Opção cultural

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O olhar do gênio Vargas Llosa no legado de outro gênio, García Márquez (parte 1)

O legado de García Márquez, sob o olhar de Vargas Llosa, é o de um autor que transcendeu a realidade, transformando-a em mito e arte

A Vida em Um Dia, de Van der Heijden, ultrapassa os limites do fantástico ao abordar questões universais

O escritor holandês aborda o desejo de permanência em um mundo transitório, o peso das escolhas e a busca por significado

Agenda de leitura de escritores, jornalistas e intelectuais para 2025 (parte 6)

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Tarsilla Couto

Crítica literária e escritora

O primeiro mês de um ano novo traz sempre a sensação de que o céu é o limite. Se eu conseguir ler tudo que planejei para 2025, ô gloria! Mas é melhor manter algum pé na realidade, então compartilho os livros que já estão separados para janeiro.

Quero começar com o livro de poemas “Asma”, de Adelaide Ivánova, que saiu em 2024, pela editora Nós. Pelos comentários que li a respeito, o leitor que abrir o livro estará diante de Vashti Setebestas, uma personagem que anda pela Terra atravessando o tempo, transmutando-se em muitas entidades, muitos corpos e muitos povos. Pelo caminho, é perseguida pela opressão de uma narrativa histórica determinada pela cultura falocêntrica ao que responde com um projeto caleidoscópico, que vai de Homero a Virginia Woolf, de Chico Science a Ferreira Gullar.

E ainda aguardo ansiosa o novo livro de poemas de Angélica Freitas, que sai agora em janeiro de 2025 com o título de “Mostra Monstra” pela Círculo de Poemas. Pesquisando no site da editora, encontrei a seguinte descrição: “Retirados dos cadernos em que Freitas experimenta diariamente novos caminhos para sua poesia, os desenhos e versos desta plaquete levam para passear num universo tomado por monstros não exatamente assustadores: pessoas de piche, um cão misterioso, “o cocô de rita hayworth”, “o fantasma das tuas calcinhas velhas”. No fundo, não é nada difícil simpatizar com esses monstros, porque eles são capazes de expandir, com um sorriso, o mundo em volta”.

Nem toda lista de leitura é feita de novidades. Estou muito curiosa com o romance “Em Agosto Nos Vemos”, de Gabriel García Márquez, que o autor teria negado e renegado em vida. Foi publicado após a sua morte (me pergunto se nosso querido imortal se sente traído com isso). No Brasil saiu pela Record, com tradução do Eric Nepomuceno. Fiquei intrigada com o fato de que se trata do único romance com uma protagonista mulher, que vive feliz com o marido há 27 anos e, apesar disso, todo mês de agosto pega uma balsa para a ilha onde sua mãe está enterrada, e todo mês de agosto arranja um novo amante. Quero muito saber se sou capaz de reconhecer o que fez o autor desistir do romance. Onde ele acha que falhou.

Também gosto de “estrear” em novos autores (para mim): então vou ler pela primeira vez um romance da autora de Porto Alegre Taiasmin Ohnmacht (“Uma Chance de Continuarmos Assim”, Diadorim) sobre duas alunas negras da faculdade de física de alguma federal brasileira que desenvolvem uma máquina do tempo. Além da Taiasmin, comprei “Gótico Nordestino”, do paraibano Cristhiano Aguiar, que saiu pela Alfaguara em 2022. Li apenas um conto deste livro, fiquei impactada e me prometi parar para ler o livro todo.

Para finalizar, vou apenas deixar registrado que comecei a ler o ensaio de trans/escrita de Camila Sosa Villada que se chama “A Viagem Inútil” (saiu pela Fósforo neste ano de 2024). Acho que meu corpo já está em 2025! Comecei pensando assim: ah que bom, meu primeiro livro de férias. Mas aí lembrei que tinha prometido essa lista e interrompi pra vir aqui compartilhar com vocês minhas new year’s resolutions de leitura. Bom 2025 pra todo mundo.

2

Ademir Luiz

Ex-critor e historiador

Meu segredo foi descoberto. Meus esqueletos escondidos estão dançando a vista de todos, como se estivessem em um filme “stop motion” do Tim Burton. Em seu mais recente furo, o jornalista Charles W. Milk revelou para o mundo a desconcertante verdade que eu, autoproclamado escritor, presidente de entidade cultural e membro de academia de letras, não leio nada, absolutamente nada, desde 2022. Nenhum livro, nenhum artigo, nenhuma monografia, nenhum gibi, nem bula de remédio. Dois anos de burla. Segundo Milk, da mesma forma que Sansão perdeu a força quando teve seus cabelos cortados, perdi a habilidade de ler, fui desalfabetizado. A regressão teria sido causada por um procedimento cirúrgico malsucedido de revascularização do miocárdio. Não nego, nem confirmo, muito pelo contrário. Mas conto com a sempre confiável credulidade do afegão médio para seguir com minha fama de leitor voraz e erudito.

Mas, para não dar nas vistas, vou começar devagar. Em janeiro vou fingir que lerei “O Silêncio da Água”, livro infantil escrito por José Saramago e ilustrado por Yolanda Mosquera, publicado pela Companhia das Letrinhas em 2021. Pouquíssimas palavras, muitas figuras, apenas 28 páginas. Ninguém vai desconfiar e ainda terei a vantagem de ser visto carregando uma obra da grife Saramago Fashion Book, sempre um sinal de sofisticação e inteligência.

Fevereiro é um mês curto. Preciso de um livro igualmente curto. Pensei na edição de bolso da novelinha “A Prova”, do escritor argentino César Aira, lançado pela editora Fósforo em 2024. Sempre bom ter um “hermano” na lista para dar credibilidade. Se lerei ou não lerei, caberá ao acusador o ônus da prova.

Cuidado com os idos de março. Podem começar a desconfiar. Precisarei estudar técnicas de interpretação para conseguir manter o personagem. Sendo assim, vamos para os melhores. E, nesse caso, nada é melhor no mercado editorial brasileiro do que “Stanislávski, Vida, Obra e Sistema”, escrito por Elena Vássina e Aimar Labaki, publicado pela Funarte em 2016.

Em abril, atuando melhor, poderei aparecer em público segurando um calhamaço. Que tal o denso “Os Bastidores — Como Escrever”, último romance de Martin Amis, lançado pela Companhia das Letras em 2024? Um livro sério, embora desaforado, de um escritor relevante e cult. Quem poderá duvidar? Só quem estiver me acompanhando dos bastidores.

Maio é o mês de meu aniversário. Provavelmente, ganharei muitos livros. O que farei com eles, considerando que não leio mais? Talvez arrancar a página da dedicatória, para não correr o risco de sofrer o efeito Bernard Shaw (que comprou em um sebo um livro autografado por ele e devolveu ao ingrato com a seguinte mensagem: “com redobrado afeto”) e vendê-los para um sebo. Para ser justo com meus gentis amigos, haverá sinais. Por isso vou passar o mês andando com “Uma Noite na Livraria Morisaki”, continuação de “Meus Dias na Livraria Morisaki”, do autor japonês Satoshi Yagisawa, ambos lançados pela editora Bertrand Brasil, respectivamente em 2023 e 2024. Fingi que li o primeiro volume, nada mais justo que fingir que lerei o segundo.

Chegou então o fogo de junho. Para colocar lenha na fogueira, verei as figuras da lindíssima edição do clássico do erotismo sofisticado “Senhorita Christina”, lançado em capa dura pela editora Tordesilhas em 2011. O autor é o filósofo romeno Mircea Eliade, um dos mais importantes historiadores da religião do século XX. Publicado em 1936, “Senhorita Christina” gerou polêmica, sendo acusado de pornográfico. Como sempre, quem mais reclamou foi quem não leu. Prometo não reclamar.

Julho é mês de férias. Um intelectual de meu calibre não pode tirar férias da leitura, não pega bem. Assim sendo, um bom livro policial será bem-vindo para manter as aparências. Escolho levar para praia “Estão Matando os Humoristas”, escrito por seu casseta Beto Silva, publicado pela Editora 7 Letras (o número máximo de letras que leio atualmente por dia) em 2019. Afinal, como costuma dizer Yuri Al’Hanati, quem leva livro para praia ou não gosta de livro ou não gosta de praia.

Em agosto precisarei ser persuasivo para seguir mantendo as aparências. Nada melhor do que ser visto com alguma edição de luxo de “Persuasão”, de Jane Austen. Manterei minha fama de ser um sujeito movido pela razão, sem perder a sensibilidade. Só uma pessoa corroída pelo orgulho e tomada pelo preconceito pode desconfiar de um leitor da genial senhorita Austen.

“Alice e Ulisses”, de Ana Maria Machado, foi um de meus livros preferidos na distante época em que ainda lia. Setembro é o mês da Independência. No desfile de 7 de setembro serei audacioso e vou desfilar por aí com o romance “A Audácia Dessa Mulher”, da própria Ana Maria, publicado pela Alfaguara em 2011.

