Com direção e roteiro da mineira Paula Vandenbussche e produção da goiana Viviane Louise, o curta-metragem ‘Num Canto Perdido’ estreia nesta terça-feira, 28, em Goiânia. O evento acontece na Sala Sesc/Cine Ritz, às 17h, com entrada gratuita. Filmado integralmente em Jaraguá, no interior de Goiás, o filme retrata poeticamente o cotidiano de uma família rural, enquanto aborda a urgência da preservação ambiental.

Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, operacionalizado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult), o curta-metragem conta com elenco formado majoritariamente por moradores da região, incluindo as alunas Maria Vitória Ribeiro Alvares e Ana Júlia Arruda Lobo Munerat, da Escola do Futuro em Artes Basileu França, unidade de Jaraguá. Antes da exibição na capital goiana, a produção foi apresentada em uma sessão especial na escola de artes da cidade no dia 23.

Com uma narrativa que privilegia a contemplação, ‘Num Canto Perdido’ se destaca pelo enfoque em afazeres cotidianos de uma família humilde, como buscar água, fabricar polvilho, cuidar dos animais e desfrutar da simplicidade de comer pão de queijo com os vizinhos. Segundo a diretora, “desde o princípio eu queria um filme que não tivesse muitos diálogos. Gosto de filmes mais poéticos e mais contemplativos”. Apesar de ser uma ficção, a obra apresenta características próximas de documentário, transportando o público para uma experiência quase sensorial.

Para Paula Vandenbussche, a escolha de Jaraguá como cenário foi determinante. “Jaraguá foi a locação mais próxima do que eu havia imaginado. Desde os primeiros contatos ficou evidente que o lugar trazia todos os elementos principais do filme”, comenta. A equipe visitou vários locais antes de definir a Fazenda Bonifácia como palco das filmagens, realizadas em outubro de 2024 sob temperaturas de até 38°C.

Envolvimento da comunidade local e escolhas criativas

O projeto adotou como princípio o envolvimento direto da comunidade de Jaraguá. “Contamos com a participação dos habitantes da região, respeitando assim uma das condições deste edital, com 60% da equipe deste estado”, explica Paula. Essa interação resultou em um elenco formado por pessoas locais, que deram vida ao enredo com autenticidade.

 “O papel do pai e da mãe foram escolhidos bem intuitivamente. Como eu venho do teatro tenho um olhar bem atento para este aspecto.  O único ator profissional do filme é o pai, vivido por Filipe Lima. A mãe é interpretada por Lele Gondin, que é jornalista”, detalha Paula. As crianças selecionadas para o elenco contribuíram abertamente, conforme aponta a diretora: “As crianças são muito lindas, e todas as pessoas que participam do filme estão maravilhosamente bem”.

Outro destaque é a trilha sonora assinada por Zeca Baleiro, que trouxe uma sensibilidade única à obra, completando a sua poesia. Além disso, a fotografia ficou a cargo de Luiz Abramo, que já trabalhou em produções de cineastas como Ruy Guerra e José Joffily.

A diretora ressalta a contribuição essencial de Cristina Amaral na edição do curta. Veterana na área, Cristina é conhecida por trabalhar com nomes como Carlos Reichenbach e Andrea Tonacci. A participação de Victor Pimenta como diretor de som também foi apontada como outro ponto chave para alcançar a alta qualidade técnica da produção.

Mensagem de preservação ambiental

Paula Vandenbussche explica que o filme não apenas retrata uma história simples, mas também apresenta uma mensagem importante sobre a preservação ambiental. “Precisamos proteger todos os cantos perdidos que ainda existem neste mundo globalizado e no qual a natureza é a cada dia mais violentada”, reforça. A diretora acredita que o tema é especialmente relevante em um momento de crescente degradação ambiental e busca inspirar o público a valorizar a conexão com a natureza.

Impacto na formação artística local

Além de sua mensagem ambiental, o projeto gerou um impacto positivo na formação artística dos alunos da Escola do Futuro em Artes Basileu França, em Jaraguá. A coordenadora pedagógica Luciene Lemos destaca a importância da experiência: “A oportunidade de nossos alunos atuarem como protagonistas e figurantes é extremamente importante para a formação deles. Além disso, os alunos que puderam estagiar ao lado de profissionais na produção do filme ampliam seus horizontes, o que os ajuda a escolher onde desejam atuar. Temos um universo de oportunidades além do palco”.

Luciene também considera que a realização do filme reforça a relevância da qualificação profissional na área das artes. “Quanto mais cedo esses artistas iniciarem seus estudos, maiores serão as chances de serem reconhecidos profissionalmente. Sinto um imenso orgulho dos nossos alunos da primeira turma do curso de Teatro, por vivenciarem todo esse laboratório e por receberem o primeiro cachê. Este é, sem dúvida, um divisor de águas para os amantes da sétima arte”, conclui.

Um olhar experiente sobre o cinema

Com mais de três décadas dedicadas à cultura, Paula Vandenbussche acumula experiência na produção de festivais e filmes no Brasil e no exterior. Ela é diplomada em Teatro pela Escola de Teatro Martins Pena e trabalhou com diretores renomados, como Alcione Araújo e Antunes Filho.

Sua trajetória inclui curadorias e festivais como o ‘Présence et Passé du Cinéma Brésilien na França’, em comemoração ao Ano do Brasil em 2005, e o festival ‘Presente e Passado do Cinema Francês’, realizado em 2009 no Brasil.

Perspectivas futuras

Encantada com Jaraguá, Paula já planeja que seu próximo projeto, um documentário, também tenha a cidade como cenário principal. Ela destaca que o acolhimento dos moradores e a beleza natural foram elementos fundamentais para o sucesso de ‘Num Canto Perdido’.

Por fim, a cineasta enfatiza a importância de incentivos como a Lei Paulo Gustavo para pequenas produções. “A Lei Paulo Gustavo precisa continuar existindo pois é um incentivo muito importante para as pequenas produções, para os novos diretores e produtoras pequenas, como é o nosso caso”, finaliza.

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