Tarcísio não quer ser refém de Jair e bolsonarismo pode precisar de Caiado e Zema
10 março 2024 às 00h18
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A chapa dos sonhos de Jair Bolsonaro teria Tarcísio de Freitas (Republicanos) para presidente da República e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro na vice.
Entretanto, políticos que convivem com Tarcísio de Freitas sugerem que o governador de São Paulo não tem interesse pela disputa presidencial, ao menos para 2026. Eles apontam alguns motivos da “resistência” do competente engenheiro.
Primeiro, São Paulo é mais do que um Estado — é um verdadeiro país. Seu PIB é o terceiro maior da América Latina — perdendo apenas o PIB do Brasil (primeiro) e do México (segundo), superando até a Argentina e o Chile.
Se governa praticamente um país, como ampla possibilidade de ser reeleito, em 2026, porque Tarcísio de Freitas disputaria a Presidência, correndo risco de perder para o presidente Lula da Silva, um profissional da política? O governador da terra de Mário de Andrade e de Tarsila do Amaral certamente pensa nisso com frequência.
Segundo, há outro aspecto, e quem sabe igualmente decisivo. Se for eleito presidente da República, Tarcísio de Freitas vai querer governar com autonomia. Mas será possível?
Se eleito, Tarcísio de Freitas será o presidente, mas Bolsonaro tentará ser o “primeiro-ministro”, quer dizer, o dirigente de fato. Michelle Bolsonaro, por seu turno, vai querer se comportar, não como vice, e sim como “co-presidente”.
Então, entre ser um presidente engessado — com um eminência parda mandando ou tentando mandar — e um governador com autonomia, o mais provável é que Tarcísio de Freitas faça uma opção preferencial por São Paulo, deixando o país, quem sabe, para 2030.
Sem Tarcísio de Freitas no jogo, o que fará Bolsonaro? Como se trata de um político imprevisível, não se sabe o que o ex-presidente fará. Consta que chega a pensar em lançar Michelle Bolsonaro para presidente, mas, de acordo com fontes próximas, teme que, se eleita, sua mulher governe de maneira a mantê-lo distante do núcleo do poder.
Além disso, com Michelle Bolsonaro candidata, a pancadaria será dura e não se sabe se Bolsonaro aguentaria isto.
Sem Tarcísio de Freitas e sem Michelle Bolsonaro, o que Bolsonaro e o bolsonarismo farão? Não dá para saber, é claro. Porque o jogo ainda está sendo armado.
O que se pode dizer é que, sem os dois preferidos, Bolsonaro e o bolsonarismo terão de escolher entre candidatos a presidente que, apesar de integrarem a direita, são autônomos — quer dizer, têm uma carreira política própria. Quer dizer, não são bolsonaristas.
Bolsonaro e o bolsonarismo avaliam que Ronaldo Caiado, do União Brasil, e Romeu Zena, do Novo, precisam deles para a disputa presidencial de 2026. De fato, precisam. Para se tornarem mais competitivos.
Entretanto, se Bolsonaro chegar muito desidratado em 2026 — com várias condenações e prisões de bolsonaristas, inclusive de Bolsonaro —, um político de direita ou centro-direita, como Ronaldo Caiado e Romeu Zema, pode acabar deslanchando.
Então, se hoje Ronaldo Caiado e Romeu Zema precisam do bolsonarismo, não é de duvidar que, amanhã, as coisas se invertam e o bolsonarismo precise de ambos, ou de um deles, para manter-se “vivo” na política nacional.
Bolsonaro e o bolsonarismo representam uma força política inquestionável. Não há a menor dúvida. Mas é possível que uma direita civilizada e democrática — de caráter iluminista — pode ganhar espaço na política nacional e, até mesmo, chegar à Presidência da República.
Em 2026, e até antes, Lula da Silva e uma direita democrática, para tentarem descolar, certamente irão atrás tanto dos políticos quanto dos eleitores de centro. Porque, se não tem força para ganhar de um candidato da esquerda, como Lula da Silva, e de um candidato da direita, como Ronaldo Caiado ou Romeu Zema, o centro pode ser o fiel da balança. Ou seja, para o lado que pender, de maneira enfática, pode acabar decidindo a eleição presidencial.
A direita radical — a extrema-direita — não tem o apoio do centro. Então, uma direita moderada e coerente, como Ronaldo Caiado e Romeu Zema, tem chance de absorver o centro. Se não conseguir, o centro, ao menos em parte, caminhará com Lula da Silva, que é visto, por muitos centristas, como um político moderado e equilibrado. (E.F.B.)