Reconheço que precisarei ser muito cara de pau para fazer tudo isso ao longo do ano. Na verdade, sou tímido. Por isso, “O Tímido e as Mulheres”, de Pepetela, lançado pela Leya em 2014, será o álibi de outubro. Admito que sempre tive um pé atrás com Pepetela. Como agora estou com os dois pés sem tocar o chão, darei uma chance para ele. Ou não.

Novembro é como quinta-feira em Brasília, o ano praticamente acabou. É preciso redobrar os cuidados. No final é quando costumamos baixar a guarda. Preciso de outro clássico robusto para garantir o bicho. As quase quatrocentas páginas de “Os Enamoramentos”, do espanhol Javier Marías, lançado pela Companhia das Letras em 2012, é perfeito. Inclusive, estou apostando que esse será o melhor livro que não vou ler em 2025.

Tudo pode acontecer em dezembro. Inclusive nada. Por isso, em dezembro não lerei “A Louca da Casa”, de Rosa Montero, lançado pela Todavia em 2024. Estou muito curioso com essa obra. Não sei se o suficiente para me fazer abrir suas páginas. Outro romance da autora, “A Ridícula Ideia de Nunca Mais Te Ver”, foi um dos últimos livros que li antes dos fatos denunciados pelo furo de Charles W. Milk. Aliás, será com prazer que vou passar para Milk o copo de leite reservado para Papai Noel na noite de Natal. Sugiro sentarmos como dois cavalheiros que somos para discutir o assunto. Quem sabe trocamos dicas de leitura para 2026. Se bem que 2026 é ano de copa e eleição. Quem lê em ano de copa e eleição? Talvez a pessoa que leva livro para praia.

3

Celso Costa

Escritor, vencedor do Prêmio Leya

Na casa dos sonhos – Carmen Maria Machado

O livro “Na Casa dos Sonhos” promete um enfoque pouco frequente na literatura: a história de um relacionamento abusivo em um casal lésbico. Carmen, personagem homônima à autora — o que sugere uma autoficção —, encontra uma mulher que parece maravilhosa, fazem sexo, viajam juntas, conhecem as respectivas famílias, tudo se constituindo num relacionamento feliz até a situação se tornar opressiva e aterrorizante, apesar de ainda sedutora. A situação se apresenta, portanto, em contradição com o sugerido pelo título do romance: a casa dos sonhos. Por fim, o livro promete uma narrativa fragmentada e empolgante, não linear, buscando por esses meios alcançar o máximo efeito estético.

Garota, Mulher e Outras – Bernardine Evaristo

A narrativa do romance “Garota, Mulher, Outras” tem como pano de fundo uma Londres dividida e hostil, logo após a votação do Brexit, um lugar onde as pessoas lutam para sobreviver, muitas vezes sem esperança, sem que as suas necessidades sejam atendidas e sem que sejam ouvidas. Nesse ambiente opressor, a narrativa levanta reflexões sobre o machismo, o racismo e a estrutura da sociedade. O romance venceu o Booker Prize em 2019 e foi incluído nas listas de melhores livros do ano por veículos como “The Guardian”, “Times”, “Washington Post” e “New Yorker”. Do ponto de vista formal o livro pode ser classificado como de gênero híbrido sendo composto de versos livres e sem pontos-finais, o que se constitui num atrativo contemporâneo.

Os Diários de Emilio Renzi 2 — Os anos felizes — Ricardo Piglia

Terminei de ler o primeiro volume de “Os Diários de Emilio Renzi — Os Anos de Formação”, de Ricardo Píglia. Nos diários, constituídos em três volumes, numa espécie de autobiografia, o escritor argentino Piglia é representado por seu alter ego Emilio Renzi. Fiquei muito impressionado com a leitura de “Anos de Formação”, do ponto de vista da linguagem, da caracterização do espaço de uma Argentina dos anos 1960, e do retrato dos primeiros e decisivos passos de um escritor iniciante.

Nesse ano de 2025 vou me enveredar inicialmente pelo segundo volume “Os Anos Felizes”, o qual promete evidenciar a carreira de Ricardo Piglia em pleno desenvolvimento no contexto da literatura argentina. Em realce é retratada a obsessão de Piglia pela literatura se materializando em ideias e esboços de histórias para romances, suas leituras, os encontros com escritores consagrados ― Borges, Puig e muitos outros ― e colegas de geração. Trata-se de um volume pungente com inúmeras reflexões sobre a escrita e ainda aparecem as viagens, a vida íntima e amorosa, a Argentina daqueles anos convulsivos: a morte de Perón, o surgimento dos grupos guerrilheiros, o golpe militar que esfacelaria o mundo intelectual de Buenos Aires.

Os Diários de Emilio Renzi 3 — Um dia na vida — Ricardo Piglia

Na sequência pretendo ler “Os Diários de Emilio Renzi 3 — Um Dia na Vida”, o terceiro e último volume dos diários de Ricardo Piglia. Nesse último tomo será apresentado o pânico de viver sob uma ditadura. As dúvidas sobre ser ou não um intelectual público. As amizades literárias e os amores. É um tempo pós publicação de “Respiração artificial” –sua obra-prima (também recomendo a leitura) –, em que a qualidade literária de Piglia é definitivamente reconhecida. Nesse volume é possível montar uma cartografia pessoal do autor por meio das aventuras da vida íntima, cafés, quartos de hotel e finalmente o envelhecimento e as doenças. Tudo sob a regência da necessidade de escrever.

Henderson – O Rei da Chuva – Saul Bellow

A literatura de Saul Bellow é incensada por muitos críticos mundo afora. Tendo lido uns poucos contos do autor, neste ano de 2025 vou me dedicar ao primeiro romance. Saul Bellow nasceu no Canadá e se naturalizou americano. O livro, anunciado como um dos mais saborosos de Bellow, foi publicado originalmente em 1958. Dezoito anos mais tarde, em 1976, o autor venceria o prêmio Nobel. O livro, escrito em primeira pessoa, apresenta Eugene Henderson, um riquíssimo criador de porcos, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial ferido e condecorado, com um punhado de filhos frutos de dois casamentos, em permanente conflito com parentes e vizinhos, sofrendo de dores de dente crônicas, e se consumindo em bebedeiras e ameaças de suicídio. Nessa situação crítica, Henderson decide romper com seu passado de erros e empreender uma virada existencial. Parte então para a África, em busca de uma humanidade mais "autêntica" e de um sentido para a vida. No novo espaço, carente e pleno de dificuldades com a natureza, especialmente a dramática falta de água para a lavoura e o gado, daí o título do livro, Henderson tenta atabalhoadamente colocar sua energia e seu intelecto a serviço de seus novos amigos, com resultados não menos que desastrosos.

O Perigo de Estar Lúcida — Rosa Montero

Já li da autora o impressionante “A Ridícula História de Nunca Mais te Ver”, no qual a autora mescla seus dramas pessoais (a perda do marido para o câncer) com a atribulada biografia de Marie Curie, a genial polonesa que venceu duas vezes o prêmio Nobel em duas áreas distintas, física e química (também recomendo esse livro).
Mas nessa nova incursão, em 2025, em “O Perigo de Estar Lúcida” espero encontrar uma narrativa fascinante sobre as ligações entre criatividade e instabilidade mental. Rosa Montero se valendo de sua experiência pessoal e da leitura de inúmeros livros sobre psicologia, neurociência, literatura e memórias de grandes escritores, pensadores e artistas, pretende oferecer um estudo fascinante sobre criatividade e limiar da loucura. Com uma técnica narrativa na confluência do ensaio e da ficção, a autora nos apresenta a teoria da "tempestade perfeita" ― aquela que prega que na explosão criativa são postos em cena fatores químicos e situacionais irrepetíveis. Enfim, “O Perigo de Estar Lúcida” fala das "fadas" que nos presenteiam e nos fazem pagar um preço ― muitas vezes alto demais. Nós, ditas pessoas "normais", não temos esse custo, mas com frequência corremos o risco de sucumbir ao tédio em vez de morrer de amor.

Quando deixamos de entender o mundo — Benjamín Labatut

O livro de Benjamín Labatut, nascido em Rotterdam em 1980 mas vivendo no Chile desde a adolescência, explora as biografias e teorias reais de cientistas se utilizando do molho da ficção para produzir efeitos estéticos e associações de ideias. Ao explorar na narrativa o entrelaçamento entre a vida íntima e o desbravamento científico, seu estilo repercute ecos de W. G. Sebald e Roberto Bolaño. Um dos pontos centrais e intrigantes do livro é o caso da mecânica quântica (uma disciplina ainda em processo de compreensão mesmo para os físicos que atuam nessa fronteira do conhecimento) e seu choque com a teoria da relatividade de Einstein. Na obra surge a pertinácia do jovem Heisenberg e seu mergulho nas matrizes que o levarão a formular a teoria da incerteza, um dos pilares da mecânica quântica. O livro é protagonizado não somente por cientistas famosos como Einstein e Schrödinger, mas também por figuras menos conhecidas e igualmente fascinantes. Enfim, o livro é uma investigação literária sobre homens que atingiram o "ponto de não retorno" do pensamento e nos revelaram em alguma medida o "núcleo escuro no centro das coisas".

