Todas as definições das chapas majoritárias, inclusive das oposições, derivam do jogo de Caiado
30 maio 2021 às 00h00
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As chapas majoritárias só serão definidas em 2022e dependem de como o governador montará a sua chapa. 2021 é tempo de abrir portas
Os leitores sabem que nenhuma majoritária será montada de maneira completa em 2021, por isso toda e qualquer reportagem ou nota a respeito do assunto é especulativa. O quadro que se estabiliza agora pode ser muito diferente do quadro definido amanhã. Políticos ficam de olho em pesquisas que avaliam tanto a popularidade qunto o desgaste de seus aliados e adversários. As chapas majoritárias, portanto, são definidas tardiamente — daí as conversas intermináveis. O que se recomenda, neste momento, é que as portas sejam mantidas abertas, sobretudo que não se arrombe portas abertas.
Há uma verdadeira peregrinação de deputados federais e estaduais no interior. O objetivo dos líderes partidários é formatar chapas para deputado estadual e federal. Com o fim das coligações partidárias, os partidos estão com dificuldades para conquistar novos candidatos e, ao mesmo tempo, os deputados federais (e os estaduais), notadamente os dos partidos médios (os pequenos devem virar pó), terão dificuldade na reeleição. A deputada federal Magda Mofatto, do PL, tem dinheiro e estrutura político-eleitoral no interior, mas seu partido pode não conseguir de 160 mil a 170 mil votos, consequentemente ela não seria reeleita. O mesmo pode ocorrer com Lucas Vergílio, do Solidariedade, e José Nelto, do Podemos. Entre outros.
Ante a dificuldade imposta pelo fim das coligações — há quem acredite na aprovação do Distritão (o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, já o descartou, mas não decide sozinho) —, os deputados federais (e estaduais) estão trabalhando de maneira redobrada para reforçar as próprias musculaturas.
Como se sabe, as campanhas eleitorais, inclusive as de governador e senador, são movimentadas, em larga medida, pelos candidatos a deputado estadual e federal. Mas, neste momento, a discussão verdadeira, que quase não aparece na imprensa, é a montagem de chapas para o Parlamento. Elas têm de ser constituídas agora, por isso Lissauer Vieira, José Nelto, Magda Mofatto, Professor Alcides Ribeiro, Daniel Vilela, Flávia Morais, Rubens Otoni, Lucas Vergílio, entre outros, não saem do interior. Às vezes, conversam entre si sobre a possibilidade de uma reconfiguração política.
Quanto às chapas majoritárias, como se disse acima, não serão montadas agora. Portanto, todas as análises são, obrigatoriamente, provisórias. O jornalista que disser que a chapa “X” está definida certamente cometerá um engano. Portanto, deve-se falar em possibilidades — que vão mudando no decorrer do tempo. Numa semana, é um quadro. Na outra, é outro quadro. Não se trata de erro, e sim do “retrato” das movimentações das circunstâncias.
O governador Ronaldo Caiado (Democratas) é, a rigor, o único postulante majoritário definido para 2022. Ele será candidato à reeleição. Já o disse várias vezes. No momento, está trabalhando para montar a chapa. Está articulando, mesmo sabendo que o momento é mais de conversas do que de definições.
Pode-se falar que Ronaldo Caiado tem, hoje, “chapas” e não uma chapa definida. Há várias possibilidades. Citemos alguma delas. Chapa 1: Caiado (governo), Daniel Vilela (vice), Henrique Meirelles (Senado). Chapa 2: Caiado (governo), Lissauer Vieira (vice) e Iris Rezende (Senado). Chapa 3: Caiado (governo), Lincoln Tejota (vice), Daniel Vilela (Senado). Chapa 4: Caiado (governo), Gustavo Mendanha (vice) e João Campos (senador). Chapa 5: Caiado (governo), Roberto Naves (vice) e Daniel Vilela (Senado). Chapa 6: Caiado (governo), Daniel Vilela (vice) e João Campos (Senado).
São seis chapas possíveis, mas as combinações, quando 2022 chegar, podem ser outras completamente diferentes. Porque a realidade é dinâmica: a política é mesmo como as nuvens — que mudam de configuração de uma hora para outra.
O fato é que, se Ronaldo Caiado chegar forte em 2022, com o mínimo de desgaste, as oposições terão uma dificuldade imensa de montar uma chapa competitiva para governador. Portanto, é possível enfatizar que a política de Goiás circula em torno do governador.
O MDB hoje tem dois pré-candidatos ao governo — Daniel Vilela, presidente do MDB (que pode disputar mandato de deputado federal, ele tem dito que não quer ficar sem mandato entre 2023 e 2026), e Gustavo Mendanha, prefeito de Aparecida de Goiânia. O primeiro prefere uma composição com o governador Ronaldo Caiado, com o objetivo de fortalecer o MDB, que hoje não tem nenhum deputado federal (e Baleia Rossi, o presidente nacional, tem cobrado que as lideranças estaduais mandem parlamentares para Brasília). Um novo enfrentamento contra o governador, agora com o poder nas mãos, pode representar um massacre eleitoral para o emedebismo em 2022. O partido pode chegar lá com pouquíssimos prefeitos, praticamente sem bases eleitorais consistentes. Já Gustavo Mendanha está mais interessado no seu próprio projeto, desconsiderando o projeto dos candidatos a deputado federal e estadual. Porém, como não tem o controle do partido, acabará cedendo ao projeto realista de seu presidente.
Sem o MDB no páreo, as oposições chegarão praticamente “mortas” ou “desmaiando” em 2022. Por isso mesmo o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) saiu do conforto dos escritórios sofisticados de São Paulo e, irmanado com o ex-deputado Sandro Mabel, decidiu se portar como “conselheiro” de Gustavo Mendanha (o tucano é um sedutor e, de alguma maneira, o prefeito ainda é meio ingênuo e aprecia conversas sobre vinhos, refinados e caros, e viagens para o exterior). Raposas felpudas, Marconi Perillo e Sandro Mabel, que planejam disputar mandato de deputado federal em 2022, avaliam que, sem um candidato a governador do estilo do prefeito de Aparecida, um deles terá de ir para o sacrifício e, daí, disputar o governo tão-somente para cumprir tabela. Ou terão de se juntar com Jânio Darrot, do Patriota, e bancá-lo para o governo. Experimentados, nem Marconi nem Mabel acreditam no potencial eleitoral do ex-prefeito de Trindade. Mas, se necessário, vão tentar “carregá-lo”.
O PT quer acoplar-se ao projeto de Daniel Vilela. Porém, se o MDB não tiver candidato, terá de lançar candidato, possivelmente a professora Kátia Maria.
Pode surgir alguma novidade? É provável que não. Há o detalhe extra de como se posicionará o presidente Jair Bolsonaro em Goiás. Ele tem simpatia por Ronaldo Caiado — e sempre elogia sua seriedade e o caráter republicano de suas demandas —, mas vai exigir o apoio do governador ao seu projeto de reeleição. Sem o apoio, há a possibilidade de bancar uma chapa no Estado, eventualmente com Alexandre Baldy, do partido Progressistas.
Mas, insistindo, quanto às montagens das chapas, não se espere que sejam definidas agora. No momento, repetindo o que se disse acima, é hora de articular, negociar e manter a portas abertas. Gustavo Mendanha devia se inspirar na “maturidade” de Daniel Vilela e não na “esperteza” de Marconi Perillo.