar vida a tradições rurais perdidas. A solista ainda baila nas letras de poetas: “Não é só de música que se trata. É também de palavra e de terra; a palavra de um Antonin Artaud em combustão, de um Prévert martelado em jeito de poesia sonora”. Vera se apresenta no dia 1° de março, em Pirenópolis, no Teatro Pireneus; no dia 4, em Goiás, no Teatro São Joaquim; e no dia 6, em Goiânia, no Teatro Sesc.
Já se maravilhou de Colombina? E de Fiu-Fiu, então? Não? Ah, então se prepara, pois essas genuínas bebidas goianas vão assoprar velinhas em alto estilo, à lá Móveis Coloniais de Acaju, pode acreditar. É, mocinho e mocinha, seu 7 de março já tem festa confirmadíssima com o show “Móveis Axé 90”. Então, separa as sapatilhas e vai ensaiando na frente do espelho com a irmã, com os primos, com a galera toda, pois a banda vai embalar esses hits lá no Martin Cererê. E, ó, não dá para levar o papagaio e o cachorro, porque lá é só para maiores de 18 anos. A comemoração começa às 22 horas, heim. E se liga que o primeiro lote de ingressos — que custam R$ 30 — já está à venda.