Os ratos — Dyonelio Machado

“Os Ratos”, publicado originalmente em 1935, é uma narrativa inquietante sobre o cotidiano angustiante de um homem engolido pelas demandas da modernidade e das exigências capitalistas da vida urbana em uma metrópole, no caso a cidade de Porto Alegre. O leitor irá acompanhar o cotidiano difícil de um pobre homem, Naziazeno, mergulhado em um estado de extrema angústia existencial, em profunda penúria econômica e vítima da exclusão social, em uma sociedade onde o dinheiro se tornou a mola propulsora. O livro, escrito em uma dicção incrivelmente contemporânea, quase noventa anos depois, conserva sua atualidade em um mundo de consumo global, repleto de exigências, modelos e padronizações que estão disponíveis para poucos.

A Praça do diamante — Mercè Rodoreda

Minha atenção sobre esse livro veio no momento em que li um comentário da escritora Carol Bensimol quando afirma que: “Abrir um romance, ler suas primeiras linhas e já sentir-se levado pela história e pela maneira como ela está sendo contada: esse é um dos itens incontestáveis da minha lista particular de Coisas Mais Prazerosas da Existência. Quando acontece por acaso, com uma obra sobre a qual sei previamente nada ou quase nada, tanto melhor. Foi assim com A praça do diamante”. Ao buscar mais detalhes da obra apreendi que trata da vida de um casal, Colometa e Quimet. Ela uma jovem balconista de uma loja de doces, ele um jovem impetuoso que se conhecem durante um baile na praça do Diamante. O casal constituído tem dois filhos e levam uma vida de dificuldades quando eclode a Guerra Civil espanhola e o marido parte para a luta. Numa narrativa de profunda densidade psicológica, Mercè Rodoreda contrapõe o sofrimento pessoal de Colometa à dor coletiva de uma Espanha assolada pela Guerra Civil (1936-1939).

Caminhando com os Mortos — Micheliny Verunschk

Um crime é o ponto de partida do romance de Micheliny Verunschk, romance vencedor do prêmio Oceanos 2024. Uma mulher é queimada viva numa pequena cidade do interior do Brasil, em um ritual motivado por razões religiosas, a fim de purificar a vítima e endireitá-la para o "caminho do bem". Esse e outros acontecimentos estranhos de violência — as principais vítimas sendo as mulheres e as minorias — passam a ocorrer na pequena cidade, após uma comunidade evangélica se instalar na região. A narrativa, ao retratar o ódio às mulheres e às minorias, sobretudo quando se vale do fanatismo religioso, é assustadoramente atual. E, como se revelasse a ponta de um iceberg, o livro pretende ir mais fundo mergulhando no processo de colonização das Américas e no papel das religiões como um braço forte do projeto de conquista que ajudou a destruir um povo e seus costumes, sua terra, sua alegria de viver, sua relação com o divino.

4

João Batista de Oliveira

Livreiro do Bazar do Livro

Nexus: Uma Breve História das Redes de Informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial”, de Yuval Noah Harari. Cia das letras

Nexus olha para a nossa história e avalia como o fluxo de informações moldou a nós e o mundo onde vivemos. Em uma narrativa que vai desde a Idade da Pedra e passa pela canonização da Bíblia, pelas primeiras caças às bruxas modernas, pelo stalinismo, pelo nazismo e pelo ressurgimento do populismo hoje, Yuval Noah Harari nos convida a examinar a complexa relação entre informação e verdade, burocracia e mitologia, sabedoria e poder.

Vidas Impressas: Intelectuais Negras e Negros na Escravidão e na Liberdade”, de Iamara Viana/Flávio Gomes. Editora Selo Negro

Nesta obra, que reúne pesquisadores de todo o Brasil, o leitor encontrará interpretações originais sobre personagens negras e negros dos séculos XIX e XX e sobre suas contribuições em diversos campos. Do conhecidíssimo Luiz Gama ao primeiro beato negro do Brasil, passando por nossa primeira médica negra e por uma de nossas maiores escritoras, os textos aqui presentes descortinam um passado histórico rico em conhecimento e resistência.

A Singularidade está mais próxima: A fusão do ser humano com o poder da inteligência artificial”, de Ray Kurzweil. Editora Goya

Para o futurista, inventor e guru do tecno-otimismo Ray Kurzweil, as inovações das próximas décadas mudarão a vida humana para sempre: mais potente que a orgânica, a inteligência artificial se fundirá com o cérebro biológico, expandindo enormemente a nossa consciência e as nossas capacidades cognitivas.

O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos”, de Jessé Souza. Civilização Brasileira

Um livro que põe no alvo um dos debates atuais mais acalorados. Afinal, o aumento do apoio popular à extrema direita é um fenômeno recente que, a partir de 2018, mudou completamente o panorama das corridas eleitorais no Brasil. não apenas dá as linhas de uma teoria social inovadora como também investe em explicações para questões urgentes que são espelho da situação sociopolítica do Brasil.

Em Agosto Nos Vemos”, de Gabriel García Márquez. Editora Record

Escrito no estilo fascinante e inconfundível de um dos maiores ícones da literatura latino-americana, Em agosto nos vemos pinta o retrato de uma mulher que descobre seus desejos e se aprofunda em seus medos. Uma preciosidade que vai encantar fãs do saudoso Gabo, assim como novos leitores desse grande escritor.

Nada Mais Será Como Antes”, de Miguel Nicolelis. Editora Planeta

Em um mundo que já começa a colapsar pela falta de cuidado com o meio ambiente, uma catástrofe sem precedentes na história moderna se aproxima, trazendo consigo o poder de destruir toda a civilização eletrônico-digital. Momentos antes do impacto, um matemático e uma neurocientista, tio e sobrinha, tentam lidar ao mesmo tempo com seus dilemas pessoais e o possível colapso do planeta. Em paralelo, uma enorme conspiração mundial, com seus próprios interesses e ambições, está disposta a controlar as mentes e os destinos da humanidade.

O que Tem de Mais Lindo do que Isso?”, de Kurt Vonnegut. Editora Rádio Londres

Os quinze discursos reunidos neste volume, pronunciados por Kurt Vonnegut entre 1978 e 2004, e repletos de aforismas, lembranças, anedotas e reflexões, contêm o mesmo espírito irreverente e a mesma verve satírica que tornaram famosas suas obras de ficção. Esses textos são uma verdadeira celebração da liberdade e da criatividade do ser humano, divertindo e pegando o leitor no contrapé.

A Armadilha da Identidade: Uma História das Ideias e do Poder em Nosso Tempo”, de Yascha Mounk. Editora 70

Ao longo da história, as sociedades oprimiram violentamente minorias étnicas, religiosas e sexuais. Não é surpresa que os defensores fervorosos da justiça social acreditem que os membros de grupos marginalizados devam se orgulhar de suas identidades para resistir à injustiça. Neste livro, o autor fornece o relato mais ambicioso e abrangente já realizado sobre as origens, as consequências e as limitações do movimento “woke”. Ele demonstra como os progressistas se tornaram aliados involuntários da extrema-direita, além de defender que os valores universais e humanistas são a única saída para conquistarmos a igualdade plena.

O Peso do Pássaro Morto”, de Aline Bei. Editora nós

A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético. É assim O peso do pássaro morto, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita.

O Perigo de Estar Lúcida”, de Rosa Montero. Editora Todavia.

Rosa Montero oferece aqui um estudo fascinante sobre as ligações entre criatividade e instabilidade mental. E o faz compartilhando curiosidades surpreendentes sobre como nosso cérebro funciona na hora de criar, decompondo todos os aspectos que influenciam a criação e reunindo-os diante dos olhos do leitor enquanto escreve ― como uma investigadora pronta para combinar peças avulsas para solucionar um caso misterioso.

Filho Nativo”, de Richard Wright. Cia das Letras

Ambientado na Chicago da década de 1930, o livro conta a história de Bigger Thomas, um jovem negro massacrado pela pobreza, assombrado pelos traumas de uma irrecuperável memória da escravidão e atiçado pela consciência de que as injustiças que o atingem beneficiam as pessoas brancas. Escrita em um ritmo cativante e no estilo característico de um thriller, esta obra formidável é, ao mesmo tempo, uma condenação da injustiça social e um retrato implacável da experiência negra no mundo moderno.

A Pediatra”, de Andréa Del Fuego. Cia das Letras

Cecília é o oposto do que se imagina de uma pediatra ― uma mulher sem espírito maternal, pouco apreço por crianças e zero paciência para os pais e mães que as acompanham. Porém a medicina era um caminho natural para ela, que seguiu os passos do pai. Apesar de sua frieza com os pacientes, ela tem um consultório bem-sucedido, mas aos poucos se vê perdendo lugar para um pediatra humanista, que trabalha com doulas, parteiras e acompanha até partos domiciliares. Mesmo a obstetra cesarista com quem Cecília sempre colaborou agora parece preferi-lo.

Ratos e Homens”, de John Steinbeck. L&PM

George e Lennie são dois amigos bem diferentes entre si. George é baixo e franzino, porém astuto, e Lennie é grandalhão, uma verdadeira fortaleza humana, mas com a inteligência de uma criança. Só o que os une é a amizade e a posição de marginalizados pelo sistema, o fato de serem homens sem nada na vida, sequer família, que trabalham fazendo bicos em fazendas da Califórnia durante a recessão econômica americana da década de 30.

Felicidade Ordinária”, de Vera Iaconelli. Zahar

Em 2017, Vera Iaconelli aceitou o desafio de traduzir o cotidiano a partir do referencial psicanalítico. Desde então, os artigos publicados periodicamente na “Folha de S. Paulo” exploram diversas camadas da sociedade contemporânea através de temas como relações afetivas, feminismo, masculinidade, educação, sexo e política, além, claro, de parentalidade. Uma abordagem fluida e consistente que foi inevitavelmente marcada por dois eventos de grande impacto social: o fortalecimento de tendências autoritárias, com a ascensão de Bolsonaro, e a eclosão de uma pandemia global.

Espero conseguir ler estes.

5

Marcelo Franco (3ª parte)

Crítico literário e promotor de justiça

“A mis soledades voy,
de mis soledades vengo,
porque para andar conmigo
me bastan mis pensamientos.”
Lope de Vega

Publico a última parte da minha agenda de leitura de 2025. “Aleluia”, berram os meus três leitores. De nada, de nada, este vosso criado aqui está para vos servir. E nasceu com o uso de fórceps, esta agenda, entre embargos e interrogatórios, porque ocupamos um mundo abarrotado de propósitos que não se completam. Líquido ao extremo, este mundo, diria aquele polonês, sem contar que o tempo urge e editor-geral ruge. À lista, amigos.

Comecemos com coletâneas de cartas. Quem não gosta de espiar a vida alheia pela fresta epistolar?

Aprecio ensaios e de coletâneas de textos jornalísticos. Velho que sou, acompanho diariamente o jornalismo desde que Jesus comandou — a quem mesmo? — “Ide a Cafarnaum e depois me conte o que lá virdes”, se é que acerto a citação e as conjugações. Sobre ensaios, já escrevi que todo ensaísta é antes de tudo um amador, um mal equipado explorador que pretende falar sobre variados assuntos e por isso deve tentar, deve ensaiar — exatamente como seguimos também as nossas vidas, pois, que, como nos avisou aquele anjo torto, somos todos gauches: mais erramos que acertamos. As conclusões dos grandes ensaístas são poucas, provisórias e fugidias; seus insights, contudo, fazem o caminho valer a pena. Literatura de autoatrapalha, não de autoajuda: é o que me move. Ou: ler ensaios é como se sentar ao pé da fogueira para ouvir os conselhos do ancião da aldeia. Façamos fogo para que ele converse conosco.

Pois o que veio de bom de 2024 nesses gêneros?

Há ensaios mais específicos, sobre livros e bibliofilia. Coleciono livros ditos raros, lara quem crê que eu apenas jogue palitinho. Primeiras edições, livros autografados, essas coisas.

Vamos agora aos livros de História.

O método Jacarta: a cruzada anticomunista e o programa de assassinatos em massa que moldou o nosso mundo

The Wide Wide Sea: Imperial Ambition, First Contact and the Fateful Final Voyage of Captain James Cook

Na série A dos livros de História sempre jogam aqueles sobre a Segunda Guerra Mundial

O crematório Frio: Um Relato de Auschwitz

Um pouquinho de ficção, claro, porque a realidade costuma nos massacrar.

Filosofia e Religião? Sim, temos planos também.

Alguma coisa de Direito, minha área profissional — ai de mim! —, mas ada tão técnico que não possa ser aproveitado um pouco por quem tenha se formado em Química ou toque bumbo na orquestra filarmônica de sua cidade.

Há livros inclassificáveis, por supuesto. Da Espanha nos chega um grande ensaio sobre a solidão, tema que me fascina desde sempre: “Mapa de Soledades”, de Juan Gómez Bárcena, autor que já citei ali acima. E a Rocco, editora que eu imaginava defunta, traz de volta ao mercado, depois de anos desaparecido de estantes, “Clarice Lispector Entrevista — Grandes Personalidades Entrevistadas por Clarice Lispector”.

Está de bom tamanho, não? Está. “O fim, o fim”, também gritam os meus seis leitores; eu preferiria ouvir “O autor, o autor”, o modo como as plateias homenageavam teatrólogos ao fim da estreia de alguma peça. Encerro, assim, com Gustavo Corção, que também pretendo reler neste 2025.

Furto de “A Descoberta do Outro”: “Num romance de Alexandre Herculano, um personagem faz à sua namorada uma pergunta patética, no gosto da época: ‘Sabes tu, Hermengarda, o que é passar dez anos amarrado ao próprio cadáver?’.

“Não me recordo se Hermengarda sabia; eu porém já posso dizer que avalio aquela situação porque passei mais de quinze anos amarrado à técnica. Cinco entre teodolitos e outros dez, os últimos, fitando ponteiros de galvanômetros. Durante esse tempo tentei algumas evasões (…).

“(…) Levei tempo a descobrir que aquela faculdade se desenvolvera à custa de uma atrofia; foi preciso que coisas graves acontecessem para que eu me desse conta de estar amarrado ao meu próprio cadáver.”

O fim, portanto, e retorno aos meus teodolitos e galvanômetros, digo, aos meus embargos e interrogatórios.

CRÔNICA
No azul do céu de Goiânia, há pedaços de canindés

“As araras são monogâmicas, assim podem se demorar no acasalamento, já o galo, que tem muitas galinhas para cuidar, não suportaria essa rotina”, disse Bariani Ortêncio

FILOSOFIA
Quem foi temperar o choro acabou salgando o pranto

Albert Camus enxergava a vida como um confronto constante entre a necessidade de significado e a aparente ausência de respostas

Kierkegaard lança luzes sobre o conto “William Wilson”, de Poe

O relato do escritor americano tem elementos que podem muito bem caber uma leitura a partir do existencialismo kierkegaardiano

Sete Saias, de Edmar Monteiro Filho, é um romance importante e deve ser lido e comentado

O complexo de vira-lata impede que demos valor à complexidade representada por Lampião, Maria Bonita e Corisco. Nem mesmo conseguimos definir direito o que foram

Literatura
Agenda de leitura de escritores, jornalistas e intelectuais para 2025 (Parte 5)

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Italo Wolff

Editor-executivo do Jornal Opção

Meus planos não valem nada. Sou facilmente desviado de meus objetivos, subitamente capturado por efemeridades e prontamente abandonado pelas coisas importantes. Ainda por cima sou covarde: tenho medo de ler os clássicos e não entender qual a graça. Em 2024 comprei livros enormes e abandonei todos; meus favoritos acabaram sendo obras sobre personagens patéticos e temas singelos: “Pnin”, de Vladimir Nabokov, e “Meu Quintal é Maior do que o Mundo”, de Manoel de Barros.

Assim, minha lista de leituras para 2025 é menos que uma carta de intenções — é, no máximo, uma tabela com sugestões para mim mesmo. Posso abandoná-la ao menor contratempo, mas talvez alguém com mais compromisso aproveite as recomendações sem se perder pelo caminho.

1 — “Burning Down the House: Essays on Fiction”, de Charles Baxter

Charles Baxter é romancista, contista e poeta, mas tem ganhado notoriedade principalmente como crítico. Este livro é uma coleção de ensaios que partem da literatura, passeiam pela análise da cultura americana e retornam às letras. Até o momento, li três dos 11 ensaios da obra. Em todos, Baxter se mostra extremamente inspirado. Com humor cínico e entendimento das engrenagens da linguagem, consegue decompor tanto os problemas históricos da literatura quanto os problemas atuais da sociedade americana.

2 — “Abaixo do Paraíso”, de André de Leones

Uma das primeiras matérias que escrevi para o Jornal Opção foi uma entrevista com diretor e atores do filme “Dias Vazios”, que é baseado no romance “Hoje Está Um Dia Morto” de André de Leones. Desde então, me interesso pelo autor. O interesse aumentou quando li em entrevistas que alguns de seus escritores favoritos são os mesmos que os meus: os americanos Cormac McCarthy e Thomas Pynchon.

3 — “Break it down”, de Lydia Davis

Virtuosa, Lydia Davis vira a linguagem do avesso e produz narrativas que soam ao mesmo tempo inovadoras e intuitivas. A escritora mistura os gêneros do conto, poesia, carta e memórias para criar histórias curtíssimas. Davis desafia os limites da forma, e desafia também seus tradutores. “Break it Down” ainda não tem edição brasileira. Branca Vianna fez um bom trabalho com a tradução de outro livro de Lydia Davis, “Nem Vem”.

4 — “E o Cérebro criou o Homem”, Antônio Damásio

Na apresentação do livro, se lê: “O que é a consciência? Onde ela fica? Como se desenvolveu ao longo do processo evolutivo e que vantagens traz à sobrevivência?”. Essas são as questões centrais para quem quer entender a experiência humana na Terra. A alternativa é andar para lá e para cá à mercê de fabricações desconhecidas de sua própria mente. O português Antônio Damásio é talvez o maior divulgador da neurociência vivo.

5 — “Sir Gawain and the Green Knight”, de Gawain (anônimo)

Esse romance de cavalaria do século XIV é uma das mais conhecidas histórias arturianas. O excelente filme de 2021 “A lenda do Cavaleiro Verde”, de David Lowery, me motivou a ler a versão em inglês contemporâneo de Marie Borroff, que traduziu os versos originais do Middle English. Minha experiência com literatura medieval (li “Decamerão”, de Boccaccio, e “Testamento”, de François Villon) foi gratificante e divertida — ao contrário do preconceito que identifica aquilo que é antigo com o arrastado e o pomposo.

6 — “The Pontypool Trilogy”, de Tony Burgess

Entre os livros “de gênero”, aqueles de terror são meus favoritos. Os livros do canadense Burgess fazem parte do que chamei de “renascença do horror”. Este movimento é uma passagem tardia do horror pela pós-modernidade, que mistura o popular e o erudito em uma valorização do estilo, narrativa e personagens, enquanto preserva a trama e tropos tradicionais. Na história, ainda figuram os zumbis — mas são “zumbis metafóricos”, alusivos a questões geralmente relegados à alta literatura.

Os livros reunidos na trilogia são: The Hellmouths of Bewdley (1997), Pontypool Changes Everything (1998), e Caesarea (1999).

O segundo título inspirou o filme canadense de 2008 “Pontypool”. Na história, o vírus que transforma as pessoas em zumbis não é transmitido pela mordida dos infectados, mas pelas palavras. Trata-se de um vírus linguístico, que se replica nos cérebros dos hospedeiros, comendo outros pensamentos, utilizando os aparatos nervosos para produzir a irresistível obrigação de disseminar suas fabricações contaminadas de violência. O leitor questiona o malefício da metanarrativa corrompida que está lendo. Os personagens estão isolados pelo colapso da própria linguagem.

2

Eliézer Cardoso de Oliveira

Historiador, professor da UEG e membro do IHGG

Fazer lista é a essência do ser humano, pois configura um modo de domesticar a contingencialidade do “tempo rei”, o governante de nosso destino segundo a bela canção de Gilberto Gil.

As listas servem para iluminar o passado, que deixa de ser pura escuridão e passa a ter uma sequência lógica; por isso fazemos “lista de grandes amigos”, como aconselha Oswaldo Nascimento, ou uma lista dos reis que nos governaram como faziam os egípcios e os chineses antigos. As listas também iluminam o nosso presente, possibilitando estabelecer critérios de organização em alguns aspectos do mundo, como a lista das “Sete Maravilhas do Mundo Antigo” ou a “lista da Forbes das pessoas mais ricas do mundo”.

Mas as melhores listas são as de coisas que queremos fazer no futuro. Elas são como bússolas que nos permitem navegar na imensidão das possibilidades de escolha que nos tentam a todo o momento. Enumerar o que se pretende fazer configura uma espécie de “os mortos governam os vivos”, pois o “Eliézer de 2024”, por meio de uma lista, está obrigando o “Eliézer de 2025” de privar de se fazer suas próprias escolhas. Por isso que, as listas de fim de ano, invariavelmente, não são cumpridas, pois um “ser que foi” pretende obrigar “um ser que é” a seguir os seus conselhos.

Filosoficamente, “esses devaneios tolos a me torturar” podem ser explicados pelas colocações de Paul Ricoeur, no livro “O Si-Mesmo Como Outro”, aliás, uma boa sugestão de leitura para aqueles que estão confeccionando as suas listas. Para o filósofo francês, o grande feito da identidade humana é fazer com que os diferentes “eus” vejam a si mesmos como uma única pessoa. Como um jovem maconheiro que se tornou um cidadão respeitável integra as suas diferentes identidades em uma só? Isso acontece – vou dar o spoiler – pois o eu do presente constrói uma narrativa que dá sentido as várias fases da sua existência.

Chega de filosofia e vamos para a lista de leitura. Na de 2024, consegui ler sete dos dez enumerados. No meu caso, o “eu do passado” conseguiu uma vitória sobre o “eu do presente”, mas não foi uma vitória avassaladora. Se fosse traduzir o meu desempenho em nota, eu teria conseguido um “sete”, uma nota mediana por excelência. Nesta nova lista para 2025 vou incluir os três que eu não li, seguindo o melhor preceito pedagógico de todos os tempos: “errou, faz de novo!”.

A minha lista continua sendo de apenas dez livros, para eu não ser vítima de um sarcasmo como o do primeiro-ministro francês Georges Clemenceau em cima do presidente norte-americano Woodrow Wilson: "Se até Deus se contentou com os dez mandamentos, qual é a razão de você insistir em catorze, meu caro Wilson?”.

1 — Os Problemas da Estética, de Luigi Pareyson, uma indicação de uma colega durante uma banca de qualificação de mestrado.

2 — Estranho Numa Terra Estranha, de Robert Heinlein. Um clássico da ficção científica, o meu gênero literário preferido.

3 — 21 lições para o século 21, de Yuval Noah Harari. Pretendo ler porque gostei da sapiência do autor.

4 — Como Ser um Ditador: culto à personalidade no século XX, de Frank Diköter. O livro, um presente de um aluno, analisa os principais ditadores do século XX, de Mussolini a Ceausescu. Leitura muito oportuna nesses tempos de crise da democracia.

5 — Vita Brevis, de Jostein Gaarder. O livro conta a versão da Flora, a namorada abandonada de Santo Agostinho, questionando se, para se tornar um santo, era preciso quebrar o coração de uma mulher.

6 — Falo de Amor a Esses Ouvidos Moucos, de Hélverton Baiano. Um livro de poema para mostrar que, em Goiás, há poetas de primeira linha.

7 — A Metamorfose do Mundo: Novos Conceitos Para uma Nova Realidade, do sociólogo alemão Urich Beck. O autor, falecido em 2015, é um dos mais interessantes em discutir as transformações culturais e sociais no mundo contemporâneo.

8 — Contos Inéditos, de Crispiniano Tavares. O autor foi um engenheiro baiano que viveu algum tempo em Goiás, morrendo num crime passional em 1906. Ele é considerado o primeiro contista de Goiás, uma possível influência em Hugo de Carvalho Ramos.

9 — O Teatro de Sabbath, de Phillip Roth. Uma oportunidade para ler alguma coisa de um dos mais importantes romancistas norte-americanos contemporâneos.

10 — A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig. Ficção científica, reflexão filosófica, título poderoso. Promete muito.

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Nicolas Behr

Escritor e ambientalista

1 — Bambino a Roma — Chico Buarque

Livro de memórias do nosso grande compositor sobre sua estada em Roma aos 8-10 anos.

2 — Latim em Pó – Caetano W. Galindo

Explica a formação da Língua Portuguesa a partir do Latim, passando pelo galego.

3 — Tudo é Rio — Carla Madeira

Explora as nuances da alma humana, como todo bom romance. Recebeu vários prêmios.

4 — Salvar o fogo — Itamar Vieira Jr.

Com mestria o vencedor do Prêmio Jabuti 2024 mescla a trajetória de seus personagens com traços da vida brasileira.

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José M. Umbelino Filho

Escritor

O Jornal Opção me pediu que fizesse uma lista de leituras para 2025, infelizmente. Forçou-me a catalogar o que, eu esperava, fosse dessa vez uma terra sem lei de opções espontâneas; eu sonhava poder pegar, em 2025, qualquer coisa da estante a hora que quisesse e devolvê-la a ela quando bem calhasse, apregoando alguma sensação de liberdade e promiscuidade intelectual que listas de leitura proíbem. Mas o escritor Ademir Luiz me impediu desse sonho — não foi a primeira vez, fez o mesmo nos anos anteriores — e tive que deitar na tela minhas aspirações de leitura e, junto a elas, subentender compromissos e expectativas. Listas de leitura são um pouco como as listas de promessas de ano novo. Dizem menos de fatos e planos efetivos que de esperanças, lacunas e vergonhas.

O primeiro livro da minha, por exemplo, foi presença recorrente na lista de 2024, na de 2023 e na de 2022. E segue aqui, reforçando o vexame de não ter lido ainda a obra que tanta gente ao meu redor defende ser o ápice da literatura norte-americana contemporânea. Seguirá em 2026? É possível; esperanças, lacunas e vergonhas são as últimas que morrem.

Já a quinta obra da lista está ali porque é preciso reler e reler incansavelmente nossos livros de cabeceira, e há quem diga, inclusive, que a releitura é a verdadeira leitura e que os gênios, melhores que nós em tudo, tinham pouquíssimos, esparsos, contados livros em suas estantes. Difícil pensar assim em uma época como a nossa, em que qualquer boa alma anda por livrarias com a terrível sensação de que existem mais escritores que leitores, mais poetas que musas, e mais livros que árvores.

Enfim, já sei o que fazer: deste ano em diante, se Ademir Luiz me vier pedir outras listas de leitura para 2026, 2027, 2028 etc., vou sempre entregar a mesma, argumentando que a releitura é a melhor leitura e que, como o filósofo grego, ninguém se banha duas vezes no mesmo rio:

1 — Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy

Considerado um dos maiores romances norte-americanos. Cormac McCarthy narra a jornada de um jovem conhecido apenas como "o garoto", que se junta a uma expedição sangrenta de escalpeladores de indígenas ao longo da fronteira do Texas com o México, no século XIX. A obra explora temas de brutalidade, moralidade e a selvageria do ser humano, com uma escrita crua e poética.

2 — A rainha do Ignoto, de Emília Freitas

Eis aqui uma leitura que é, ao mesmo tempo, estética e histórica. Publicado em 1899, o livro é considerado o primeiro romance fantástico de ficção científica nacional. Foi escrito pela romancista cearense Emília Freitas, pioneira no gênero e uma figura que, tal qual a rainha de sua obra, permanece desconhecida para a maioria dos leitores brasileiros. A obra imagina uma sociedade secreta de mulheres que fugiram dos sofrimentos e opressões do mundo para criar uma comunidade utópica.

3 — A Ameaça do Fantástico, de David Roas

Reflexões literárias e acadêmicas acerca da literatura fantástica sempre me atraem. Aqui, Roas examina o gênero do fantástico na literatura, focando em como o sobrenatural e o inexplicável desafiam a percepção da realidade. A obra analisa as técnicas utilizadas pelos autores para criar esse efeito de estranhamento, e como o fantástico interfere na construção das narrativas e no entendimento do leitor.

4 — O Que Todo Corpo Fala, de Joe Navarro

Nenhuma lista fica completa sem um best-seller duvidoso e crocante. Joe Navarro, ex-agente do FBI, explora as sutis mensagens que o corpo transmite por meio da linguagem não-verbal. A obra oferece dicas práticas para entender os sinais de emoções e intenções ocultas, sendo uma leitura essencial para quem deseja decifrar melhor as interações humanas no cotidiano.

5 — Lector in Fabula, de Umberto Eco

Releitura do ano. Neste ensaio, Umberto Eco discute o papel do leitor na construção do sentido de uma obra literária. Quem é efetivamente o leitor de uma fábula? Qual o seu papel? Como e em que medida entra nesta decodificação a sua interpretação? Mas, para responder a tais indagações, o leitor de Lector in Fabula recorre a todos os elementos fornecidos pela pesquisa semiótica moderna e, sobretudo, à proposta do ato de leitura que Roland Barthes consubstanciou na expressão "prazer do texto".

6 — Vela apagada por um sopro, de Solemar Oliveira

“Vela Apagada por um Sopro”, nova obra de um dos mais complexos escritores goianos, é uma coletânea de contos e microcontos que exploram a fragilidade da existência humana, transitando entre a realidade crua e a fantasia. Com uma linguagem poética e precisa, Solemar nos confronta com as nuances da vida e da morte, revelando os descaminhos da alma e a beleza que se esconde na imperfeição.

7 — O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho

Outro autor de cabeceira, o mineiro Campos de Carvalho é desses que se ama ou se odeia. Quem gosta de absurdo, surrealidade e uma dose cavalar de humor non-sense, vai se sentir em casa. A sinopse, se é possível, vai mais ou menos assim: No verão de 1958, enquanto visitava tranquilamente o Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia, um cidadão chamado Hilário avistou um púcaro búlgaro. Espantadíssimo, embarcou – ao lado de Pernacchio, Radamés, Expedito e Ivo Que Viu a Uva – numa jornada à Bulgária, a fim de comprovar a (in)existência desse país.

8 — A União das Coreias, de Luiz Gustavo de Medeiros

Estou devendo essa leitura ao Luiz Gustavo, autor do excelente O Corpo Útil (Patuá). A União das Coreias segue Paulo Henrique, um homem de trinta e poucos anos, em um emprego monótono em Goiânia, enquanto suas reflexões abrangem temas como amor, infidelidade, política e abismos sociais. A história se desenrola em um único dia, utilizando uma estrutura não linear para capturar a temporalidade da consciência e os movimentos do pensamento do protagonista.

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Mauri de Castro

Ator, diretor e escritor membro da Academia Goiana de Letras

2025, num primeiro momento, será um ano de releituras.

Releitura das Tragédias Gregas, como a Trilogia de Ésquilo (Agamêmnon, As Coéforas, As Eumênides); a Trilogia de Sófocles (Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona), as peças de Eurípedes (As Troianas, Hipólito, Medeia).

Livros previstos para releitura

1 — Minha Vida na Arte, de Constantin Stanislávski

É uma obra incomparável, pois trata-se de uma crônica autobiográfica de uma existência totalmente dedicada ao teatro. É um livro que se lê com enorme prazer pela sua extraordinária riqueza humana e pelas informações culturais sobre a Rússia nas duas últimas décadas antes da Revolução Socialista e, mais do que tudo, um guia seguro sobre a mise-en-scène de obras fundamentais do repertório teatral.

2 — O Cotidiano de uma Lenda — Cartas do Teatro de Arte de Moscou, de Cristiane Layher Takeda

É uma coletânea anotada e comentada que apresenta o processo de criação da companhia russa pelo ponto de vista de quem fez parte de sua história. Konstantin Stanislávski, Vladímir Nemiróvitch-Dântchenko, Anton Tchékhov, Maksim Górki, Olga Knípper, Vsiévolod Meierhold, Leopold Sulerijítski, Leonid Andrêiev, Gordon Craig, entre outros, surgem aqui no momento de suas indecisões e escolhas, revelando as idas e vindas de uma obra que aos poucos vai tomando forma e fazendo transparecer através das cartas a dimensão humana da lenda. É uma coletânea destinada aos amantes, estudantes e profissionais do teatro e a todos que se interessam pelo ato de criação artística.

3 — O Teatro de Meyerhold, tradução, apresentação e Organização de Aldomar Conrado.

Neste livro estão reunidos os textos fundamentais da experiência inovadora e criativa praticada pelo célebre diretor artístico. Meyerhold que rompeu as fórmulas em uso no seu tempo, a velha tradição da cena teatral, abrindo novos caminhos e oferecendo inéditas alternativas à representação dos textos dramáticos, procurando levar para a arte cênica as inquietações e fermentações intelectuais da época em que vivia.

4 — Para o Ator, de Michael Chekhov

Livro que questiona as nossas concepções éticas e estéticas, independente do fato e sermos profissionais da arte dramática ou não. Nesse ponto é uma obra indispensável a todos os que trabalham no campo da criação. Obra obrigatória para os dramaturgos e para todos os seres sensíveis que buscam na beleza e na emoção uma forma de existência compatível com a fantasia que habita cada um de nós.

5 — Ator e Estranhamento — Brecht e Stanislávski, segundo Kusnet, de Eraldo Pêra Rizzo

O teatro do século XX beneficiou-se do pensamento de dois mestres universais, Stanislávski e Brecht. Eles se ocuparam do trabalho do ator, dando uma contribuição que nenhum intérprete, hoje, pode ignorar. No brasil, um terceiro mestre, Eugênio Kusnet, profundo conhecedor da teoria stanislavskiana e talentoso praticante do estranhamento ou distanciamento brechtiano, buscou a síntese desses métodos com a criatividade que lhe era própria.

Discípulo e ator de Kusnet, homem de teatro em tempo integral e pela vida inteira, Eraldo Rizzo conta essa experiência, fonte de ensinamentos fundamentais para a arte da interpretação.

6 — Ponto de Mudança — 40 Anos de Experiências Teatrais, de Peter Brook

Peter Brook é, não somente um dos maiores diretores teatrais de nosso tempo, ele é, também, o único cujo talento para escrever iguala sua genialidade nas inesquecíveis montagens que apresenta. Este livro mostra que em sua sofisticada personalidade intelectual existe sempre uma incansável curiosidade de criança. Não há melhor marca de genialidade do que essa.

7 — Em Busca de um Teatro Pobre, de Grotowski

Grotowski expõe, nesta obra, ideias lastreadas em longa experiência, fecunda tradição e instigantes pesquisas. O livro constitui fascinante aventura do espírito que transcende os limites da criação teatral propriamente dita.

8 — A Canoa de Papel — Tratado de Antropologia Teatral, de Eugenio Barba

“Este é o teatro: um ritual vazio e ineficaz que enchemos com nossos porquês, com nossas necessidades pessoais. Que em alguns países do nosso planeta é celebrado na indiferença e que, em outros países, pode custar a vida de quem faz”. (Eugenio Barba)

9 — A Arte do Presente, de Ariane Mnouchkine

O livro reúne uma série de entrevista feitas com Ariane Mnouchkine, por Fabianne Pascud, ao longo dos dois anos em que a jornalista acompanhou a fundadora do Théàtre du Soleil e sua companhia. Entre um ensaio e outro, Ariane e Fabianne se encontravam na Cartoucherie de Vincennes, antiga fábrica de munições construída por Napoleão III nos arredores de Paris e que se tornou, em 1970, a sede do Théàtre du Soleil. Além de ser palco e a casa dos atores da companhia, que cuidam pessoalmente do espaço, sua Cartoucherie passou a abrigar, nos últimos anos, mais quatro teatro e dois ateliês, e é atualmente um grande laboratório de criação artística.

10 — Hierofanta — O Teatro Segundo Antunes Filho, de Sebastião Milaré

Sebastião Milaré acompanhou o trabalho de Antunes a fase inaugurada com a estreia de Macunaíma (1978) e a subsequente instituição do CPT – Centro de Pesquisa Teatral do SESC. Estes eventos marcaram uma mudança nas investigações estéticas do encenador, embora sua ideologia permanecesse inalterada. Fruto de dez anos de pesquisa, Hierofania documenta e discute o método criado por Antunes, as referências estéticas, os meios desenvolvidos, os exercícios, a bibliografia, a prática e a ideologia, bem como reflete sobre os espetáculos resultantes deste trabalho.

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Salatiel Correia

Crítico literário, escritor e engenheiro

1 — “García Márquez: História de um Deicídio”, de Mario Vargas Llosa

História de um Deicídio (deicídio é o “ato” de matar um deus), de Mario Vargas Llosa, é uma análise profunda e instigante da obra de Gabriel García Márquez, abordando sua genialidade literária e seu papel como "criador de mundos". Llosa explora como Márquez transformou sua realidade em ficção universal, destacando temas de solidão, identidade e poder. O livro também reflete a admiração e a crítica de Llosa, tecendo uma narrativa que dialoga tanto com o autor quanto com o leitor. É uma obra indispensável para entender a literatura latino-americana em sua essência.

2 — “Pessoas Decentes”, de Leonardo Padura

“Pessoas Decentes”, do escritor cubano, é um romance policial que mistura mistério e crítica social em uma Havana em transição. A narrativa acompanha o investigador Mario Conde, lidando com um assassinato ligado às complexas dinâmicas de poder e moralidade. Padura constrói personagens profundos enquanto expõe as contradições da sociedade cubana contemporânea.

3 — “Discussão”, de Jorge Luis Borges

Discussão, de Jorge Luis Borges, é uma coletânea de ensaios brilhantes que revela a mente inquieta e erudita do autor. Combinando filosofia, literatura e crítica, Borges aborda temas como o tempo, a linguagem e a memória, sempre com um toque de paradoxo e ironia. O livro desafia o leitor a repensar conceitos e a mergulhar na vastidão do pensamento borgiano. Uma obra essencial para quem aprecia a profundidade em forma de prosa e reflexões sobre ética e identidade.

4 — “Cartas a Um Jovem Economista”, de Gustavo Franco

É uma obra instigante que mistura autobiografia e reflexão sobre a economia brasileira e global. Com linguagem acessível, o autor compartilha sua trajetória como formulador de políticas econômicas, oferecendo conselhos e lições valiosas para as novas gerações de economistas. O livro aborda desafios, dilemas éticos e o impacto das decisões econômicas na sociedade. Uma leitura essencial para quem busca compreender a economia com um olhar humano e pragmático.

5 — “Apagando o Incêndio — A Crise Financeira e Suas Lições”, de Ben Bernanke

O livro de oferece um relato privilegiado sobre os bastidores da crise de 2008, sob a perspectiva de quem liderou o Federal Reserve. Com clareza e profundidade, Bernanke detalha as medidas tomadas para evitar o colapso do sistema financeiro global, discutindo também os desafios enfrentados e as lições aprendidas. É uma obra indispensável para entender a economia contemporânea e as complexidades de sua gestão em tempos de crise.

6 — “Homem de Constantinopla”, de José Rodrigues dos Santos

É um romance fascinante que retrata a vida de Calouste Gulbenkian, o magnata armênio que se tornou um dos homens mais ricos e influentes do século XX. Com uma narrativa rica em detalhes históricos, o autor explora a genialidade e ambição do protagonista, enquanto revela as complexidades de seu caráter. Uma obra cativante que mescla história, poder e emoção em uma jornada épica.

7 — “A Arte da Política Econômica. Depoimentos à Casa das Garças”, de José Augusto Fernandes (org.)

É uma coletânea de reflexões e debates de renomados economistas brasileiros sobre a condução da política econômica no país. O livro reúne análises sobre decisões-chave, desafios macroeconômicos e lições aprendidas em diferentes contextos históricos. Com linguagem clara e acessível, a obra oferece uma visão aprofundada das estratégias e dilemas enfrentados na busca por estabilidade e crescimento. É um convite à compreensão das complexidades econômicas brasileiras.

7

Cezar Santos

Jornalista e crítico literário

Não tenho um “plano” de leitura, eu leio à medida em que aparecem títulos que me atraem e que eventualmente caibam no meu orçamento, sem compromisso com quantidade.

De qualquer forma, para 2025 pelo menos um livro já está certo: “Guerra — I: Ofensiva Paraguaia e Reação Aliada — Novembro de 1864 a Março de 1866”, de Beatriz Bracher, primeira parte de uma trilogia sobre a guerra do Paraguai, tema que, não sei exatamente por que, me atrai sempre. No final do ano passado, comprei o livro aproveitando o meu 13º e estou com ele em mãos. Talvez essa leitura me leve ao clássico “Maldita Guerra”, de Francisco Doratioto. Do alto de minha pequena estante, o livro me desafia há alguns anos.

No mais, já entrei na fase em que as releituras começam a ocupar mais espaço que as novas leituras (mesmo com meu imenso passivo de não lidos). Rubem Fonseca está nesse nicho e nos últimos meses tenho lembrado de “O Selvagem da ópera” (biografia romanceada do compositor brasileiro do século XIX Antônio Carlos Gomes) e “O Buraco na Parede”, de contos.

Também quero concluir a leitura do tijolão “4321”, do norte-americano Paul Auster, interrompida no final do passado para ler, dele, “Baumgartner”, a fim de escrever resenha para o Jornal Opção. Auster é outro autor cuja obra volta e meio releio.

E do goiano Hugo de Carvalho Ramos, já estou na quinta ou sexta releitura de seus contos e dos esboços biográficos escritos por seu mano Victor. Nessa toada, devo reler a biografia do pai de Hugo, Manoel Lopes de Carvalho, escrita pelo goiano Nelson Figueiredo.

Em tempo, leituras e releituras de ciência política. Quero reler textos xerografados esparsos que tenho do polonês/norte-americano Adam Przeworski, e talvez ler um livro dele publicado no Brasil em 2020, “Crises da Democracia”, o qual ainda não tenho. Przeworski é daqueles estudiosos que nos ajudam a entender um pouco da loucura tóxica populista de direita e de esquerda no mundo atual.

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Chris Resplande

Escritora

2025 se aproxima, não consegui cumprir meu propósito de leitura e certamente não conseguirei. Pensar em indicações de livros me soou prematuro, mas me fez acordar para algumas possibilidades.

Elaborar um programa de leituras não é meu costume; gosto de deixar ao sabor do inesperado, de indicações ou ensaios que caem às mãos, de premiações ou mesmo de releituras, pois alguns livros foram lidos em outra fase de vida, até mesmo na adolescência e a curiosidade surge de como o receberia agora.

1 — Luz em Agosto, de William Faulkner

Planejo ler “Luz em Agosto”, de William Faulkner. Conheci o autor lendo Enquanto Agonizo, e logo depois, o Som e a Fúria. Tinha o desejo de ampliar a leitura de Faulkner quando recebi a obra de presente da escritora e poeta Sônia Elizabeth. “Neste romance que consagrou definitivamente o prêmio Nobel de literatura William Faulkner, duas histórias paralelas colidem em um enredo marcado pela brutalidade e a religiosidade da região rural do Sul dos Estados Unidos”.

2 — La Storia, de Elsa Morante

La Storia, da escritora Italiana Elsa Morante. O romance La Storia (A História) foi lançado em 1974 e trouxe uma visão profunda das fragilidades da condição da mulher e suas reações à indiferença do mundo. A autora nasceu em Roma, em 1912. Teve uma infância difícil, uma realidade familiar complicada. Foi após o casamento com Alberto Moravia, importante escritor italiano, que se dedicou mais à escrita. A escolha de Morante — que pretendo ler em italiano —- faz parte da retomada do estudo do idioma.

3 — Louvor à Terra — Uma Viagem ao Jardim, de Byung-Chul Han

Louvor à Terra – uma viagem ao jardim, do filósofo sul-coreano radicado na Alemanha Byung-Chul Han está na lista, mas como releitura. Também recebi de presente da Sônia Elizabeth, generosíssima e grande amiga. Impossível absorver e compreender toda a beleza desta obra em uma única leitura. Uma grata surpresa, considerando os temas que o autor costuma trabalhar. O livro é belo, sensível. Nele, a filosofia de Han é expressa no cuidado e dedicação às suas flores, na particularidade de cada uma, nos mostrando a sua filosofia como modo de vida, levando-nos a refletir num jardim metafísico, que deve sempre florescer como obra de devoção e Louvor à criação.

4 — Porque Escrevo e Outros Ensaios, de George Orwell

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Também está na minha lista de releituras. Poeta menor que sou, que sempre duvida do que escreve, andei analisando a minha produção e busquei socorro em Franzine Prose, em “Para Ler Como um Escritor”; “Cartas a um Jovem Poeta”, de Rainer Maria Rilke, em Cecília Meireles e tantos outros. Mas foi este pequeno livro de ensaios que me fez redescobrir o prazer e as razões da escrita, seu propósito político - no sentido amplo da palavra; o que o autor chama de impulso histórico, de ver as coisas como são e preservá-los para a posteridade e o entusiasmo estético, além, claro, do puro egoísmo.

9

Maria Helena Chein

Escritora

Final de ano e a vontade de planejar as atividades para o ano que chega. Entre elas, a leitura, algo que me apraz, desde criança. Enquanto meus irmãos, primos e colegas da escola brincavam, após as aulas, eu estava à procura de um livro. Agora, estou a relacionar as obras que pretendo ler.

Entre os autores goianos, listei:

1 — “Falo de Amor a Esses Ouvidos Moucos, de Hélverton Baiano. Poemas feitos de amor, dor, medo, fantasias, versos que se despejam nas 163 páginas do livro.

2 — “Ensaio Geral — Dramaturgia”, de Mauri de Castro. Drama e poesia, com a qualidade que todos conhecemos desse artista, escritor que se perpetua em tudo que escreve, em tudo que realiza.

3 — “Entre Esplendores e Misérias”, de Adalberto de Queiroz, Editora Contato Comunicação. Crônicas de um autor cheio de sensibilidade, argúcia e lembranças que vêm de longe e perduram ao longo de sua vida.

4 — “Roque Alves de Azevedo — Primeiro Poeta Catalano”, de Coelho Vaz. O autor analisou a vida e a obra do primeiro poeta de Catalão, (1938 -1869), com base em minuciosa pesquisa.

Escritores de outros lugares

5 — “Mata Doce”, de Luciany Aparecida, romance vencedor do Prêmio São Paulo. Primeiro romance da autora, narra os trágicos acontecimentos que cercam um pequeno vilarejo rural, no interior da Bahia.

6 — “O Sentido da Vida”, de Contardo Calligaris, vencedor do Prêmio Jabuti. O sentido da vida é o próprio viver, do qual faz parte também, morrer.

7 — “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, romance inglês, de 1932, que trata de um futuro com pessoas alienadas pela tecnologia e pelo uso da droga "soma". Será uma releitura necessária.

8 — “Poemas da Recordação e Outros Movimentos”, de Conceição Evaristo, influente voz poética contra o racismo.

9 — Releitura de Fernando Pessoa, português, e um dos meus mais amados poetas. Voltarei à sua obra completa.

Outros livros farão parte de minhas leituras, os que chegam e desconheço e algum que já li e preciso de nova leitura.

10

Cristiano Alencar Arrais

Historiador e professor da UFG

Quero iniciar o próximo ano finalizando os originais que estou escrevendo em parceria com o professor Eliézer Cardoso de Oliveira, "O Século XIX em Goiás, a Formação da Região", que é o volume final de nossa Trilogia Goiana (Editora Cânone).

Minha lista de leituras envolve, portanto, um conjunto expressivo de materiais sobre a história de Goiás (livros, teses, dissertações, documentação manuscrita etc) que geraria copiosas lágrimas no leitor a sua enumeração.

Para além disso, preciso finalizar três livros preciosos para minha área de atuação, a filosofia da história: o trabalho de Paul Roth, “The Philosophical Structure of Historical Explanation”, e dois trabalhos de Jouni-Matti Kuukkanen, “Philosophy of History” e “Postnarrativist Philosophy of Historiography”.

Além disso, não me escapam este ano o escritor francês Louis-Ferdinand Céline, “Viagem o Fim da Noite”, e o escritor argentino Julio Cortázar, “O Jogo da Amarelinha”…. Oxalá que os extraterrestres não baixem por aqui antes.

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Paulo Márcio de Camargo

Livreiro (Armazém do Livro)

Já estão separados em destaque na minha estante de livros cinco títulos para ler em 2025, além de outros que vão furando fila.

1 — “A Vida dos Estoicos”, de Stephen Hanselman (editora Intrínseca), para conhecer as lições que os antigos estoicos nos deixaram sobre felicidade, sucesso, resiliência e virtude. Deste autor já li “O Ego É Seu Inimigo”.

2 — “Veias e Vinhos”, de Miguel Jorge. Sempre quis saber em detalhes sobre essa história macabra que ocorreu no centro de Goiânia.

3 — “História das Agriculturas no Mundo”, de Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, da editora Unesp, para conhecer mais da história da humanidade através da agricultura, já que ela foi a responsável por grandes mudanças na maneira que os homens se organizam em coletividade.

4 — “Memória das Casa dos Mortos”, de Fiódor Dostoiévski. Este livro relata o período em que o autor ficou preso na Sibéria. Gosto muito de literatura russa, principalmente de Dostoiévski. Por sinal, há também o livro “A Casa dos Mortos — O Exílio na Sibéria Sob os Románov” (Companhia das Letras, 476 páginas, tradução de DonaldsonM. Garschagen e Renata Guerra), do historiador britânico Daniel Beer.

5 — “Sertão Sem Fim”, de Bariani Ortencio, da Editora UFG, para viajar nas histórias deliciosas do sertão do grande escritor que, tendo nascido em São Paulo, se tornou super goiano.

A Melhor História Está Por Vir, romance de María Dueñas, envolve o leitor do início ao fim

A obra tem como cenário o ambiente acadêmico, mas consegue ser atraente e mostra que é possível reconstruir a vida mesmo quando parece que tudo está desmoronando

Crônica
A coragem da Nathália!

Depois de ser vítima de uma fala machista vinda do presidente do Atlético-GO, Adson Batista, a jornalista Nathália Freitas abandonou a coletiva. E não foi só isso. A repórter da TV Anhanguera e da Rádio CBN se posicionou, respondeu à altura e teve pulso firme. Desde que as imagens começaram a ser compartilhadas, eu só consegui pensar em uma coisa: a coragem da Nathália. Infelizmente, não foi o machismo do Adson, nem a nota (também machista) que ele emitiu que me assustaram. O que mais me impactou foi a coragem da Nathália.

Inteligente e profissional. Que vontade de ser um pouco Nathália. Quantas vezes eu congelei num ambiente machista, em uma crítica disfarçada de piada, em uma situação de assédio moral e sexual. Quantas vezes, em um ambiente de trabalho, eu menti quando foram machistas comigo, saí de perto porque simplesmente não tive coragem de me posicionar. Eu queria que eu e todas as mulheres tivéssemos a coragem da Nathália. E mulher, te admiro e te respeito ainda mais.

Fui lá no instagram dela deixar meu apoio e encontrei um feed lotado de ataques. A clássica imagem da mulher louca, vítima, cheia de mimimi. Até quando? O desejo é que a gente pare de se posicionar para só assim não sermos taxadas de loucas. Nos dominam, tiram nossa credibilidade, atrelam à loucura, ao exagero, à frescura e até mesmo à burrice ou à sexualidade. “Você achou ele bonitinho”…

Estamos em 2024 implorando por respeito. Ainda implorando por respeito. Os homens se respeitam, quase num código secreto. Ou num código claro, como na coletiva com a Nathália na qual ninguém, absolutamente ninguém teve coragem de defendê-la. Não que ela precisasse, vimos que não, mas por empatia. Entre os homens, a opinião é respeitada. Mas se há uma mulher no ambiente, as mesmas virtudes masculinas são questionadas levando em conta o gênero.

Só queria dizer que estou feliz por sua coragem. Porque assim você encoraja a gente. Triste pela situação, muito chateada pelo que ocorreu com você e ocorre (premeditadamente) todos os dias com nós mulheres. Mas cheia de orgulho que a gente, devagarinho, tá mudando tudo isso. Nos posicionando e exigindo respeito. Nem que seja por medo, eles precisam mudar. É urgente constranger os constrangedores.

Premiação
Oscar dá unfollow em Karla Sofía Gascón após críticas à premiação e ataques culturais

Comentários feitos pela atriz em 2021 geraram críticas nas redes sociais, levando à medida da Academia

crônica
Um menino me estendeu a mão e me levou ao Parque Mutirama

Terminada a pequena viagem de trenzinho entre árvores e inúmeros outros brinquedos, peguei meu carro e fui para casa ruminando a alegria do passeio numa das veredas onde minha infância caminhou

Cinema
Curta ‘Num Canto Perdido’, filmado em Jaraguá, estreia em Goiânia 

Curta-metragem retrata a vida rural e a urgência da preservação ambiental

“Misericórdia”, romance de Lídia Jorge, aborda com sensibilidade a velhice e o cotidiano de uma casa de repouso

A história da mãe da escritora portuguesa serve de mote para a escritura de um romance poderoso sobre a velhice. O livro cita uma cuidadora brasileira

Agudeza de Itamar Vieira Júnior, em Salvar o Fogo, o faz trilhar as veredas da sutileza

A intimidade do autor com a ação, os personagens, o tempo e a trama do romance resulta do fato de ser profundo conhecedor do interior da Bahia, onde é passada a história